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quarta-feira, 5 de setembro de 2012

Em bom português: paralímpico, paraolímpico ou para-olímpico?

O facto de estarem a decorrer os jogos dá toda a pertinência a esta questão. Como vão poder constatar, este é um caso muito interessante que mostra que as línguas são organismos vivos, dinâmicos, mutáveis e... imprevisíveis!

A. Portugal
1. Em 2000, na resposta a um consulente, diz-se no Ciberdúvidas: “Nunca paralímpico, mas sim paraolímpico ou mesmo parolímpico. O segundo elemento não é susceptível de perder a vogal inicial (olímpico). Embora se veja para aí a primeira grafia, não deixa de ser (como costumo afirmar!) um mamarracho!
2. Em 2005, Margarita Correia do ILTEC também é taxativa: “Paraolímpico (e não “paralímpico”, nem “para-olímpico)”. Pode ler o texto AQUI.
3. Em 2008, também o Diário do Alentejo afinava pelo mesmo diapasão:paraolímpico, e não "paralímpico" (…).Suprimir a vogal o significaria atentar contra a integridade semântica da palavra, formada a partir de olimpíadas.
4. Em contracorrente relativamente à opinião generalizada, Pedro Mendes, numa resposta nas “Dúvidas Linguísticas” da Priberam, dizia em 2004: “As formas paraolímpico e paralímpico encontram-se ambas registadas em vários dicionários de língua portuguesa e nenhuma delas pode ser considerada incorrecta.
A forma preferencial deverá ser paraolímpico,(…).
5. No seu dicionário (de 2001), a Academia das Ciências de Lisboa regista apenas para-olímpico. Trata-se certamente de um lapso, pois esta forma de escrever não respeita as regras de uso do hífen. O prefixo para- (como in-, des- ou trans-) aglutina sempre. Logo, não pode haver hífen.
6. Atualmente, o “mamarracho” referido em 1. não só já não o é como passou a figurar em todos os dicionários e também no Portal da Língua Portuguesa.

B. Angola
O termo paralímpico já é usado oficialmente pelo menos desde 2003.

C. Brasil
1. Dos cinco dicionários consultados, apenas o Dicionário Online de Português regista paralímpico. Também o Vocabulário da Academia Brasileira das Letras ignora esta forma.
2. No entanto, há menos de um mês, em agosto de 2012, saiu na revista Veja um artigo do escritor brasileiro Sérgio Rodrigues a dar conta da entrada irreversível do paralímpico no português do Brasil (AQUI).
3. Segundo o “site” LANCE!NET, a mudança para paralímpico foi sugerida pelo International Paralympic Committee, tendo o Comité Organizador dos Jogos Rio 2016 sido a primeira instituição brasileira a adotar a nova grafia. Pode ler dois artigos sobre o assunto AQUI e AQUI.

CONCLUSÕES:
1. Não há fundamento para escrever para-olímpico.
2. Embora vá continuar a escrever paraolímpico, pelo que fica dito, parece-me que ambas as formas (paraolímpico e paralímpico) estão legitimadas tanto na norma luso-africana como na brasileira!

Notas:
1. a) Paralímpico vem do inglês paralympic (amálgama de para(plegic)+(o)lympics);
    b) Paraolímpico resulta da junção do prefixo grego para- à palavra olímpico (do grego olympikós, «de Olímpia», pelo latim olympĭcu-);
2. Os franceses (paralympique), os espanhóis (paralimpico) e os alemães (paralympishe) também navegam nas águas paralímpicas.

Abraço
AP
 

3 comentários:

  1. António,

    Eu não deixei um comentário aqui?
    Estranho, pensei que sim.

    Abraço.

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    Respostas
    1. Deixou, sim senhora! Numa postagem igual, mas no novo blogue. No http://portuguesemforma.blogspot.pt

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  2. Olá.
    Postagem divulgada no Portal Teia.
    Até mais

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