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domingo, 29 de dezembro de 2013

.Quem matou o DIPTHONGO?



Segundo os linguistas, a língua que falamos é um fator de unidade. Mas também pode ser uma fonte de mal-entendidos...
O AO90, criado para simplificar e unir, transformou-se na gasolina que tem alimentado a fogueira de paixões que nos tem dividido entre os “pró” os “contra” e os “assim-assim”, que é o meu caso.

A. Esta nova realidade linguística tem gerado opiniões e movimentos para todos os gostos.
Para alguns (no Brasil) ficou-se aquém do que era desejável; por cá, foi-se além do que era admissível.
Para uns, é tudo ilegal, o AO não está em vigor, não senhor! Para outros, está em vigor, mas não devia estar. E há ainda os que, discretamente, vão dizendo que está mesmo em vigor e muito bem!
 
B. 1. E surgiram, como cogumelos, os grupos dos amigos:
.Os amigos dos “cês” e dos “pês” que, mesmo mudos, coitadinhos, sempre fizeram parte da família e têm direito à vida. Foi-se o “p” de “Egito”, deixando estupefactos os que o que o pronunciam, mas ficou em “egípcio”...
.Os amigos do “cágado”, como o juiz Rui Teixeira, que sonhou que iam tirar o acento ao animal, coisa que qualquer pessoa minimamente asseada não pode admitir;
.Os amigos do Lince, como Vasco da Graça Moura, que mandou retirá-lo de todos os computadores do CCB. Que jeito tinha estar o animal ali fechado 24 sobre 24, como diria a Teresa Guilherme?
.Os amigos do trema (no Brasil). Sem aqueles olhinhos (¨) sobre o “u” da linguiça, o churrasquinho já não será a mesma coisa…
.Os amigos do “tecto”. Retirar o “c”, mesmo mudo, é inaceitável e conduzirá ao impensável: o “teto”, que, mais tarde ou mais cedo, será pronunciado à tia: “têto”, uma espécie de marido da “teta”…

B. 2. A lista dos amigos já vem de 1911:
.Os amigos do “ph”:
-Fernando Pessoa, contra tudo e contra todos, continuou a escrever “philosophia” e “phosphoro”; 
-o linguista Alexandre Fontes afligia-se com a ideia de escrever “fase” em vez de “phase” e dizia, incomodado: “parece-nos um esqueleto”.
.Entre os amigos do “y”, estiveram Fernando Pessoa (para quem o “y” de “cysne” fazia lembrar o longo pescoço do animal) e Teixeira de Pascoaes que achava que:
-substituir o “y” por “i” em “lagryma” quebrava a harmonia da palavra e era uma ofensa à estética;
-escrever “abysmo” com “i” latino era retirar-lhe profundidade e transformá-lo numa superfície banal.

E o” dipthongo“?
Perdeu-se para sempre, triste e sozinho, sem amigos nem defensores.
Não se compreende! De boas famílias (do grego díphthoggos, «que tem dois sons», pelo latim diphthongu-), estava ele, lindo e posto em sossego, em 1911, quando, de repente, veio o Formulário Ortográfico… e comeu-o! Mais exatamente, comeu-lhe um “p” e um “h”, transformando-o no ditongo que temos hoje. Desfigurado para sempre, continua a prestar bons serviços à fonética e à ortografia…

Poderia ainda falar-vos do tritongo, mas chega de histórias tristes e de mutilações...
Bom 2014 pra todos!
António Pereira
Imagem encontrada AQUI.

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