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domingo, 19 de agosto de 2012

Em bom português: Raul ou Raúl?

A resposta é Raul, sem acento.
A justificação técnica está no nº 2 da Base X do Novo Acordo (“DA ACENTUAÇÃO DAS VOGAIS TÓNICAS/TÔNICAS GRAFADAS I E U DAS PALAVRAS OXÍTONAS E PAROXÍTONAS: As vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras oxítonas e paroxítonas não levam acento agudo quando, antecedidas de vogal com que não formam ditongo, constituem sílaba com a consoante seguinte, como é o caso de nh, l, m, n, r e z: bainha, moinho, rainha; adail, paul, Raul; Aboim, Coimbra, ruim; ainda, constituinte, oriundo, ruins, triunfo; atrair, demiurgo, influir, influirmos; juiz, raiz, etc.

Analisemos a palavra Ra-ul: Há um u tónico antecedido da vogal a (não formando ditongo com ela) que constitui sílaba com a consoante l (ul).
A regra não é nova, retomando o que estava em vigor em Portugal desde 45 e no Brasil desde 43.
Lamentavelmente, na reformulação, ao pôr no mesmo saco nh, l, m, n, r e z, o resultado foi "estragar" a regra e induzir os falantes em erro. Em ba-i-nha, mo-i-nho e ra-i-nha o i é antecedido de vogal com que não forma ditongo, mas não forma sílaba com nh. Logo, seguindo a regra à letra, teríamos de escrever “baínha”, “moínho” e “raínha”, quando nenhuma destas palavras é acentuada.


Comparemos com a redação anterior:
1. Norma de 1945 (espaço luso-africano): “Prescinde-se do acento agudo nas vogais tónicas i e u de vocábulos oxítonos ou paroxítonos, quando, precedidas de vogal que com elas não formam ditongo, são seguidas de l, m, n, r ou z finais de sílaba, ou então de nh: adail, hiulco, paul; Caim, Coimbra, ruim; constituinte, saindo, triunfo; demiurgo, influir, sairdes; aboiz, juiz, raiz; fuinha, moinho, rainha.
2. Formulário Ortográfico de 1943 (Brasil): “Põe-se o acento agudo no i e no u tônicos que não formam ditongo com a vogal anterior: aí, balaústre, cafeína, cais, contraí-la, distribuí-lo, egoísta, faísca, heroína, juízo, país, peúga, saía, saúde, timboúva, viúvo, etc.
Observação 1ª - Não se coloca o acento agudo no i e no u quando, precedidos de vogal que com eles não forma ditongo, são seguidos de l, m, n, r ou z que não iniciam silabas e, ainda, nh: adail, contribuinte, demiurgo, juiz, paul, retribuirdes, ruim, tainha, ventoinha, etc.
Observação 2ª - Também não se assinala com acento agudo a base dos ditongos tônicos iu e ui, quando precedidos de vogal: atraiu, contribuiu, pauis, etc.
A ânsia de simplificar a regra levou à sua deturpação.


CONCLUSÃO: Não se coloca o acento agudo no i e no u tónicos quando, precedidos de vogal que com eles não forma ditongo, são seguidos de l, m, n, r ou z com que constituem sílabas não iniciam silabas e, ainda, de nh: pa-ul, Co-im-bra, tri-un-fo, ca-ir, ju-iz, la-da-i-nha.

Bom resto de domingo!
AP

6 comentários:

  1. Olá António/Antônio

    Estive há pouco a consultar o seu blogue, a partir do blogue do José Maria, mas não deixei qualquer comentário.
    Sou Professora, licenciada em História, mas também lecciono Português.
    Acho estas explicações muito interessantes. Quando entendemos o porquê das "coisas", tudo se torna mais fácil e atrativo.
    Sou a favor do Novo Acordo Ortográfico, em muitos pontos, noutros, discordo. A Língua, como sabe, não é uma entidade morta, assim está em contínua evolução. Se assim não fosse, continuaríamos a escrever farmácia, com "ph".
    Na Língua Francesa, tal como sabe, ainda não se "mexeu", mas os Franceses mais atuais já fazem mais elisões, que as normais, e colocam as frases de maneira mais simples, mas corretas, gramaticalmente, falando.
    Eu, ainda tendo a escrever uma ou outra palavra, "à maneira antiga", mas uma grande parte delas, já escrevo, sem qualquer dificuldade, isto é, com as regras do Novo Acordo.

    Colega, tenho dois blogues: "AFETOS E CUMPLICIDADES", que, ainda, talvez não conheça, e o "LUZES E LUARES", onde deixou comentário, o qual desde já agradeço.
    Os meus espaços estão abertos a toda a gente, menos a anónimos. Será um prazer recebê-lo.

    Gostei muito deste encontro e conversa.
    Tenha uma excelente semana.

    Abraços da Luz, que na realidade se chama Emília.

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  2. Olá, colega Emília!
    Obrigado pela visita e comentário.
    Em relação ao Acordo, divulgo-o (a informação nunca é de mais!), mas ciente de que o texto está longe de ser perfeito e pode/deve ser melhorado. O meu olhar vai muito além do NAO e centra-se sempre, e com muita emoção, na língua portuguesa, "a minha pátria", como diria o Poeta Maior.
    Vindo da Filologia Românica, também lecionei, com prazer, "la belle langue" durante cerca de 35 anos. Maintenant, c'est fini...
    Retribuindo os abraços, fico ao dispor.
    AP

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  3. Olá António,

    Isto ao som de "J' aime, j' aime la vie" escreve-se melhor.
    Obrigada pelo seu comentário no "Luzes" e também já coloquei a minha foto, no painel do seu blogue.
    Então foi Professor de Francês e Português, segundo presumo.
    Na altura, em que frequentava História, havia Línguas e Lieraturas Modernas, que julgo terem substituído a Filologia Românica.

    Tenha uma boa semana, com brilho no olhar.
    Abraço da Luz.

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  4. Efetivamente, fui professor de Português e Francês.
    Agora, sou apenas formador em temáticas da Didática das Línguas, ultimamente sobretudo no Novo Acordo, com deslocações às escolas, colégios, autarquias, etc., no âmbito de uma colaboração que tenho com a editora ASA desde 2011. Isto é, em vez de me aposentar, mudei de vida! E também posso dizer... "j'aime la vie"!
    Uma semana cheia de luz... para a Luz! ;)

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  5. Olá.
    Ótima postagem,foi divulgada no Portal Teia.
    Até mais

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