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sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

.Há diferenças entre Brasil e Portugal na aplicação do AO? Há!

Imagem encontrada AQUI.
No passado dia 14/2, deixei este comentário após uma notícia sobre o AO:
"E, se não for pedir muito, que o Portal da Língua Portuguesa e a Academia Brasileira de Letras se ponham de acordo em relação à interpretação das regras e ponham termo às divergências que encontramos nos respetivos vocabulários."
Hoje, um comentador anónimo questionou-me: “Há divergências entre os vocabulários?! Que divergências?

Divergências será talvez um termo muito forte, mas há, sem dúvida, diferenças (que considero significativas), entre o VOP (Vocabulário Ortográfico do Português – Portal da Língua Portuguesa) e o VOLP (Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa – Academia Brasileira de Letras). Em termos globais, a diferença é clara no número de entradas: 211000 no VOP e 381000 no VOLP. 
1. Na regra relativa à hifenização das espécies botânicas e zoológicas, as entradas do VOP são muitíssimo reduzidas, sobretudo se as comparamos com as listas aprofundadas que o VOLP da Academia Brasileira apresenta.
2. Também a eliminação de hífenes na generalidade das locuções não é operacionalizada da mesma forma pelos dois vocabulários. Enquanto a Academia do Brasil aplica à letra o texto do Acordo, o Portal faz, na minha opinião, uma leitura “criativa” à revelia do espírito simplificador que parece estar na base da nova regra.
Passemos aos factos. Os exemplos não são exaustivos, mas mostram as diferenças que referi no início desta mensagem.

A. Base XV, ponto 3:
Emprega-se o hífen nas palavras compostas que designam espécies botânicas e zoológicas, estejam ou não ligadas por preposição ou qualquer outro elemento: abóbora-menina, couve-flor, erva-doce, feijão-verde; (…)andorinha-grande, cobra-capelo, formiga-branca; (…).

Lancemos várias pesquisas com espécies botânicas e zoológicas com nomes compostos e vejamos os resultados:
Entrada pesquisada
Vocabulário-Portugal
Vocabulário-Brasil
feijão
12 entradas
Não constam, por exemplo: feijão-branco, feijão-preto ou feijão-manteiga.
191 entradas
espinafre
1 entrada
Consta apenas espinafre-tropical, uma espécie espontânea não comestível, mais conhecida como espadana-das-searas.
7 entradas
maçã
0 entradas
Nem a maçã-reineta
29 entradas
pera
3 entradas
Nem a pera-rocha nem espécies tradicionais como a pera-engana-rapazes ou a pera-lambe-lhe-os-dedos, definida no Diccionario de Lingua Portugueza (de António de Morais Silva), em 1831, como “espécie de pera mui gulosa, e succosa”.
55 entradas
tigre
0 entradas
11 entradas
pardal
6 entradas
Espécies comuns em Portugal como o pardal-espanhol ou o pardal-comum (conhecido como  pardal-do-telhado) voaram para parte incerta…
25 entradas

B. Base XV, ponto 6:
Nas locuções de qualquer tipo, sejam elas substantivas, adjetivas, pronominais, adverbiais, prepositivas ou conjuncionais, não se emprega em geral o hífen, salvo algumas exceções já consagradas pelo uso (como é o caso de água-de-colónia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à queima-roupa).

Esta é uma regra nova e, para mim, a mais interessante do Novo Acordo, pois permite uma efetiva simplificação da hifenização. O texto parece claro. Vejamos como os vocabulários o aplicam:
Entrada pesquisada
Vocabulário-Portugal
Vocabulário-Brasil
cor-de-rosa (que já surge como exceção no Acordo de 45).
cor-de-rosa e…
              cor de rosa!
Apenas cor-de-rosa
à vontade
à vontade e…
                 à-vontade
O Portal manteve o hífen em à-vontade (nome), mas não seguiu o mesmo princípio em dia a dia, retirando-lhe os hífenes mesmo quando é nome.
Apenas à vontade

Abraço.
AP

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