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terça-feira, 31 de julho de 2012

Em bom português: Pirinéus ou Pirenéus?

Embora a pronúncia pareça legitimar a grafia Pirinéus, a única forma correta para designar  esta cadeia de montanhas é... Pirenéus.
Se observarmos atentamente a sua origem grega (Pyrenaîa), torna-se óbvia a lógica desta forma de escrever a palavra.

CONCLUSÕES:
1. Na  norma luso-africana, devemos escrever Pirenéus.
2. Não cheguei a nenhuma conclusão segura sobre o que determina a norma brasileira.
Em blogues brasileiros encontrei, com muita frequência, "Pirinéus", "Pirineus" e "Pireneus". A Academia Brasileira das Letras não regista o topónimo, mas consagra o adjetivo "pirenaico" e não "pirinaico". Por outro lado, no texto do acordo, promulgado, com o DECRETO Nº 6.583, DE 29 DE SETEMBRO DE 2008, por Lula da Silva, encontramos, na Base XV, o exemplo "aquém-Pirenéus".
Assim sendo, inclino-me para que, também no Brasil, a grafia adequada seja Pirenéus.

Abraço.
AP

segunda-feira, 30 de julho de 2012

.diospiro ou dióspiro?

Sempre disse e escrevi diospiro. No entanto, consultando vários dicionários, verifiquei que todos registam dióspiro, mas nem sempre diospiro. A opção pela esdrúxula (proparoxítona) está em conformidade com o étimo grego (dióspyros, “alimento de Zeus”), mas…
CONCLUSÕES:
A. Considerando o que estipula o Portal da Língua Portuguesa, podemos dizer que, na norma luso-africana, é lícito usar ambos os termos: diospiro e dióspiro.
B. A norma brasileira consagra apenas a forma dióspiro. Nem os dicionários que consultei nem a Academia Brasileira das Letras registam diospiro. Por outro lado, no Brasil também se diz caqui para designar este fruto.

Seja qual for a sua  opção, consuma este fruto sem moderação. Para além da ação antioxidante, contém magnésio, ferro, zinco, cobre e manganésio e uma apreciável quantidade de vitamina C.
Se tiver ao dispor alguns espécimes bem madurinhos, corte-os ao meio, retire a polpa com uma colher sopa e sirva-a fresca e borrifada com um pouco de moscatel (de Setúbal, claro!). Uma delícia!

Boa semana!
AP

domingo, 29 de julho de 2012

Em bom português: alibi ou álibi?

1. Na única resposta sobre o assunto, em 1997, o Ciberdúvidas considera: “Álibi – é esta a grafia correcta.
2. O dicionário da Verbo e o Grande Dicionário da Porto Editora (tal como os dicionários online da Priberam e Infopédia) registam apenas a forma álibi.
Assunto encerrado? Isso é que era bom… mas não vai ser!
3. Tanto o Dicionário da Academia das Ciências como o Portal da Língua Portuguesa apresentam as duas formas alibi e álibi.
4. A Academia Brasileira das Letras e os dicionários brasileiros que consultei remetem para uma única grafia: álibi.

CONCLUSÕES:
A. Considerando o peso das fontes que indicam duas formas, podemos dizer que, na norma luso-africana, é correto usar alibi e álibi.
B. A norma brasileira parece aceitar apenas álibi.

Bom resto de domingo!
Já de seguida, vou preparar um dos meus petiscos de eleição: caracóis cozidos (com orégãos, claro!), a acompanhar com sangria de espumante.
Vosso,
AP

sábado, 28 de julho de 2012

Receita 15: macarronada de marisco

Esta é mais uma deliciosa receita testada nos cinco dias passados em Troia (Setúbal), com os mariscos que fui apanhando em função do ritmo das marés.
Pode ser confecionada com qualquer marisco. Neste caso, fiz com conquilhas, amêijoas, berbigões e canivetes (tudo fresquíssimo, colhido no próprio dia).
                                                                            Antes...
Macarronada de marisco
Ingredientes:
.1 kg marisco com casca
.300 gramas de macarrão
.2 tomates grandes bem maduros
.1 pimento verde grande
.3 dentes de alho
.azeite (5 colheres de sopa)
.salsa e pimenta preta
IMPORTANTE: Não use sal na receita!

Preparação
Nota prévia: se, como eu, tiver apanhado o marisco, deixe-o a limpar num alguidar com água do mar, durante um mínimo de 6 horas.
1. Leve os bivalves ao lume com meio copo de água. Tape o tacho e vá verificando até terem aberto (cerca de 5 minutos).
2. Tire-os da casca, coe o caldo e reserve.
3. Num tacho antiaderente, leve ao lume o azeite e os alhos esmagados durante 3 minutos, mexendo sempre.
4. Junte os tomates cortados aos cubos (sem pele nem sementes), os pimentos cortados às tiras e deixe apurar 10 minutos.
5. Junte os bivalves, 1 copo do caldo reservado no ponto 2. e 1,5 copos de água, a salsa picada e a pimenta.
6. Quando levar fervura, junte o macarrão e deixe cozer durante 10 a 12 minutos, consoante aprecie as massas bem cozidas ou mais al dente. Sendo necessário, acrescente mais água durante a cozedura.
7. Desligue, tape o tacho e deixe repousar 3 minutos.
8. Sirva e delicie-se! Ficará mais ou menos assim:
                                                                       ... e depois!
Ideias para servir:
Acompanhe com cerveja, vinho branco, rosé ou verde ou espumante.

Bon appétit!
AP


Em bom português: derivado a ou derivado de?

Este é um clássico! É comum ouvirmos “derivado à chuva”, “derivado ao trânsito”, etc.
Os exemplos acima apresentados são causas e significam “por causa de”. Devemos dizer, para exprimir a causa, DEVIDO A.
Derivado (adjetivo participial) pede sempre a preposição de. Refere-se à origem e é sinónimo de “(pro)vindo”. Exemplo: Produtos derivados do petróleo.
Conclusão: Em bom português, devemos dizer DEVIDO A e DERIVADO DE.

Bom resto de sábado para todos!
AP

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Em bom português: controle ou controlo?

Em 1997, um consulente apresentou esta pergunta ao Ciberdúvidas:
Qual a forma correcta, controlo ou controle? Ou serão as duas aceitáveis?
Transcrevo parte da resposta:
Controlo, s. m., conforme a feição portuguesa que lhe deu o uso. Galicismo - do fr. contrôle - há muito assim dicionarizado, na linha do que ensina Rodrigues Lapa na sua "Estilística da Língua Portuguesa" (ed. Seara Nova), a propósito dos neologismos.(…)”

Embora costume escrever controlo, tanto os dicionários online como os de papel registam as duas formas. Ou seja, podemos escrever controlo ou controle.
Quanto à pronúncia, o dicionário da Academia das Ciências indica que nos dois casos o o se pronuncia fechado (ô). Já o Grande Dicionário da Porto Editora considera que controlo é com o fechado e controle pode ser com o fechado ou aberto. Esta última perspetiva aproxima-se mais do uso.
Temos muitos outros de casos de palavras também provindas do francês com duas grafias: equipe/equipa, camionete/camioneta, avionete/avioneta, omelete/omeleta, trotinete/trotineta, etc.

NOTA: No Brasil, em geral, há uma tendência para optar pelas formas mais próximas do francês. A confirmá-lo, a Academia Brasileira das Letras e os dicionários brasileiros que consultei registam apenas controle. Creio que a pronúncia é com o fechado, mas não tenho a certeza absoluta. Se algum dos muitos amigos brasileiros que por aqui passam quiser dar uma ajuda, desde já, agradeço.

Até amanhã!
AP

quinta-feira, 26 de julho de 2012

.ovelha ranhosa ou ovelha ronhosa?

No Ciberdúvidas, Sandra Duarte Tavares, em “10 grandes equívocos da língua portuguesa”, diz: “Equívoco 10 A uma pessoa indesejável (numa família, por exemplo) designamos «ovelha "ranhosa"». Pode ler o artigo completo AQUI.
E é mesmo um equívoco, pois a única designação correta é “ovelha ronhosa. Ronhosa forma-se a partir de ronha e não de ranho.
Nada disto impede que uma qualquer infeliz ovelha se constipe e fique ranhosa, mas são contas de outro rosário!

Fiquem bem!
AP

Receita 14: berbigão à espanhola

Aproveitando as marés favoráveis, pude fazer uma excitante e abundante recoleção de mariscos de casca: berbigões, conquilhas, canivetes e algumas amêijoas. Estando num apartamento, pude confecionar deliciosas receitas. Aqui deixo a primeira.
Colheita na Troia, na zona da praia do Bico das Lulas
Berbigão à espanhola
Ingredientes:
.1 kg de berbigão fresco com casca
.3 tomates grandes bem maduros
.2 cebolas grandes
.azeite (5 colheres de sopa) e vinho branco (5 colheres de sopa)
.salsa e pimenta preta
IMPORTANTE: Não use sal na receita!

Preparação
Nota prévia: se, como eu, tiver apanhado os berbigões, deixe-os a limpar num alguidar com água do mar, durante um mínimo de 6 horas.
1. Num tacho, leve ao lume o azeite e as cebolas (cortadas às rodelas) durante 4 minutos, mexendo sempre.
2. Junte os tomates esmagados (sem pele nem sementes) e deixe ferver 5 minutos.
3. Acrescente a salsa picada, a pimenta e o vinho. Deixe apurar durante mais 10 a 15 minutos.
4. Junte os berbigões, tape e vá agitando o tacho, evitando que agarre ao fundo. Ao fim de cerca de 15 minutos deverá estar pronto.
5. Ponha numa travessa e leve à mesa, assim:
Segundo a minha mulher, estavam de-li-ci-o-sos!
Ideias para servir:
1. Vá pondo berbigão com molho em fatias de pão alentejano e faça a felicidade das papilas gustativas.
2. Acompanhe com cerveja, vinho branco, rosé ou verde.

Bon appétit!
AP

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Em bom português: esparregata ou espargata?

Depois de cinco dias na belíssima Troia (Setúbal), aproveitando uma excelente promoção, estou de volta às questões da nossa linda (mas muito temperamental…) língua portuguesa.
Para variar, trago-vos um caso claro como as águas do oceano que banha a península de Troia.
A resposta ao dilema é, sem margem para dúvidas, espargata (do italiano spacatta*1), embora seja comum ouvirmos e lermos esparregata.
Até amanhã.
Vosso,
AP
*1 – Do verbo spaccare (rachar).
 Nota: Sobre esta palavra, pode ler um interessante artigo de Miguel Esteves Cardoso (“Espargata espargueta”) AQUI.

quinta-feira, 19 de julho de 2012

.câmera ou câmara?

Mais um caso complicado!
1. O Grande Dicionário da Porto Editora e o Dicionário Verbo registam apenas câmara.
2. O Dicionário da Língua Portuguesa da Academia das Ciências regista ambas as palavras. Apresenta câmera  como um brasileirismo, significando máquina de fotografar ou filmar, aparelho de captação de imagens televisivas e a parte opaca que constitui o corpo da máquina fotográfica.
3. Tanto no Portal da Língua Portuguesa como na Academia Brasileira das Letras encontramos as duas formas sem qualquer observação.
4. O dicionário online da Priberam, ao contrário do da Porto Editora, que só contém câmara, dá-nos câmera como sinónimo de câmara.
5. O FLIP, na sua rubrica “Dúvidas Linguísticas”, para além de referir a coexistência de dois étimos no latim (camera e camara ), diz:
No português, mantiveram-se os dois radicais, sendo que, segundo o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa, a grafia câmera é um brasileirismo, utilizada apenas num conjunto restrito de sentidos, sendo câmara a grafia do português europeu. Esta informação não é corroborada pelo Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, que remete a grafia câmera para câmara, sem indicar que se trata de brasileirismo, referindo no entanto que a forma com -e- é de uso corrente, especialmente nas acepções de "dispositivo ou aparelho óptico". É de referir ainda que, apesar de a forma câmara ser estatisticamente mais usual em Portugal, encontram-se na oralidade muitas ocorrências de câmera. Além disso, há derivados de câmera, como bicameral, por exemplo, que não têm o equivalente com -a-.
CONCLUSÕES:
1. Parecem-me aceitáveis as duas grafias, tendo câmera uma utilização mais restrita: apenas quando nos referimos ao aparelho de filmar/fotografar. Nunca, por exemplo, para nos referirmos à Câmara Municipal ou à câmara de gás.
2. No Brasil, o termo câmera parece ser mais utilizado do que em Portugal, mas também apenas na aceção referida no ponto anterior, como podemos comprovar nesta transcrição do dicionário brasileiro Michaelis:câmera sf (gr kamára, via lat camera) 1 Aparelho iconoscópico destinado a captar imagens e transformá-las em impulsos elétricos a serem transmitidos pelas emissoras de televisão. 2 V câmara. sm Indivíduo que opera com uma câmera. C. digital, Inform: câmera de vídeo que armazena imagens na forma digital. A luz da imagem é convertida em milhares de pixels individuais, que armazenam a intensidade da luz naquele ponto como um número. C. de rastro, Inform: câmera montada em um estande sobre uma base e usada para filmar um trabalho de arte ou para se mover sobre ele (filmando).
Os restantes sentidos estão na entrada câmara (http://michaelis.uol.com.br).
3. No português europeu, podemos dizer e escrever a palavra câmara em todos os contextos. Se é professor/educador, acho que é de aceitar a forma câmera nas situações referidas em 1.

Se vai de férias, não se esqueça da sua câmara/câmera!
AP

quarta-feira, 18 de julho de 2012

Portugal desvinculado do Acordo Ortográfico?

O professor da Faculdade de Direito de Lisboa, Ivo Miguel Barroso, defende que a Assembleia da República deve aprovar uma norma que desvincule o Estado Português do Acordo Ortográfico em vigor.
Ivo Miguel Barroso defende esta posição numa fundamentação da queixa contra o Acordo Ortográfico (AO), que entrega esta semana na Provedoria da Justiça.
"A Assembleia da República deve repor a normatividade violada, operando um autocontrolo da validade, fazendo aprovar um ato que, reconhecendo a inconstitucionalidade das normas contidas no AO e, também, na Resolução parlamentar n.º 35/2008, retire eficácia a essa, autodesvinculando o Estado português", lê-se no documento a que a Lusa teve acesso.
Ivo Miguel Barroso argumenta também que os cidadãos "gozam direito de resistência" ao acordo, referindo o artigo 21.º da Constituição Portuguesa, e também "de objeção de consciência e do direito genérico de desobediência a normas inconstitucionais".
Numa fundamentação de 275 páginas o professor da faculdade lisboeta apresenta argumentos pelo "demérito do AO" pela "violação de regras extra-jurídicas da variante do português de Portugal".
Segundo Barroso, o "AO não assenta em nenhum consenso alargado" e "não serve o fim a que se destina - a unificação ortográfica da língua portuguesa". Artigo completo AQUI.


Comentário:
Mesmo considerando as inconsistências do texto do AO e a forma descoordenada como tem sido feita a sua divulgação, não me parece que o parecer de Ivo Barroso tenha “pernas para andar”. Basta ler este extrato do que disse Francisco Viegas, Secretário de Estado da Cultura, em 7/3/12, ao semanário Expresso:
"Tal não significa, porém, que o AO esteja em causa, tal como não está a vontade expressa de aproximação dos Estados envolvidos. Nem faria sentido, neste momento e depois dos avultados investimentos que os sectores público e privado realizaram nas nossas escolas, voltar atrás nas decisões essenciais sobre o AO. De resto, a resolução do Conselho de Ministros de janeiro de 2010 resulta de um diálogo entre diversos países e instituições académicas e o AO está em vigor desde janeiro de 2012 em todos os organismos sob tutela do Estado."


NOTA COMPLEMENTAR:
A situação que tivemos em 1943 é diferente da atual. Nessa altura, depois de as autoridades do Portugal e do Brasil terem redigido o texto que ficou conhecido como Formulário Ortográfico, no momento de o colocar em vigor, Portugal "roeu a corda". Ora o texto do AO entrou em vigor em 2009 (em janeiro no Brasil e em maio em Portugal).
O que levou as autoridades portuguesas a recuar em 1943 foi a Base IV, ponto 16, que previa o desaparecimento de todas as consoantes não pronunciadas:
"Não se escrevem as consoantes que se não proferem: asma, assinatura, ciência, diretor, ginásio, inibir, inovação, ofício, ótimo, salmo, e não asthma, assignatura, sciencia, director, gymnasio, inhibir, innovação, officio, optimo, psalmo.
Observação - Escreve-se, porém, o s em palavras como descer, florescer, nascer, etc., e o x em vocábulos como exceto, excerto, etc., apesar de nem sempre se pronunciarem essas consoantes.
"

Quando, dois anos mais tarde, se avançou para a Norma de 1945, foi o Brasil a recuar, considerando que não fazia sentido reintroduzir as consoantes c e p não pronunciadas retiradas em 1943 (como em diretor e ótimo). Até à entrada em vigor do AO, Brasil seguia o Formulário de 43, enquanto nós nos regíamos pela Norma de 45.
É por esta razão que alguns linguístas defendem que só devemos chamar Acordo ao texto atual, uma vez que:
a) Em 1911 tivemos uma Reforma redigida por Portugal (que o Brasil, depois de vários avanços e recuos, adotou nos anos 30);
b) Os textos de 1943 e 1945, produzidos por equipas luso-brasileiras, nunca estiveram em vigor em ambos os países. Portugal recusou o de 43 e o Brasil não aceitou o de 45. Ou seja, o Acordo no papel nunca o foi no terreno.

 Abraço do AP.

terça-feira, 17 de julho de 2012

.on-line, online ou on line?

Para esta pergunta, encontramos no Ciberdúvidas a seguinte resposta (datada de 19-05-1998):
[Resposta] Em português, a expressão correcta é em linha. Todas as outras são estrangeirismos, tenham ou deixem de ter hífen. A. Caffé


Trata-se de uma perspetiva purista (desfasada da realidade que o uso moldou) que não responde à questão. Vamos aos factos, antecendendo as conclusões.
1. A dúvida entre on-line e online é comum entre os falantes de língua inglesa. Encontramos ambas as versões em dicionários ingleses, embora nem sempre simultaneamente. Não encontrei on line.
2. Nos dicionários portugueses, encontrei como estrangeirismos: on-line no dicionário da Academia das Ciências e on-line/online na Porto Editora e no Portal da Língua Portuguesa.


CONCLUSÕES:
A. Na norma luso-africana, para além da tradução em linha, podemos usar on-line e online (sempre com aspas ou em itálico, pois são estrangeirismos).
B. A Academia Brasileira das Letras regista no VOLP, como estrangeirismo, o termo on-line. Encontrei online no dicionário Michaelis e on-line no Aulete.
Uma leitora do blogue deixou esta mensagem na caixa de comentários:
"Aqui no Brasil não temos costume de usar a forma "em linha". Normalmente utilizamos on-line ou online." Obrigado, Regina!
Abraço.
AP

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Em bom português: mau-estar, mal-estar ou ambas?

Desta vez, trago-vos um dilema simples de resolver, o que é uma raridade na língua portuguesa...
Para a resposta, transcrevo a mensagem publicada, em 5/05/2009, no blogue (que recomendo) http://linguamodadoisec.blogspot.pt:
Mal-estar ou mau-estar?
Quando sentimos uma indisposição ou um incómodo, devemos dizer que sentimos um mal-estar ou um mau-estar?
Por hipótese, a palavra estar poderia coocorrer com o adjectivo mau, uma vez que é, neste composto, um nome, formado por conversão a partir do verbo estar.
Porém, a expressão consagrada pelos dicionários é mal-estar, palavra composta pelo advérbio mal e pelo nome estar, que ainda conserva traços verbais (ou seja, invertendo os elementos, teríamos: «estar mal»).
Mas há um argumento ainda mais forte! Reparem que a expressão oposta é bem-estar e não bom-estar!
Por S. Duarte às 11:37
Boa semana!
AP
Nota: Também para o Brasil, a norma determina que mal-estar é a forma correta. E o plural, qual é? Ei-lo: mal-estares!

domingo, 15 de julho de 2012

Em bom português: safari ou safári?

Já tinham saudades de um caldinho à moda da língua portuguesa? Então, trago-vos um belo safari/safári (do árabe sáfara, «viajar»). Sendo uma viagem atribulada, vamos por etapas:

1. O Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa e o Grande Dicionário Língua Portuguesa, da Porto Editora, dão-nos safari, enquanto o Dicionário Verbo se fica por safári.
2. Nos dicionários online, enquanto a Priberam apresenta as duas formas safári/safari, a Porto Editora regista apenas safári.
3. O Portal da Língua Portuguesa regista apenas safari, enquanto a Academia Brasileira das Letras apresenta unicamente safári.
4. O FLIP, na rubrica “dúvidas linguísticas”, dando conta da oscilação de perspetivas referida nos pontos anteriores, centra-se no Dicionário Houaiss como sendo aquele que tem a análise mais adequada: “Apesar de ser corrente a pronúncia desta palavra como grave (e muito rara a pronúncia como palavra aguda), dos dicionários publicados em Portugal, apenas o Dicionário Houaiss (Lisboa: Círculo de Leitores, 2002) regista a forma safári *1 (sendo a transcrição fonética [sa'fari], com acento tónico na penúltima sílaba), registando também a forma safari, mas como estrangeirismo. Esta opção parece ser a que mais se adequa à descrição do uso da palavra. (Helena Figueira, 26-Abr-2007).”
*1- Não é apenas o Houaiss a registar safári, uma vez que já encontramos essa versão na edição de 2006 do Dicionário Verbo que tenho cá em casa.
 
 
CONCLUSÕES:
1. Com base na Academia Brasileira das Letras e em todos os dicionários online (norma brasileira) que consultei, há apenas uma grafia para o Brasil: safári (palavra grave/paroxítona).
2. Para a nossa norma, safari (palavra aguda/oxítona) parece ser a versão a preferir. No entanto, a opinião da Priberam e do Dicionário Verbo levam-me a aceitar para o português europeu safari e safári.
Bom resto resto de domingo para todos!
AP

sábado, 14 de julho de 2012

.organograma ou organigrama?

Mais um caso a provar que a língua portuguesa não é uma "pera doce"...

1. O Ciberdúvidas, embora referindo que  organigrama (adaptação do francês organigramme) está registado em várias fontes, defende que organograma é a forma recomendada e a que mais se aproxima dos elementos gregos que compõem ['órgano(n)', «órgão» + 'grama', «escrito», «registo»].
2. O Grande Dicionário da Língua Portuguesa (Porto Editora) e o Dicionário Verbo da Língua Portuguesa apresentam as duas palavras como sinónimas.
3. Tanto o Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa como o Portal da Língua Portuguesa apresentam organigrama como fazendo parte da norma luso-africana, associando organograma à norma brasileira.
4. O Vocabulário da Academia Brasileira das Letras, na mesma linha da nossa Academia e do Portal, só regista... organograma!

Mas que grande imbróglio!

CONCLUSÃO: Conclusão propriamente não há. No entanto, a divergência de perspetivas de fontes tão idóneas como as que acabei de referir legitimam que se possa dizer organograma ou organigrama.

Como ou sem organograma/organigrama, continuação de bom fim de semana!
AP

Novo Acordo: texto dedicado a Vasco da Graça Moura...

Transcrevo, com a devida vénia, a mensagem publicada no blogue suite de ideias em 21/2/12:


Este artigo foi escrito por Henrique Monteiro no Atual de sábado passado.

Dedicou-o a Vasco Graça Moura e a todos os opositores do Acordo Ortográfico. (...)

A minha adesão ao Acordo Ortográfico (AO) tem a ver simultaneamente com confiança e humildade. Confio na sabedoria de quem o fez (não na sua infalibidade) e sou suficientemente humilde para reconhecer que muitos aspetos que dizem respeito à etimologia e à fonética, tais como outros menos relevantes para este caso, me escapam. Além da confiança e respeito por nomes como Lindley Cintra ou António Houaiss, de que não vejo muita gente comungar, mas antes desprezar, dediquei eu próprio algum tempo ao assunto. E, uma vez que faço da escrita a minha profissão há mais de 30 anos, penso ter algo a dizer.
Rodrigues Lapa, que foi um mestre da língua portuguesa, filólogo distinto, sustinha que as mudanças de ortografia eram sempre violentas. Esta asserção é hoje inteiramente justificada pela quantidade de pessoas que apenas se opõem ao Acordo "porque sim" - sem quaisquer argumentos.
A verdade é que ninguém se conforma, depois de ter sido obrigado a pôr um "p" em ótimo, agora lhe dizerem que esse "p" (no qual nunca encontrou utilidade) não faz falta. Há quem argumente com esse pai tirano, o latim, e com a etimologia da palavra optimus. A palavra sem o "p" perderá a identidade. Alguns enxofram-se e dizem que lhes matamos o português! Mas qual português, Santo Deus (ou melhor diria Sancto Deus?). O português do assucar ou do açúcar? O de Viseu ou Vizeu?
"Philosophia", "pharmacia" ou "phleugma" também terão perdido essa identidade (para filosofia, farmácia ou fleuma)? Ora, o facto de o "phi" grego deixar de se distinguir do "f" na grafia não me parece ter provocado dano ao idioma. Mas há, insistem, o problema do fechamento das vogais. Ou seja, a mania portuguesa (que não brasileira, angolana ou moçambicana) de comer as vogais. Este argumento é o que afirma que passaremos" a dizer "aspêto" em vez de "aspéto", uma vez que a retirada do c fecha a vogal. Pode parecer um argumento poderoso, mas não é. Não dizemos "Mêlo" desde que o apelido deixou de se escrever "Mello" ("Vasconcellos" ou "Sampayo" também se dizem do mesmo modo).
Reparem - e repare o execelente poeta e tradutor, a quem o texto é dedicado - que a forma de acentuar nada ou pouco tem a ver com o modo de escrever, mas sim com o modo de ouvir. Logo ele, que nasceu na Foz do Douro, bastava-lhe andar até à Ribeira para ouvir dizer "Puârto" e muitas outras coisas que foram morrendo com a voragem unificadora fonética da televisão. No norte dizia-se "baca" sendo a palavra com "v"; e o macho da "baca" era "voi" apesar de lá estar um"b". Mais estranho: em Lisboa sempre se disse "contiúdo" apesar do "e", ao contrário de Coimbra e Porto onde se diz "contêúdo". Em Lisboa, "ôito", "dezóito", "vinte e ôito"; no Porto, "óito", "dezôito" e "vinte e óito". E sempre se escreveu da mesma forma... Aliás, segundo a professora Maria Helena da Rocha Pereira, o fechamento das vogais pré-tónicas começou em Portugal em finais do século XVII ou princípios do século XVIII - ainda não havia acordos nenhuns.
Agora, se me perguntarem por que razão em 1911 "pae" passou a "pai" e "mãi" passou a "mãe" (como até hoje se escreve) não sei dizer, do mesmo modo que me irrita o "espetador" no acordo atual. Mas a propósito daqueles que juram que "espetador" não distingue o que assiste a um espetáculo de um picador de gelo, refiro a frase: senti os pelos eriçarem-se pelos braços. E eis que toda a gente compreende onde está o quê. Ainda sobre as confusões e fechamentos e aberturas de vogais, vejam a frase: "Gosto particularmente do teu gosto" - quando a leem dizem (pelo menos os cultos, como o presidente do CCB) "gósto" e "gôsto" instintivamente. Como em "Faz força e força aquela porta" sabem que primeiro é "fôrça" e depois "fórça".
Permitam-me, ainda, referir que, durante a minha vida, "sòzinho" ou "sòmente" perderam o acento. Pois bem, nunca notei qualquer inflexão (para "suzinho" ou "sumente") no modo de pronunciar aquelas e muitas outras palavras (advérbios de modo e diminutivos) a que aconteceu o mesmo.
Há ainda os que afirmam não gostar do acordo por razões estéticas. É aceitável. Mas a ortografia, sendo uma representação, não pode agradar a todos, e menos ainda reproduzir a pluralidade (e até pessoalidade) de pronúncias e modos de dizer. Exigi-lo seria como pedir a um pintor que pintasse o céu não como ele o vê, mas como cada um de nós, pessoalmente, o vê. Tarefa impossível.
Posto isto, o AO é importante porque aproxima da fonética uma série de palavras. E fá-lo, pela primeira vez, em função de um idioma que, sendo português, é também propriedade, matriz e identidade de outros povos e de outras latitudes. Cedemos? Não sei, nem me importa. Não quero uma língua para me distinguir do Brasil. Prefiro uma que me aproxime. E quem diz Brasil, que tem 200 milhões de falantes, diz naturalmente Angola, Moçambique, Guiné, Cabo Verde, São Tomé e Timor.
Respeito o argumento de que a língua deve evoluir por ela, sem intervenção governamental. Creio, no entanto, que deve haver uma única e determinada ortografia nos manuais escolares e nos documentos. Ainda que cada escritor (como cada editora ou jornal) prefira o seu modo de escrever (Pessoa nunca respeitou o acordo de 1911), a ortografia escolar e oficial não poder ser espontânea nem à vontade do freguês. Acrescento que, curiosamente, nenhum de nós (ou quase) lê Pessoa (nem Eça, nem Camilo, nem sequer Aquilino ou Nemésio) na ortografia que os autores escolheram, assim como, apesar de usarmos a língua de Camões, há muito que não grafamos as palavras como ele ("Armas & os barões" ou "Occidental praya"). Quero com isto dizer que um jornal, uma editora, um escritor ou um Centro Cultural de Belém que não adira ao AO, ver-se-á, a breve prazo, a braços com uma escrita anacrónica... E um dia, tal como Pessoa ou Camões, será lido com a ortografia que então estiver em vigor.
Eis porque fui um dos entusiastas, na altura como diretor do Expresso, da utilização do AO nas publicações do Grupo Impresa. Eis porque não aceito que uma lei discutida durante mais de 20 anos seja constantemente colocada em causa. Ou que os opositores do AO esqueçam sistematicamente que a forma como escrevem resulta também de um AO imposto por lei.
Não vale a pena pensarmos que cada geração tem a pureza da grafia. O que pensar de Marco Túlio Tiro que, para poder transcrever os discursos de Cícero, abreviou diversas palavras com sinalética que até hoje usamos (etc., v.g., e.g.). Talvez o mesmo que muitos pensam das abreviaturas feitas pelos jovens nos telemóveis e redes sociais. E, no entanto, é a grafia que de estar ao serviço da comunicação - não o contrário.
Acirrar ânimos, insultar adversários, fazer juramentos solenes em torno de uma simples representação do nosso idioma faz-me lembrar aquele padre tio de Brás Cubas que o genial Machado de Assis (e não por acaso cito um autor brasileiro que devia ser mais lido em Portugal) descreve assim: "Não era homem que visse a parte substancial da igreja; via o lado externo, a hierarquia, as preeminências, as sobrepolizes, as circunflexões. Vinha antes da sacristia do que do altar. Uma lacuna no ritual excitava-o mais do que uma infração dos mandamentos". (E aqui, a palavra infração segue o modo como ele a escreveu ... em 1881).

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Receita 13: migas de couve-flor

Migas de couve-flor
Ingredientes:
.couve-flor (1 couve pequena por cada 2 a 3 pessoas)
.azeite (3 colheres de sopa por couve), dentes de alho grandes (3 por couve)
.1 bom molho de coentros
.sal e pimenta preta

Preparação
1. Lave e corte a couve em quartos e ponha-a em água a ferver com sal durante 15 minutos (contados a partir do momento em que volte a levantar fervura).
2. Estando a couve bem cozida e muito bem escorrida a água, esmague-a com um garfo.
3. Num tacho, leve ao lume o azeite, a pimenta e os alhos (esmagados em papa) durante 2 minutos.
4. Junte a couve esmagada, os coentros, envolva tudo e deixe apurar durante mais 3 ou 4 minutos.

Ideias para servir:
Acompanha bem fritos, grelhados ou assados (peixe, carne ou rissóis, pastéis de bacalhau, croquetes, etc.).

Bon appétit!
Voltarei amanhã.

AP

Guiné Equatorial na CPLP? Que interessante...

Guiné Equatorial «não fez progressos suficientes» para aderir à CPLP

Paulo Portas manifestou-se contra adesão plena à comunidade lusófona na próxima cimeira, a 20 de julho.

Leia o artigo completo AQUI.

quarta-feira, 11 de julho de 2012

.catorze ou quatorze?

Fonte da imagem: AQUI.
 
A. À pergunta de um consulente português sobre o uso de catorze e quatorze, foi dada há três dias, no Ciberdúvidas, a resposta que passo a transcrever.
O Vocabulário Ortográfico do Português, do ILTEC, regista a forma catorze, assinalando a variante quatorze (Brasil).
Por sua vez, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Porto Editora, atesta as duas formas: catorze e quatorze, sem qualquer indicação de que se trataria de variantes do português europeu e/ou do Brasil.
Por seu lado, o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa, da Academia Brasileira de Letras, contempla, também, as duas formas: catorze e quatorze.
Portanto, como não há qualquer indicação contrária no Acordo Ortográfico de 1990, as duas grafias estão corretas. No entanto, em Portugal prefere-se tradicionalmente catorze, e no Brasil o uso favorece a mesma grafia, conforme comenta Maria Helena de Moura Neves, no Guia de Uso do Português (São Paulo, Editora Unesp, 2003): «[Catorze e quatorze] [s]ão formas variantes, e quatorze é bem menos usual [...].» (Eunice Marta :: 17/12/2012)
B. No mesmo Ciberdúvidas, encontramos esta resposta de Peixoto da Fonseca, em 2004:
Quatorze é a forma predominante no Brasil, por influência de quatro, tanto na escrita como na pronúncia. Em Portugal só existe catorze, que representa a evolução do latim quattuordecim, sem o retrocesso operado no Brasil (...). (F. V. Peixoto da Fonseca :: 16/07/2004)
C. Consultando o Dicionário de Língua Portuguesa, de Cândido de Figueiredo, edição de 1913, podemos ler: “*Catorze*, adj. O mesmo ou melhor que quatorze.
D. Para o Brasil, apesar da posição de Maria Helena Moura Neves, referida em A., a generalidade das fontes que consultei considera ambas as formas corretas, pondo-as no mesmo patamar.

Faço ao exposto, reformulei a mensagem publicada em julho passado (em que adotava um ponto de vista próximo do que está expresso na resposta de Peixoto da Fonseca), apresentando agora uma perspetiva menos restritiva.

CONCLUSÕES:
Portugal (norma luso-afro-asiática)
 catorze é a forma mais comum, correspondendo à evolução a partir do latim. Considerando o que diz o Portal da Língua Portuguesa, não é aconselhável o recurso à forma quatorze.
Brasil (norma brasileira) 
catorze e quatorze estão ao mesmo nível, podendo o falante escolher a forma que quiser usar.

Nota: Optando por quatorze, o u deve ser pronunciado: “kuatorze”.



Abraço!
AP