Ao entrar no sítio de uma empresa de
Marco de Canaveses (onde nasceu Carmen Miranda) que produz sabonetes com água termal (Grupo Canevezes), deparei com a grafia “contatos” no menu de hiperligações. Pelos restantes
títulos, concluí que as regras do Novo Acordo tinham sido adotadas.
A queda do c em “contatos” fundamentar-se-ia
na regra mais importante da nova escrita (BASE IV: DAS SEQUÊNCIAS
CONSONÂNTICAS). Esta Base tem três efeitos em
relação ao c e p, no interior das palavras, que passo a
apresentar de forma muito simplificada:
a) Conservam-se estas consoantes que são
invariavelmente pronunciadas: adepto, pacto, rapto, sumptuoso
(no Brasil dupla grafia: suntuoso e sumptuoso), ficção, apto, etc.;b) Eliminam-se nos casos em que são invariavelmente mudas: ação, afetivo, letivo, ótimo, diretor, batizar, ator, etc. Nota: Já era assim no Brasil, desde 1943.
c) Conservam-se ou eliminam-se facultativamente quando há oscilação na pronúncia: antisséptico/antissético (no Brasil, apenas antisséptico), apocalíptico/apocalítico, carácter/caráter (no Brasil, apenas caráter), etc. Daqui resulta uma lista de algumas centenas de “duplas grafias” (cerca de 200 para Portugal e o triplo para o Brasil).
Parece complicado? Não é um assunto
simples, mas um dicionário atualizado resolve o assunto. No
http://portuguesemforma.blogspot.pt,
na secção “DICIONÁRIOS PORTUGAL”, tem acesso a dicionários online gratuitos. Ir ao Portal da Língua Portuguesa também será uma
boa opção. Clique em “Palavras alteradas em Portugal” (AQUI), na letra inicial
da palavra que quer investigar e procure-a.
Por exemplo, ao clicar na letra s,
querendo saber se a grafia “sector” foi alterada, encontrará a seguinte
informação:
Ortografia
Antiga
|
Ortografia
Nova
|
Notas
|
sector
|
setor, sector
|
Conclusão: a palavra passou a ter
dupla grafia, podendo os utentes da língua optar por sector ou setor. Esta
situação corresponde à descrição apresentada na alínea c).
Vamos ao caso de hoje. Clicando na
letra c das “Palavras alteradas em Portugal” (AQUI), não vai encontrar a
palavra "contacto", o que significa que não foi alterada pelo AO.
Resposta ao dilema: contacto. No
Brasil, há uma dupla grafia: contato (mais comum) e contacto. Para ter acesso à
lista das “Palavras alteradas no Brasil”, é só clicar AQUI.
Concluindo a história apresentada no
primeiro parágrafo, usando um
formulário online, chamei a atenção
da empresa para o lapso. Verifiquei que grafia incorreta já foi alterada para “contactos”,
mas nunca fui contactado. Forma sui generis de simpatia e gratidão…
O “obrigados” não chegou, mas o
objetivo foi atingido com a correção introduzida.Abraço.
AP
P.s. A palavra contactar também não foi alterada pelo AO. O Brasil mantém a dupla grafia que já tinha: contatar/contactar.
Olá António,
ResponderExcluirComo está?
Já se esqueceu de mim, está bom de ver.
Olhe que eu, tenho acompanhado, com bastante regularidade, os seus ensinamentos, sempre úteis.
Esta do contacto, está gira e muito bem explicada. Professor, e de Português, é assim mesmo.
Então, "obrigadas" (vamos imaginar que somos duas).
Beijo, porque, hoje, é domingo (agora já não se escreve com letra maiúscula, pois não?).
Luz.
Como poderia esquecer-me da Luz e da sua luz?
ResponderExcluirA menina é que fez uma pausa nas suas escritas...
Espero que, apesar da ausência, tudo esteja bem consigo.
Porque hoje é domingo (já era com minúscula...), segue a retribuição do beijo que teve a gentileza de deixar na minha humilde caixa de comentários!
AP
Olá António,
ResponderExcluirQue simpático e que cortês!
É já noite dentro, mas gosto de escrever fora de horas.
Ah, não me esqueceu! Muito bem. Costumam dizer que a memória dos homens é curta e seletiva. Será?
Está tudo bem, comigo, graças a Deus.
E consigo?
As obrigações valem mais que as devoções. Foi o meu caso.
Domingo já se escrevia com "d" minúsculo. Ando tão desatualizada!
Então já leu o meu poema? Gostou? Tem dança do ventre e tudo.
Resto de excelente noite.
Abraços da Luz.
Obrigado pelo esclarecimento!
ResponderExcluirE aí, pegou?
ResponderExcluirSempre eu vejo afirmarem que no Brasil utilizam mais a grafia "contatar" em detrimento da "contactar", o que não é verdade. Pois tanto no Norte e Nordeste quanto no Centro-Oeste e parte do Sudeste, além do Distrito Federal brasileiro, usa-se "contactar". Acho que os únicos que usam "contatar" são os paulistas e os sulistas. Uma vez que até mesmo no Rio de Janeiro os nativos falam "contactar".
ResponderExcluirResumindo... a fala dos paulistas não representa o Brasil como um todo nessas questões. Mas infelizmente é o que costumam postar nos dicionários e portais virtuais.
Algumas empresas paulistas, quando sem vem ao Nordeste brasileiro, ficam a insistir nos treinamentos de pessoal que os nativos por cá falem "contatar", o que soa pra lá de estranho a nós.
Este comentário foi removido pelo autor.
ExcluirMeu caro Lord Chrys:
ExcluirNão ponho em causa as informações que inclui no seu comentário, uma vez que não vivo no Brasil. Por uma questão de rigor, temos de utilizar fontes de referência como os dicionários e o VOLP da Academia Brasileira de Letras. Foi o que fiz.
Cumprimentos.
António Pereira
..."Brasil utilizam mais a grafia "contatar..."
ResponderExcluirMais, tomando como certa a afirmação acima, e sendo justamente no sul do país que está a maior parte da população, é correto afirmar que no Brasil utiliza-se mais a grafia contatar.
Caro anónimo:
ExcluirObrigado pelo comentário que vem corroborar as conclusões que apresento no artigo.
Abraço.
Grrrrrr...
ResponderExcluirDiz-se Egipto e não Egito!
O leitor poderá dizer como quiser. Segundo o AO, deve dizer-se Egito!
ExcluirCumprimentos.
AP
Bom dia Exmo. António,
ResponderExcluirAntes de mais quero agradecer a criação deste blog, pois é bastante útil.
Tenho uma dúvida que poderá esclarecer: a palavra connosco sofre alguma alteração?
Obrigado.
1 abraço.
Olá, João!
ExcluirObrigado pela suas palavras, que são um estímulo para o meu trabalho.
Respondendo à sua dúvida, não há alteração na palavra que indica: continua a ser "connosco" em Portugal e "conosco" no Brasil.
Abraço.
António (sem Exmo.)
Olá António,
ResponderExcluirInfelizmente esse AO deturpou a língua de Camões . As palavras com derivativos não deveriam perder as consoantes. Exemplo : Egipto > Egipcio , Secção > seccional etc.
Olá, Eliana!
ExcluirA língua portuguesa já sofreu inúmeras “deturpações” desde a época de Camões…
A questão que levanta de mantermos as consoantes em palavras da mesma família é levantada por muita gente.
No entanto, a questão da etimologia não é de agora.
1. A reforma de 1911 em Portugal (adotada no Brasil cerca de 20 anos depois) seguiu a via da simplificação, tendo o critério fonético levado à queda de várias consoantes não pronunciadas: sciencia > ciência (latim: scentia-); prompto > pronto (latim: promptu-); dipthongo > ditongo (latim: dipthongu-).
2. O Formulário Ortográfico de 1943 (apenas aplicado no Brasil) ainda foi mais longe: óptimo > ótimo (latim: optimu-); excepto > exceto (latim: exceptu-); director > diretor (latim: directore); acção > ação (latim: actione), etc.
Quanto a haver palavras da mesma família com grafias diferentes como em Egito e egípcio (o critério fonético determinou a diferença), também não é uma situação nova na língua. Já escrevíamos, por exemplo, “chumbo” (latim: plumbu-) e “plúmbeo”, “chama” (latim: flamma-) e “flamejante”, “joelho” (latim: genuc(u)lu ) e “genuflexão”, etc.
As histórias da evolução da língua e das reformas ortográficas (por vezes forçadas e determinadas por razões políticas) são complexas .
Tínhamos uma língua perfeita, lógica e respeitadora da etimologia até há pouco tempo e o AO que veio deturpá-la? A história da língua portuguesa mostra que não é assim. Como já referi, a oficialização da “deturpação” tem mais de 100 anos e se quisermos recuar ainda mais no tempo, quase podemos dizer que ela vem do século III A. C. quando os Romanos invadem a Península Ibérica e disseminam o seu latim vulgar, bem popular e “deturpado”…
Claro que os movimentos e opiniões anti-AO são legítimos. Não sendo contra, divulgo-o numa perspetiva crítica, pois há erros e inconsistências no texto do AO. No entanto, reconheço-lhe vantagens na sistematização das regras do hífen e no uso de maiúsculas e minúsculas.
Abraço e bom 2014!
António Pereira
P.s. Nada a impede de continuar a escrever secção e seccional, uma vez que há uma dupla grafia no Brasil (que já existia antes do AO).
Excelente trabalho António Pereira.
ResponderExcluirAinda tenho muitas dúvidas quando estou a escrever e procuro esclarecer-me sempre o melhor possível. Muitas vezes venho aqui parar, a este blog, e fico inquestionavelmente esclarecido. Quanto ao acordo e toda esta discussão em seu torno a minha opinião é de concordância em relação à evolução, que neste caso me parece que vai no sentido da simplificação. O tempo não anda para trás!
Parabéns pela sapiência e pelo trabalho aqui disponibilizado.
Fernando Dias
Algarve
Caro António
ResponderExcluirEncontrei este blog durante uma busca, entrei, gostei, servi-me e agora resta-me agradecer.
Ainda bem que há pessoas que dedicam parte do seu tempo com trabalho que ajuda outros...
Obrigado e até breve.
António Heitor em Bremen