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quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

Celebramos o Novo Ano com FOGO-DE-ARTIFÍCIO ou FOGO DE ARTIFÍCIO?


O nº 6 da BASE XV do Novo Acordo Ortográfico mexeu na pirotecnia e desfigurou-a para sempre, o que, para muitos, foi explosivo:
Nas locuções de qualquer tipo, sejam elas substantivas, adjetivas, pronominais, adverbiais, prepositivas ou conjuncionais, não se emprega em geral o hífen, salvo algumas exceções já consagradas pelo uso (como é o caso de água-de-colónia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à queima-roupa).

CONCLUSÃO:
FOGO DE ARTIFÍCIO sem hífenes!


Abraço e, com ou sem fogo de artifício, celebre a vida!

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segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Descida guiada aos infernos do hífen: 24 tenebrosos degraus!


Mesmo os especialistas reconhecem que o uso correto do hífen é um complicado bico de obra da nossa língua. Infernização, dizem uns; verdadeira maldição da língua portuguesa, asseguram outros!
O AO90 visava simplificar e sistematizar a hifenização. Objetivo ambicioso, apenas parcialmente atingido, principalmente duas razões:
1. A redação do documento nem sempre é clara e mantiveram-se exceções, perdendo-se a oportunidade de ir mais além na simplificação.
2. Pontualmente, Portugal e Brasil divergiram na aplicação das regras. Por exemplo, em Portugal escrevemos co-herdeiro, cor-de-rosa a par de cor de rosa, arco-da-velha mas também arco da velha. No Brasil, o Vocabulário da Academia Brasileira de Letras determina coerdeiro e cor-de-rosa e arco-da-velha como grafias únicas, não registando variantes não hifenizadas.

O principal obstáculo com que me deparei na elaboração do guia que hoje partilho foram as omissões sobre as regras do hífen de que padecem todas as reformas ortográficas já feitas, do Formulário Ortográfico de 1911 ao AO90, passando pelo FO 43 (Brasil) e AO45 (Portugal). Para o esclarecimento de algumas dúvidas (estabelecer, por exemplo, a lista completa dos prefixos/elementos nunca seguidos de hífen), o recurso às obras de Rebelo Gonçalves (dos anos 40 e 60), embora insuficiente, foi imprescindível.
Foi árdua esta descida, degrau a degrau, aos infernos do hífen, mas é com satisfação que partilho convosco esta lista exaustiva de regras.
Para já, o documento aplica-se na íntegra a Portugal, Brasil (onde em 1/1/2016 termina a fase de transição para o AO90) e Cabo Verde (onde terminou em outubro passado o período de transição).

Pode iniciar a sua
                                 descida
                                              aos infernos
                                                                    do hífen…
                                                                                              AQUI!

Abraço e um feliz 2016 para todos os amigos e leitores espalhados pelo mundo!

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quarta-feira, 16 de dezembro de 2015

TRANSSEXUAL, TRANS-SEXUAL ou TRANSEXUAL?


1. TRANSSEXUAL é uma grafia incompatível com as regras da língua portuguesa, dado não poder haver a consoante dobrada ss (ou rr), senão em posição intervocálica.

2. TRANS-SEXUAL poderia ser uma hipótese, pois uma das principais regras do AO90 determina que há hífen quando a letra final do prefixo é igual à que inicia o segundo elemento (inter-racial, circum-murar, sub-bibliotecário, anti-inflamatório, etc.). Por essa razão, a grafia “microondas” foi alterada para micro-ondas. No entanto, se com micro-ondas a tradição deixou de ser o que era, como vamos ver a seguir, o mesmo não aconteceu com as palavras iniciadas por TRANS.

Sobre este assunto também se pronuncia Rebelo Gonçalves, no seu Tratado de Ortografia da Língua Portuguesa (Coimbra: Atlântida, 1947, p. 75, OBS. 3.ª), uma das obras de referência maiores para a lexicografia portuguesa: "Não podendo haver a consoante dobrada ss, assim como a consoante dobrada rr, senão em posição intervocálica, o s do prefixo trans- é eliminado quando se segue um elemento começado por s: transecular, transiberiano, transubstanciação, transudar".
Nota: Resultado certamente de um espantoso lapso, encontrei no Portal da Língua Portuguesa (AQUI) as grafias trans-sexual”,  “trans-sexualidade” e trans-sexualismo”.

RESPOSTA:
Grafia certa (não alterada pelo AO90): TRANSEXUAL!
Obs.: Como trans-, também os elementos de composição de palavras -re (reentar) e des- (dessalinização) nunca são seguidos de hífen.

Abraço.

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domingo, 25 de outubro de 2015

Como escrever: MINI-CIMEIRA ou MINICIMEIRA?

SIC fora das leis do hífen...

O uso de hífen a seguir a mini- sempre levantou dúvidas por não haver consenso entre os gramáticos na sua classificação ora na classe dos prefixos/falsos prefixos ora como elemento de composição.
As regras a aplicar à hifenização com mini- não estavam enunciadas nem no FO43 (Brasil) nem no AO45 (Portugal), o que conduziu a opiniões divergentes. Para uns, aglutinava sempre; para outros, só havia hífen antes de vogal ou h; e havia ainda os que defendiam o uso do hífen apenas antes de h.
Veja-se esta resposta dada no Ciberdúvidas em 2003:
Em princípio não se deve utilizar hífen em palavras começadas por estes elementos (e outros): mini-, maxi-, micro-, macro-. (…)
Quando a unidade seguinte começa por h, alguns autores, contudo, sugerem a utilização de hífen.
O AO90 inclui mini- na lista dos “elementos não autónomos ou falsos prefixos” e aplica-lhe a regra geral que preceitua o uso de hífen em duas situações:
1. antes de h (mini-horta);
2. quando o prefixo ou pseudoprefixo termina em vogal igual à que se inicia o segundo elemento (mini-investigação).

CONCLUSÃO:
Devemos escrever minicimeira.

Obs.: Mesmo antes da aplicação do AO90, não há fundamento para uso de hífen em minicimeira, o mesmo se aplicando a palavras como minigolfe, minimercado, minibar, miniconcurso, minidicionário, miniférias, minivestido ou miniteste.

Apesar da chuva (que a minha horta saúda efusivamente!), bom domingo!

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sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Cabo Verde: findo o período de transição, Acordo Ortográfico entrou em vigor!

O novo Acordo Ortográfico da língua portuguesa entra na quinta-feira, oficialmente, em vigor em Cabo Verde, o segundo país a pô-lo em prática, após Portugal, numa mudança que será "faseada e irreversível", segundo o ministro da Cultura cabo-verdiano.

Em entrevista à agência Lusa, Mário Lúcio Sousa disse que, agora, o acordo será obrigatório, mas estimou que a velha grafia da língua portuguesa só desaparecerá definitivamente do país em 2020.
"Não é uma atitude que se possa exigir com ruturas. Há também previsão de que a implementação seja faseada. Assim como se previu uma fase de transição de seis anos (de 2009 a 2015), estamos a prever um período até 2019/2020 para a implementação paulatina do acordo ortográfico", sustentou Mário Lúcio Sousa.
O ministro esclareceu que o período de implementação paulatina será para o país erradicar "de vez" a velha grafia. Será adotado um Plano de Implementação Complementar, que será executado "de forma concertada e articulada" entre os diferentes intervenientes (Estado, Comunicação Social e estabelecimentos de ensino).
O AO (Acordo Ortográfico) foi aprovado no Conselho de Ministros cabo-verdiano em 2009, mas o Governo aprovou um período de transição de seis anos, altura em que as novas regras foram utilizadas dispersamente e através de corretores, em alguns departamentos da administração pública e nalguns jornais "online" do país.
O ministro garantiu à Lusa que estão criadas todas as condições para o país começar a escrever apenas com base nas novas regras da língua portuguesa, mas a partir de agora o Governo de Cabo Verde promoverá sessões de esclarecimento para professores, estudantes, funcionários, jornalistas, corpo diplomático, entre outros.
Irá também disponibilizar conversores ortográficos e outros instrumentos que facilitem o uso do AO, bem como um guia de utilização dirigido aos meios de comunicação social, que será fornecido pelo Instituto de Linguística Teórica e Computacional de Lisboa, que tem um protocolo com o Instituto da Investigação e do Património Culturais (IIPC) de Cabo Verde.
O executivo cabo-verdiano irá adotar a nova grafia em toda a correspondência oficial do Estado, em todos os órgãos de comunicação social, designadamente, jornais e televisões e Boletim Oficial.
Mário Lúcio Sousa reconheceu que o novo acordo terá implicações nas gráficas, nos escritores, nas editoras, nas escolas, mas o país está num "ponto de não retorno".
"É melhor nós avançarmos e depois trabalharmos as outras questões, porque não vejo que o acordo venha a ser anulado, por exemplo. Cabo Verde tem essa tradição de nós avançarmos e um país com poucos recursos não pode vacilar nessas situações", salientou.
Em declarações à agência Lusa, dois diretores de escolas secundárias na Cidade da Praia recordaram que há mais de um ano que estão a fazer as diligências para avançar com as novas regras da escrita da língua portuguesa, pelo que se espera que a sua implementação será normal e sem muita resistência.
"Agora, o nosso dever, enquanto responsável da escola, é esclarecer, sensibilizar e incentivar a implementação e, depois, conforme as regras e orientações do Ministério da Educação, a escola terá que avançar, engajar-se e colaborar nesse sentido", disse Fernando Pinto, diretor da Escola Secundária Cesaltina Ramos, com cerca de 1300 alunos.
Dizendo que até agora há uma "mistura de escrita" e que será feito um trabalho com os professores de Língua Portuguesa para consciencializar os alunos com as novas formas de escrita do português, Maria José Pires, diretora do liceu Pedro Gomes, explicou, entretanto, que será uma "transição natural e sem resistências".
O ministro disse que Cabo Verde não encontrou dificuldades para implementar o novo acordo e destacou o apoio de organizações, como o Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP), com sede na Praia, a Comissão Nacional das Línguas, órgão consultivo do Governo no que toca à política linguística, bem como o Ministério das Relações Exteriores (MIREX).
O acordo, firmado em 1990, já foi ratificado pela maioria dos países lusófonos, sendo que em Angola ainda não foi aprovado pelo Governo, em Portugal entrou em vigor em prática em maio último e no Brasil está previsto para 01 de janeiro próximo.
Fonte: Notícias ao Minuto (30-09-2015)

sábado, 17 de outubro de 2015

ÁGUA DE COLÓNIA ou ÁGUA-DE-COLÓNIA?

Embora, segundo as estatísticas oficiais, o Novo Acordo Ortográfico altere apenas 1,6% das palavras em Portugal (0,5% no Brasil), a hifenização sofreu alterações significativas, sobretudo nas locuções.
A BASE XV determina que «Nas locuções de qualquer tipo, sejam elas substantivas, adjetivas, pronominais, adverbiais, prepositivas ou conjuncionais, não se emprega em geral o hífen [...].
Tudo simples? Nem por isso… Logo a seguir, pode ler-se: “salvo algumas exceções já consagradas pelo uso (como é o caso de água-de-colónia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à queima-roupa).

PROBLEMA 1:
Quando se diz “como é o caso de” fica a dúvida se são apenas sete as exceções ou se há outras. Ainda não obtive resposta para esta dúvida.
PROBLEMA 2:
Enquanto a Academia Brasileira de Letras segue à risca no seu Vocabulário esta lista de exceções, o Portal da Língua Portuguesa regista as mesmas exceções, mas também admite, à revelia do AO90, como variantes essas mesmas locuções sem hífen.

CONCLUSÃO:
PORTUGAL
BRASIL
água-de-colónia e… 
                                  água de Colónia!
Apenas água-de-colônia

Nota: Com a interpretação “criativa” do ILTEC, conseguiu-se esta proeza: onde antes existia uma única grafia (pé-de-meia), há agora duas em Portugal e uma no Brasil. A justificação dada é que sendo o paradigma “água de” geralmente não hifenizado, devemos admitir “água de Colónia”. Mas não é uma exceção sempre a fuga a um paradigma? Seguindo este raciocínio, todas as exceções poderiam deixar de o ser…

Abraço.

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sábado, 10 de outubro de 2015

1 500 000 de entradas!

Nascido em dezembro de 2010, este blogue recebeu até hoje um milhão e meio de visitas vindas de 177 países. Descontando as palavras desagradáveis, algumas vezes ofensivas (que me obrigaram a introduzir a moderação na caixa de comentários), de opositores ao Novo Acordo Ortográfico (por trair e ser conivente com o assassinato da língua portuguesa…), mas também de alguns dos seus acérrimos defensores (por referir inconsistências do AO90 e não ser um divulgador acrítico do documento), realizei com gosto o trabalho publicado em cerca de 500 artigos. 

Top 10 de visitantes:
1.   BRASIL – 594 130
2.   PORTUGAL – 294 747
3.   Estados Unidos – 22 887
4.   Angola – 5 448
5.   Reino Unido – 4 176
6.   Espanha – 3 201
7.   França – 3 022
8.   Alemanha – 2 846
9.   Moçambique – 2 692
10. Bélgica – 1 973

Abraço a todos.

ProfAP
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segunda-feira, 21 de setembro de 2015

sobre-endividamento OU sobreendividamento?


Interessante e diversificada a história do prefixo sobre. Como vamos ver, Portugal e Brasil seguiam regras diferentes.

FO43 – BRASIL
sobreendividamento
Havia hífen com o prefixo sobre, quando seguido de palavras iniciadas por h, r ou s: anti-higiênico, arqui-rabino, sobre-saia, etc.
AO45 – PORTUGAL
sobreendividamento
Havia hífen com sobre antes de h. Em todos os outros casos, havia aglutinação ao elemento imediato, mesmo que este começasse por r ou s, duplicando-se tais letras: sobre-humano, sobrenome, sobrerroda, sobressaturar, etc.
AO90
sobre-endividamento
Segue-se com sobre a nova regra geral: só há hífen quando o segundo elemento começa por h ou pela mesma letra com que termina o prefixo (neste caso, e): sobre-humano, sobre-eminente, sobre-emissão, sobre-endividar, etc.

CONCLUSÃO:
Com o AO90, passámos a escrever sobre-endividamento!

Abraço.

ProfAP

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quarta-feira, 9 de setembro de 2015

frente-a-frente OU frente a frente?

Para as televisões portuguesas, a grafia certa é frente-a-frente...

O Novo Acordo quis simplificar e sistematizar as regras do uso do hífen. Considerando as inconsistências (como o tratamento do prefixo sub-), complicações desnecessárias (como no caso dos pontos cardeais) e exceções que em nada simplificam (como em cor-de-rosa, embora seja um quiproquó que vem do AO45), o objetivo não foi cabalmente atingido.

O caso de hoje é uma locução, domínio onde mais alterações foram introduzidas pelo AO 90.
Segundo a Base XV, nº 6, “Nas locuções de qualquer tipo, sejam elas substantivas, adjetivas, pronominais, adverbiais, prepositivas ou conjuncionais, não se emprega em geral o hífen, salvo algumas exceções já consagradas pelo uso (como é o caso de água-de-colónia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à queima-roupa).
Bastava eliminar as exceções para termos uma regra efetivamente simples e fácil de aplicar. Um problema que advém destas mesmas exceções é quando se diz “como é o caso de”. Ou seja, aqueles infelizes sete casos são exemplos. Então há mais exceções? Quais? Aparentemente ninguém sabe responder…
Embora o princípio não esteja enunciado no texto do AO, a linguista Margarita Correia entende que nunca há hífen nas locuções do tipo nome+preposição+nome.
Assim sendo, as televisões deveriam escrever frente na frente, uma vez que adotaram o AO90.

CONCLUSÃO:
PORTUGAL e BRASIL
frente a frente

Nota: A grafia anterior ao AO90 era frente-a-frente.
 DICA: Em caso de dúvida, não use hífen nas locuções.

Abraço.

ProfAP

quinta-feira, 20 de agosto de 2015

PERAS ou PÊRAS?


Com o Novo Acordo Ortográfico, assistimos a uma espécie de “E tudo o vento levou!” dos acentos diferenciadores. No entanto, no caso de hoje, temos de recuar a 1945 para termos um desfecho surpreendente para um bom número de utilizadores da língua portuguesa…
O Acordo Ortográfico de 1945 estipulava o “emprego do acento para distinguir formas homógrafas heterofónicas” como em “pêra, substantivo, e pera, preposição arcaica” e “pêro, substantivo, e pero, conjunção arcaica”.
No entanto, o mesmo AO45 era claro em relação aos plurais destas duas palavras: “o plural, peras, sem acento; (…) o plural, peros, também sem acento”.

CONCLUSÕES:
                                                                       PORTUGAL e BRASIL
SINGULAR
pêra (AO45)
pera (AO90)
PLURAL
peras (já era assim com o AO45 e manteve-se com o AO90)

Nota:
Com o AO90, desapareceram quase todos os acentos desambiguadores. Exceções:
Acentos obrigatórios
.pôr (para distinguir da preposição por)
.pôde (para não se confundir com o presente pode)
Acentos facultativos

.dêmos (para não se confundir com o pret. perfeito demos)
.amámos (para distinguir do presente amamos)*1
(No Brasil, já não eram usados)
.fôrma (para distinguir de forma, com o aberto)
(Acento abolido em 1945 em Portugal)
*1- Como todos os outros verbos da 1ª conjugação (terminação –ar).

Abraço.

ProfAP

domingo, 2 de agosto de 2015

Jorge Mendes teve um SUPER-CASAMENTO ou um SUPERCASAMENTO?


Embora não tenham sido as que mais anticorpos criaram, as mudanças mais profundas introduzidas pelo AO90 aconteceram na hifenização. Largas centenas de hífenes entregaram a alma ao criador sem deixar vestígios: autoestrada, copiloto, antissocial, pão de ló, rosa dos ventos, vinho de cheiro, canto do cisne, etc., etc.
Em sentido contrário, micro-ondas ganhou um hífen! Segundo o AO45 (Portugal) e o FO43 (Brasil), escrevia-se microondas.

E SUPER sofreu alguma alteração?
Este prefixo, como todos os terminados em r (inter e hiper), tinha uma regra especial segundo o AO45 e o FO43 que se mantém no AO90.

REGRA:
Com SUPER (e INTER e HIPER) há hífen antes de H e R:
super-homem, super-resistente
Mas: supermercado, superpolícia e supercasamento!

A terminar, que o mediático casal seja feliz!

ProfAP

quarta-feira, 1 de julho de 2015

Os sub-21 portugueses foram ontem vice-campeões ou vicecampeões?

Tivesse a seleção portuguesa ganho ontem à Suécia e não se punha a questão do hífen…

Numa aplicação criativa das regras do hífen, ouvi há dias uma conversa em que alguém dizia que agora, com o Novo Acordo Ortográfico, já não havia hífenes…
Uma viagem pelos textos escritos em português na internet (empresas e particulares) deixa-nos de boca aberta, tal é a confusão que reina na hifenização. Por um lado, retiram-se a eito os hífenes; por outro, aglutina-se tudo.
Exemplos:
1. guarda chuva (AQUI); 2. guardachuva (AQUI); 3. guardassol (AQUI); 4. decreto lei (AQUI);  5. segundafeira (AQUI); 6. couveflor (AQUI); 7. bem vindo (AQUI); 8. bemvindo (AQUI); 9. benvindo (AQUI); 10. guardarroupa (AQUI); 11. vicecampeão (AQUI); 12. vice campeão (AQUI).

RESPOSTA:
Como em todos os exemplos apresentados,
devemos usar hífen em vice-campeões.
Notas:
1. O AO90 não altera a regra que determina que há sempre hífen a seguir a vice-. O mesmo se aplica aos prefixos ex- (com o sentido de cessamento), sota-, soto-, vizo- e quando o primeiro elemento é acentuado (pré-pago, pró-vida, pós-guerra, além-mar, aquém-fronteiras, recém-casado).
2. Veemente censura ao destacado jornal desportivo português Record que nos dá esta pérola: “Portugal vicecampeão europeu de juniores”.

Abraço.
ProfAP

sexta-feira, 12 de junho de 2015

Como estamos de AO90 e de Vocabulário Ortográfico Comum?




Entrevista dada por Marisa Guião de Mendonça, diretora-executiva do Instituo Internacional da Língua Portuguesa, ao programa Fórum África (10/06/2015), da RTP África, a respeito do Vocabulário Ortográfico Comum, dos trabalhos com os vocabulários nacionais e da aplicação do Acordo Ortográfico.


NOTA: Quando o Vocabulário Ortográfico Comum foi disponibilizada online, entrei na plataforma e não fiquei particularmente agradado. Poucas indicações para poder pesquisar de forma rápida e eficaz, um conjunto de bandeiras dos países lusófonos com links, mas inconsequente, resultados da pesquisa não associados aos espaços geográficos em que são usados... Uma deceção, sobretudo se compararmos o VOC com o VOP do Portal da Língua Portuguesa. No entanto, como estavam previstos ajustamentos na plataforma até ao final de maio de 2015, um dias destes dias farei uma nova e muito minuciosa visita e partilharei aqui o resultado da avaliação.
Abraço.
ProfAP

segunda-feira, 8 de junho de 2015

Alunos podem perder 5 valores nos exames por causa do AO90?


Embora seja a minha área de formação, estou afastado há algum tempo do mundo dos exames de Português. Sempre me pareceu especulativa a informação veiculada nos meios de comunicação de que a não aplicação das regras do A90 poderia custar aos alunos a perda de 5 valores. No entanto, não tendo dados objetivos, não comentei o assunto. Quando ontem consultava o Ciberdúvidas (AQUI), encontrei um artigo que contesta o que foi divulgado.

Erros ortográficos devido ao uso da antiga grafia
chegarão no máximo a 0,5 por cento na avaliação do 12.º ano
(…) nos critérios específicos de avaliação da prova de exame em apreço estão previstos descontos por aplicação de fatores de desvalorização no domínio da correção linguística até um máximo de 40 pontos. Dependendo da natureza de cada erro (ortografia, sintaxe, morfologia, impropriedade lexical), os descontos a aplicar podem corresponder a uma desvalorização de 1 ou de 2 pontos por erro (em 200 pontos).
Por um lado, é de salientar que o erro de ortografia diz respeito a apenas um dos diversos fatores de desvalorização previstos, dando origem ao desconto de 1 ponto. Por outro lado, tomando como valor de referência 200 mil entradas do Vocabulário Ortográfico do Português (VOP), a percentagem de palavras alteradas pelo AO em Portugal é de 1,56%. Importa referir que, se entre essas palavras existem algumas com elevado índice de frequência de uso (e.g. "ato", "atual", "direto", "exato", "objeto"), a maioria são palavras de uso restrito a registos especializados (técnicos e científicos), de baixo índice de frequência.
Considerando os dados apresentados, ainda que os alunos optem por não respeitar o AO, situação para cujas consequências estão devidamente alertados, em termos médios, a probabilidade de desvalorização por erros ortográficos devido ao uso da antiga grafia é de 0,6 pontos, ou seja, 1 ponto em 200, ou seja, ainda, 0,5% da cotação total da prova (o que contrasta de forma gritante com os 25% referidos na notícia publicada pelo Diário de Notícias). (…)
O Conselho Diretivo do IAVE, I.P.,
Lisboa, 12 de março de 2015

Fica partilhado o esclarecimento. Mas aquelas contas ali mesmo no final estão um pouco atabalhoadas… E devo dizer que se as notícias divulgadas me deixaram muitas dúvidas com o cenário de descontos até 5 valores (50 pontos), as contas do IAVE que concluem que a probabilidade de descontos não vai além de 1 ponto também me parecem uma versão light. Mas é apenas uma impressão. Onde está a verdade? Aí, não tenho dúvidas: no vinho!

Abraço.
ProfAP

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Sampaio da Nóvoa quer reavaliar Acordo Ortográfico…


COMENTÁRIO: Independentemente da consistência dos argumentos apresentados, as pessoas (mais ou menos mediáticas) e as instituições que são e sempre foram contra o AO têm do seu lado a coerência.
Quanto a Sampaio da Nóvoa, considerando que, enquanto reitor da Universidade de Lisboa, ninguém o ouviu manifestar publicamente o seu desacordo, fazê-lo agora na condição de candidato a um cargo público parece uma atitude oportunista. Pode até não ser, mas lá que parece, parece…

JORNAL DE NOTÍCIAS:

Sampaio da Nóvoa, que ao final da tarde desta segunda-feira, no Teatro Rivoli, no Porto, apresenta a carta de princípios da sua candidatura à Presidência da República, considerou na última noite, em Amarante, num debate sobre Educação, que o Acordo Ortográfico "deve ser reavaliado com muita determinação".

Admitindo que se trata de "um problema complicado", por causa dos acordos internacionais, mas defende que o AO deve ser reavaliado com muita determinação. "Na qualidade de candidato presidencial digo que esta questão tem de ser recolocada em cima da mesa dos debates com enorme cuidado, esperando que se consiga fazer uma avaliação do que aconteceu até agora e consigamos repor em novos moldes algumas orientações sobre esta matéria. É um problema que, na minha condição de Presidente da República, espero ajudar a resolver. O que está a acontecer não é bom para nada, inclusive para o fortalecimento dos laços entre os povos", justificou, Nóvoa, já depois de lembrar que na qualidade de reitor e de professor é contra o AO.
Convidado pela concelhia do PS para falar sobre "Uma Educação para o desenvolvimento", a conversa, por vontade da plateia, estava sempre a resvalar para as presidenciais. Um dos presentes quis saber, por exemplo, o que é que o candidato pensa sobre as questões fraturantes, ao que o candidato atirou de pronto com aquilo que disse ser a sua "matriz: liberdade", com o Estado a garantir a salvaguarda dos "direitos e garantias". O candidato também afirmou que quer para Portugal "um presidente ativo na cena internacional". "A última vez em tal aconteceu foi com Timor, e por obrigação". Sobre o assunto em debate, a Educação, Nóvoa lembrou que "num certo sentido" com o que temos: a escola (edifício) do século XIX e professores do século XX, não conseguimos ensinar alunos do século XXI.


Abraço.
ProfAP

sábado, 16 de maio de 2015

O Novo Acordo Ortográfico mexe com a sua horta ou jardim?

A espécie mais hifenizada cá da horta: o espinafre-da-Nova-Zelândia!

Começando por responder à pergunta, podemos dizer que sim, mas pouco…
Os vocábulos compostos que designam espécies não são referidos nem no Formulário de 1943 (Brasil) nem no Acordo de 1945 (Portugal). No entanto, a prática seguida era hifenizar a maior parte destas palavras, aplicando uma regra geral (Base 28 do AO45) de redação bem complicada:
Emprega-se o hífen nos compostos em que entram, foneticamente distintos (…), dois ou mais substantivos, ligados ou não por preposição ou outro elemento, um substantivo e um adjectivo, um adjectivo e um substantivo, dois adjectivos ou um adjectivo e um substantivo com valor adjectivo, uma forma verbal e um substantivo, duas formas verbais, ou ainda outras combinações de palavras, e em que o conjunto dos elementos, mantida a noção da composição, forma um sentido único ou uma aderência de sentidos.
A Base 46, 1º, do FO43, bem mais simples, ia no mesmo sentido: “Nas palavras compostas em que os elementos, com a sua acentuação própria, não conservam, considerados isoladamente, a sua significação, mas o conjunto constitui uma unidade semântica”.

Quanto ao Novo Acordo Ortográfico, introduz, na Base XV, nº 3, uma regra nova sem qualquer exceção: “Emprega-se o hífen nas palavras compostas que designam espécies botânicas e zoológicas, estejam ou não ligadas por preposição ou qualquer outro elemento”. Considerando os exemplos apresentados no texto, parece que todos os compostos nas áreas da botânica e da zoologia, designem ou não verdadeiras espécies e subespécies, são hifenizadas. Só assim se compreende a grafia feijão-verde (antes feijão verde).

CONCLUSÃO:
Usa-se sempre hífen em todas as palavras compostas que identificam plantas (ou animais).

Mas, embora a regra seja clara, os dicionários e o vocabulário do Portal da Língua Portuguesa continuam a não a aplicar de forma plena, ignorando espécies que fazem parte do nosso dia a dia ou apresentando-as de forma enviesada…
DESIGNAÇÕES
VOCABULÁRIO PORTAL DA LÍNGUA PORTUGUESA
DICIONÁRIO PRIBERAM
DICIONÁRIO
INFOPÉDIA
maçã-reineta
Está na entrada “reineta”…
Está na entrada “reineta”…
Está na entrada “reineta”…
pera-rocha
NÃO TEM
A entrada “rocha” não remete para a conhecida espécie…
NÃO TEM
A entrada “rocha” não remete para a conhecida espécie…
NÃO TEM
A entrada “rocha” não remete para a conhecida espécie…
pêssego-careca
NÃO TEM
Só regista pêssego…
SIM
Estranhamente também regista “pêssego careca” (sem hífen…)
SIM
 
pimenta-branca
NÃO TEM
Mas regista pimenta-preta
 
NÃO TEM
Regista apenas pimenta d’água, que não é uma espécie de pimenta…
NÃO TEM
Mas regista pimenta-preta
Nota: Faz tanto sentido, apresentar maçã-reineta na entrada “reineta”, como faria colocar peixe-espada na entrada “espada”…
O mesmo procedimento é seguido com a espécie pera-lambe-lhe-os-dedos (que já foi abundante na zona de Sintra e do Oeste e hoje está quase extinta), que é apresentada na entrada lambe-lhe-os-dedos nas fontes de consulta portuguesas. Consultando o Vocabulário da Academia Brasileira de Letras (que também regista pimenta-branca e maçã-reineta), lá está o verbete como deve ser: pera-lambe-lhe-os-dedos. Encontrei a mesma grafia no Dicionário de Língua Portuguesa, de Cândido de Figueiredo, de…1913!

Conselho final: para pesquisar designações de espécies botânicas (e zoológicas), não perca tempo e vá diretamente ao instrumento de consulta mais completo e fiável e entre no Vocabulário da Academia Brasileira de Letras (em http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=23).

Abraço!
ProfAP