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sábado, 16 de maio de 2015

O Novo Acordo Ortográfico mexe com a sua horta ou jardim?

A espécie mais hifenizada cá da horta: o espinafre-da-Nova-Zelândia!

Começando por responder à pergunta, podemos dizer que sim, mas pouco…
Os vocábulos compostos que designam espécies não são referidos nem no Formulário de 1943 (Brasil) nem no Acordo de 1945 (Portugal). No entanto, a prática seguida era hifenizar a maior parte destas palavras, aplicando uma regra geral (Base 28 do AO45) de redação bem complicada:
Emprega-se o hífen nos compostos em que entram, foneticamente distintos (…), dois ou mais substantivos, ligados ou não por preposição ou outro elemento, um substantivo e um adjectivo, um adjectivo e um substantivo, dois adjectivos ou um adjectivo e um substantivo com valor adjectivo, uma forma verbal e um substantivo, duas formas verbais, ou ainda outras combinações de palavras, e em que o conjunto dos elementos, mantida a noção da composição, forma um sentido único ou uma aderência de sentidos.
A Base 46, 1º, do FO43, bem mais simples, ia no mesmo sentido: “Nas palavras compostas em que os elementos, com a sua acentuação própria, não conservam, considerados isoladamente, a sua significação, mas o conjunto constitui uma unidade semântica”.

Quanto ao Novo Acordo Ortográfico, introduz, na Base XV, nº 3, uma regra nova sem qualquer exceção: “Emprega-se o hífen nas palavras compostas que designam espécies botânicas e zoológicas, estejam ou não ligadas por preposição ou qualquer outro elemento”. Considerando os exemplos apresentados no texto, parece que todos os compostos nas áreas da botânica e da zoologia, designem ou não verdadeiras espécies e subespécies, são hifenizadas. Só assim se compreende a grafia feijão-verde (antes feijão verde).

CONCLUSÃO:
Usa-se sempre hífen em todas as palavras compostas que identificam plantas (ou animais).

Mas, embora a regra seja clara, os dicionários e o vocabulário do Portal da Língua Portuguesa continuam a não a aplicar de forma plena, ignorando espécies que fazem parte do nosso dia a dia ou apresentando-as de forma enviesada…
DESIGNAÇÕES
VOCABULÁRIO PORTAL DA LÍNGUA PORTUGUESA
DICIONÁRIO PRIBERAM
DICIONÁRIO
INFOPÉDIA
maçã-reineta
Está na entrada “reineta”…
Está na entrada “reineta”…
Está na entrada “reineta”…
pera-rocha
NÃO TEM
A entrada “rocha” não remete para a conhecida espécie…
NÃO TEM
A entrada “rocha” não remete para a conhecida espécie…
NÃO TEM
A entrada “rocha” não remete para a conhecida espécie…
pêssego-careca
NÃO TEM
Só regista pêssego…
SIM
Estranhamente também regista “pêssego careca” (sem hífen…)
SIM
 
pimenta-branca
NÃO TEM
Mas regista pimenta-preta
 
NÃO TEM
Regista apenas pimenta d’água, que não é uma espécie de pimenta…
NÃO TEM
Mas regista pimenta-preta
Nota: Faz tanto sentido, apresentar maçã-reineta na entrada “reineta”, como faria colocar peixe-espada na entrada “espada”…
O mesmo procedimento é seguido com a espécie pera-lambe-lhe-os-dedos (que já foi abundante na zona de Sintra e do Oeste e hoje está quase extinta), que é apresentada na entrada lambe-lhe-os-dedos nas fontes de consulta portuguesas. Consultando o Vocabulário da Academia Brasileira de Letras (que também regista pimenta-branca e maçã-reineta), lá está o verbete como deve ser: pera-lambe-lhe-os-dedos. Encontrei a mesma grafia no Dicionário de Língua Portuguesa, de Cândido de Figueiredo, de…1913!

Conselho final: para pesquisar designações de espécies botânicas (e zoológicas), não perca tempo e vá diretamente ao instrumento de consulta mais completo e fiável e entre no Vocabulário da Academia Brasileira de Letras (em http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?sid=23).

Abraço!
ProfAP

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