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terça-feira, 25 de setembro de 2012

Em bom português: encapuçado ou encapuzado?

Segundo uma notícia de 28/08/12 (“Voz Ribatejana”), “A Ourivesaria Rumor, situada junto ao mercado retalhista de Alverca, foi assaltada à hora de almoço de segunda-feira por dois indivíduos armados e encapuçados.
Não ponho em dúvida a veracidade da notícia. Ainda há pouco, nas notícias das 13h00, se falava de um assalto a uma caixa multibanco em Runa (Torres Vedras) por quatro indivíduos descritos como encapuzados na nota de rodapé e encapuçados nas palavras da locutora.

Em que ficamos? A resposta está na análise atenta da indumentária que os meliantes escolheram para a perpetração do crime:
1. Traziam um capucho? Eram encapuchados.
2. Optaram por uma carapuça? Sem espinhas: encarapuçados.
3. Enfiaram um capuz à pressa? Só podem ser encapuzados.
Nota: Se, num estilo requintado, se apresentaram dissimulados, com o rosto tapado até aos olhos por uma capa ou capote, eram embuçados, como no conhecido fado escrito por João Ferreira-Rosa.
E encapuçados? Talvez quando for inventado o “capuço” (ou a “capuça”)… Para já, o termo só existe na galeria dos pontapés na gramática! Com a minha professora da primeira classe (Maria Idalina Lopes Duarte), que ainda deve estar viva, pois tinha 17 anos na altura, daria direito a reguadas…

CONCLUSÃO:
Tanto no português europeu como na norma brasileira, a palavra certa é encapuzados (com as alternativas encapuchados e encarapuçados).

Comummente, os adjetivos referidos (incluindo o clandestino “encapuçado”) têm conotações negativas para a maior parte de nós. Mas as palavras são como as pessoas: as companhias são determinantes. Para descontrair, aqui deixo um extrato delicioso de Os Maias, de Eça de Queirós:
A mamã, ao ver, depois de tantos meses a chá preto, a garrafa de Clicquot encarapuçada de ouro – quase desmaiou, de enternecimento.

Sem capuz, capucho ou carapuça, deixo-vos na boa companhia da língua portuguesa.
Abraço.
AP

 

3 comentários:

  1. cada um defende a forma como fala...

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  2. “Capucho” e “Capuz” designam, segundo os bons dicionários, o mesmo objecto que no italiano se chamava e chama Cappuccio. Palavra que deu imediatamente em português “capucho” e só mais tarde, com o uso corrente, capuz: palavra muito mais fácil de pronunciar. É bom não esquecer que capucho existe há séculos: se assim não fosse nunca teriam chamado capuchinhos ao frades franciscanos, mas “capuzinhos”.
    Em resumo: capucho e capuz são ambas palavras legitimas com a mesma origem e significado, mas capucho é, claramente, mais antiga. Isto quer dizer que, durante algum tempo – meses? anos? décadas? séculos? – se usou a palavra capucho e capuz ainda não existia. Durante esse período quem usasse um capucho só poderia ser designado como “encapuchado”. Porém, as palavras, na boca do povo analfabeto daria, quase de imedito “encapuçado”. Porquê? Porque, obviamente, o som Ç é muito mais fácil de pronunciar e ouvir do que o som de CH.
    É por isso, sem dúvida, que eu sempre ouvi dizer e escrever “encapuçado”. Só há menos de dez anos, comecei a ler nos jornais e a ouvir na TV e na rádio “encapuzado”.
    Se a palavra “encapuzado” existisse há séculos, alguém precisaria de defender o seu uso? O facto de haver polémica só prova uma coisa: “encapuzado” é um neologismo, uma palavra muito recente.
    E porque diabo é que tantos “eruditos” querem “ensinar” ao povo o que ele deve falar e escrever? É muito simples: é porque não sabem que a nossa língua é muito mais antiga, tem raízes muito mais longas do que eles imaginam, e tem mecanismos próprios que não precisam deles para nada. Quando os “eruditos” se metem a mudar língua só estragam: de 5 em 5 anos mudam a ortografia e a gramática. Mas nunca submetem essas alterações a referendo. Nesse “desporto” pernicioso, gastam milhões que fazem muita falta na saúde, no ensino, na cultura, etc.
    Em inglês ainda escrevem farmácia com PH e não é por causa disso que essa língua deixou de ser a mais usada no mundo. Muito pelo contrário: se andassem sempre a mudar-lhe a ortografia talvez ela não tivesse tido tanto sucesso.

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  3. Parabéns pelo artigo! A melhor é mais sábia explicação que vi até hoje: "encapuZados" é um neologismo. Eu,que tenho 71 anos de idade,sempre (ou)vi "encapuÇados". Embora,do ponto de vista das regras linguísticas, o neologismo seja a forma correcta,a regra do 'usus' legitimou - como diz, e bem - desde há séculos, a forma anterior. Ana

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