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Um agradecimento muito especial ao meio milhão de
visitantes deste meu espaço que também é vosso!
61,5% dos leitores chegam do Brasil, seguindo-se na lista
Portugal, Estados Unidos e Angola.
Tem sido acidentado o percurso do AO. O meu olhar sobre
as novas regras ajustou-se ao longo destes três anos. O conhecimento detalhado
do texto (e respetiva nota explicativa) e a leitura de muitas opiniões (a
favor, contra e assim-assim) têm-me levado a adotar uma posição mais crítica,
embora não seja contra o AO90 nem defenda a sua revogação.
Tenho dúvidas em relação à prometida criação de uma única
norma para a regulamentação da língua, sobretudo pelas muitas diferenças que
subsistem entre Portugal e Brasil. Terá havido uma aproximação entre as normas
luso-africana e brasileira, mas não há (nem poderá haver) uma unificação.
Quanto à simplificação, foi conseguida parcialmente, mas:
a) Com
um trabalho mais rigoroso, ter-se-iam evitado exceções sem sentido. Tem lógica
ter sido abolido o acento da forma verbal para
e mantê-lo no infinitivo pôr?
b) O
mesmo se pode dizer em relação a locuções como cor-de-rosa
(trapalhada que já vem do AO45), que manteve os hífenes por ser considerada uma
das exceções “consagradas pelo uso”. Fraca justificação…
c) Nalguns
casos (infelizes!) a simplificação deu lugar à complicação. Portugal e Brasil,
à revelia do texto oficial, decidiram (em casos pontuais, mas significativos)
divergir na interpretação.
Exemplo 1 – Andou mal Portugal quando decidiu que
as exceções referidas no ponto anterior também poderiam deixar de o ser. Assim,
o Portal da Língua Portuguesa considera aceitável cor-de-rosa e cor de rosa, pé-de-meia e pé de meia,
etc. Para a Academia Brasileira de Letras, apenas é válida a grafia com hífen.
Exemplo 2 – Abusou a Academia Brasileira quando,
em relação ao prefixo co-, ignorou
a regra que determina que deve haver hífen antes de h e optou pela aglutinação em todas as situações. Assim, em
Portugal é co-herdeiro, mas no
Brasil escreve-se coerdeiro. Lindo
serviço! Nada mal, considerando que se queria unificar…
Os meus amigos e colegas professores
são quase todos contra o AO90 (mais por razões emotivas do que por motivos objetivos e
técnicos) e não compreendem a minha "neutralidade".
Além da virtude de ter posto a língua
portuguesa na ordem do dia, para mim, o mais positivo no AO é a sistematização
das regras do hífen. Embora, como vimos, possa (e deva!) haver ajustamentos, as
alterações introduzidas permitem resolver algumas omissões/incongruências das
regras do AO45 (FO 43 no Brasil). Por exemplo, escrevíamos auto-observação a par de microondas.
Com a regra que determina que se usa hífen quando o primeiro elemento termina
em vogal igual à que inicia o segundo elemento, deixou de haver discrepância
nos exemplos apresentados. Seria perfeito, não fosse co- uma exceção…
Abraço a todos!
António Pereira