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sexta-feira, 19 de julho de 2013

.Parlamento português debate petição a pedir o abandono do Acordo Ortográfico

Chegou ao Parlamento a 26 de Abril e ganhou “luz verde” da Comissão de Educação, Ciência e Cultura para ser discutida em plenário.
 
 
A petição “Pela desvinculação de Portugal ao ‘Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa’ de 1990”, com 6212 assinaturas, vai ser discutida em plenário na Assembleia da República. A decisão foi tomada na Comissão Parlamentar de Educação, Ciência e Cultura, onde foi aprovado, a 16 de Julho, um relatório nesse sentido.
No relatório que dá provimento à petição e a remete agora para plenário, assinado pelo deputado relator Michael Seufert, refere-se (pág.18) que “é um facto objectivo que, tirando os académicos envolvidos na elaboração do próprio Acordo, é difícil encontrar uma opinião da academia portuguesa favorável ao acordo – por razões variadas”
No mesmo documento (pág. 21), antes da emissão do parecer, escreve o deputado relator: “Pouco há a assinalar contra reformas ortográficas que assinalem as normais e duradouras mudanças que as línguas sofrem ao longo dos anos. Não é o caso desta. Como os países de língua portuguesa evoluem o ‘seu’ Português de forma independente, uma reforma ortográfica clara e simplificadora provavelmente criaria mais diferenças do que identidades entre as várias formas de Português. Não viria mal ao mundo por isso e seria mais útil para cada um dos povos que escreve Português do que criar uma “ortografia unificada de língua portuguesa” de utilidade duvidosa. Aliás, de alguma maneira essa ortografia unificada contraria a própria história.”
A petição “Pela desvinculação de Portugal ao ‘Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa’ de 1990”, que é subscrita por Ivo Miguel Barroso, Madalena Homem Cardoso e outros, num total de 6212 assinaturas, foi entregue na Assembleia da República a 26 de Abril deste ano. O seu destino inicial era a Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, já que os peticionários suscitaram, em relação ao Acordo Ortográfico, “várias questões de constitucionalidade”. Mas, apesar do protesto (e do recurso) dos autores da petição, esta foi remetida à Comissão de Educação, Ciência e Cultura, que no dia 2 de Julho ouviu alguns dos peticionários.
A par disto, o grupo de trabalho criado naquela comissão “para acompanhamento do Acordo Ortográfico” decidiu adiar o seu relatório final, que deverá ser apresentado na próxima semana, na terça ou na quarta-feira. A deputada Rosa Arezes, membro do grupo, disse à Lusa que a votação foi adiada “para que sejam feitos pequenos ajustes nas conclusões”. “Achou-se por bem tecer alguns comentários, algumas considerações finais e alguns pormenores técnicos, em resultado das audições realizadas pelo grupo de trabalho e dos contributos apresentados no site da Assembleia da República e em comunicações escritas”, referiu a deputada social-democrata.
Data: 17/07/2013

 
COMENTÁRIO:
Neste espaço, faço a divulgação crítica das alterações introduzidas pelo Novo Acordo Ortográfico, trazendo ao conhecimento dos leitores as peripécias do processo de adoção das novas regras. Assim sendo, não podia deixar de dar destaque a esta petição.
1. Não me vou pronunciar sobre as questões legais.
2. Sobre as razões apresentadas no documento:
a) Concordo que a unificação das duas normas luso-africana e brasileira é artificial e utópica, mas há simplificações e sistematizações propostas no AO que são interessantes, sobretudo no domínio da hifenização;
b) Também acho que o texto do AO deixa muito a desejar, mas certamente por razões diferentes das dos subscritores da petição. O documento nem sempre é claro, contém ambiguidades e erros, tendo havido pouco rigor na sua redação;
c) Quando se diz na petição que “Pouco há a assinalar contra reformas ortográficas que assinalem as normais e duradouras mudanças que as línguas sofrem ao longo dos anos. Não é o caso desta.”, levanta-se um problema. Sendo verdade que foram agora introduzidas alterações à revelia da evolução natural da língua, o mesmo aconteceu (em larguíssima escala) com as mudanças introduzidas no início do século XX. Logo, para ser coerente, a petição teria de pedir a revogação não apenas do AO90 mas também do Formulário Ortográfico de 1911.
 
Abraço.
AP

segunda-feira, 10 de junho de 2013

.Multi-grill, multi grill ou multigrill?

Restaurante na Amora
 
 
Mais uma situação em que o hífen é a personagem principal…
Para variar, neste caso, a resposta é igual para Portugal e Brasil e o Novo Acordo Ortográfico nada altera, consagrando o que já era hábito fazer-se: hifenizar.
O que mudou (para melhor) é que que o era prática comum, mas sem uma regra escrita, deu corpo à nova regra que determina que o hífen é usado após prefixos e radicais de composição quando “a palavra a que se juntam é um estrangeirismo, um nome próprio ou uma sigla: anti-apartheid, anti-Europa, mini-GPS.
 
 
Conclusão:
Sendo grill um estrangeirismo, só podemos escrever: multi-grill
Nota: Ainda que o nome do restaurante que está na imagem (“Multi-Grill Churrasqueira”) não estivesse conforme às regras da língua portuguesa, não teria de fazer qualquer correcção, considerando o que Base XXI do Novo Acordo estabelece: “Para ressalva de direitos, cada qual poderá manter a escrita que, por costume ou registo legal, adote na assinatura do seu nome.
Com o mesmo fim, pode manter-se a grafia original de quaisquer firmas comerciais, nomes de sociedades, marcas e títulos que estejam inscritos em registo público.

Abraço.
AP


domingo, 2 de junho de 2013

.para-médico ou paramédico?

Imagem encontrada AQUI.

Segundo a tradição lexicográfica, não era habitual colocar hífen a seguir ao prefixo para- (que significa preparar, esforçar-se por obter), à semelhança do que se fazia, por exemplo, com os prefixos in- e des-.
 
 Com o Novo Acordo Ortográfico, “Nas formações com prefixos (…) e em formações por recomposição, isto é, com elementos não autónomos ou falsos prefixos, de origem grega e latina (…) só se emprega o hífen nos seguintes casos: a) Nas formações em que o segundo elemento começa por h (…); b) Nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo termina na mesma vogal com que se inicia o segundo elemento (…).
Obs.: Resumindo, com o prefixo para-, haverá hífen quando o segundo elemento começar por h ou a. Só me ocorre para-hospital, considerando que existe o termo parafarmácia…

Nota: Não confundir o prefixo com a forma verbal para (verbo parar), que perdeu o acento com o NAO, em que o hífen se mantém: para-raios, para-vento, etc. O Acordo Ortográfico introduziu a exceção paraquedas (como paraquedismo e paraquedista).

Conclusão:
Era e continua a ser: paramédico.

Abraço e bom domingo!
AP
 


segunda-feira, 27 de maio de 2013

.mal comportado, mal-comportado ou malcomportado?

Imagem encontrada AQUI.
 
É comum vermos as três grafias do desafio de hoje, sobretudo “mal comportado”. Há uma única grafia correta? É isso que vamos ver. Para variar, a resposta é igual para Portugal e Brasil.
Mal (como bem) tem uma função prefixal, mas é um advérbio, dando origem a palavras compostas. O Novo Acordo Ortográfico refere-se-lhe explicitamente, não alterando as regras de 1943 (Brasil) e de 1945 (Portugal).
Eis o que diz o nº 4 da Base XVI: “Emprega-se o hífen nos compostos com os advérbios bem e mal, quando estes formam com o elemento que se lhes segue uma unidade sintagmática e semântica e tal elemento começa por vogal ou h. No entanto, o advérbio bem, ao contrário de mal, pode não se aglutinar com palavras começadas por consoante.

Conclusão:
Apesar de tudo, as regras aplicáveis a mal são mais regulares do que as aplicamos a bem (que será aqui abordado num futuro artigo). Só há hífen antes de vogal ou h: mal-educado e mal-humorado, mas… malcheiroso, maldisposto, malgovernado, malvisto e malcomportado!

(Com)portem-se bem!
Abraço.
AP


sexta-feira, 17 de maio de 2013

.co-adoção OU coadoção?

Imagem encontrada AQUI.
 
O dilema de hoje ocorreu-me depois de ter visto, ao longo do dia, as duas grafias nas televisões: coadoção da TVI e co-adoção na SIC.
A. Se vive em Portugal e continua a reger-se pela Convenção de 1945, deve escrever co-adopção. É brasileiro e quer continuar a seguir o Formulário de 1943? Nesse caso, escreva co-adoção. 
 
B. Com a aplicação do Novo Acordo, esta é uma daquelas palavras que fica irreconhecível. Eis as razões:
1. A Base IV, ponto 1., determina a queda do p (o que já tinha acontecido no Brasil em 1943): “O c (…) e o p (…) ora se conservam, ora se eliminam.
Assim: (…)
b) Eliminam-se nos casos em que são invariavelmente mudos nas pronúncias cultas da língua: ação, acionar, afetivo, aflição, aflito, ato, coleção, coletivo, direção, diretor, exato, objeção; adoção, adotar, batizar, Egito, ótimo;
2. O hífen teve o mesmo destino do p: sumariamente eliminado! E como se uma não fosse suficiente, levou duas estocadas. Instrumento do “crime”: Base XVI do Novo Acordo.
a) O ponto 1., nas alíneas a) e b) determina que só há hífen antes de h e quando o prefixo ou termina na mesma vogal com que se inicia o segundo elemento (como em anti-inflamatório);
b) Ainda que o hífen tivesse sobrevivido às sevícias referidas em a), a observação colocada junto à alínea b) do ponto 1. ter-lhe-ia dado o golpe de misericórdia: “Nas formações com o prefixo co-, este aglutina-se em geral com o segundo elemento mesmo quando iniciado por o: coobrigação, coocupante, coordenar, cooperação, cooperar, etc.
Quer isto dizer que com o prefixo co- só há hífen antes h. Assim sendo, a grafia atual da palavra é coadoção.
 
 
Nota complementar: A Academia Brasileira de Letras decidiu, em nome da simplificação, mas à revelia do está escrito no texto do NAO, que co- aglutina sempre. Assim, à semelhança do que já acontecia com coabitação, os falantes brasileiros passaram a escrever coerdeiro. Em Portugal, mantém-se a grafia co-herdeiro. A par de outras, esta é uma situação em que os dois lados do Atlântico divergem na aplicação do AO.
 
 
Conclusão:
Tanto em Portugal como no Brasil: coadoção.

Abraço.
AP


segunda-feira, 6 de maio de 2013

.Alliance Française aplica AO… a 50%?

Ando sempre com a máquina fotográfica a postos, pois, quando menos espero, surgem materiais interessantes para os meus blogues.
Enquanto esperava por uma ligação no Metro (estação Marquês de Pombal), vi um anúncio da Alliance Française, tendo fotografado este extrato:

 
Fiquei na dúvida…

A Alliance Française:
a)    aplica o AO a 50% escrevendo (bem) verão com minúscula e (mal) os meses do ano com maiúscula?
OU
b)   não aplica o AO, mas tem um erro ortográfico no cartaz quando escreve (mal) verão com minúscula?

Vamos aos factos:
1. Eis o que se diz no Novo Acordo Ortográfico, Base XIX, nº 1 b):
“A letra minúscula inicial é usada (…) Nos nomes dos dias, meses, estações do ano: segunda-feira; outubro; primavera.”
2. No português europeu, embora usássemos minúscula nos dias da semana, escrevíamos os nomes dos meses e das estações do ano com maiúscula. No português do Brasil, como nas outras línguas latinas (como é o caso do francês), todos os nomes do calendário já eram escritos com minúscula.

Nota final:
Consultando os sítios da Alliance Française, concluí que esta instituição não aplica o AO. Nada contra, uma vez que o período de transição só termina em maio de 2015 (janeiro de 2016 no Brasil). Logo, há um erro ortográfico no cartaz (talvez por contaminação com o francês). Pode acontecer, mas é sempre uma má publicidade…

 
À bientôt.
AP

quarta-feira, 1 de maio de 2013

.Co-herdeiro ou coerdeiro?

Imagem encontrada AQUI.

Este é um dos casos em que há divergências, entre Portugal e Brasil, na interpretação do que está prescrito no texto do Novo Acordo Ortográfico.

A. O que diz o AO na Base XVI, ponto 1. a) e b)
Nas formações com prefixos (…) e em formações por recomposição, isto é, com elementos não autónomos ou falsos prefixos, de origem grega e latina (…)só se emprega o hífen nos seguintes casos:
(…) Nas formações em que o segundo elemento começa por h: anti-higiénico/anti-higiênico, circum-hospitalar, co-herdeiro (…).
Obs.: Nas formações com o prefixo co-, este aglutina-se em geral com o segundo elemento mesmo quando iniciado por o: coobrigação, coocupante, coordenar, cooperação, cooperar, etc.

Comentário:
Sendo o texto claro, não eram previsíveis divergências. Sobretudo, sendo um dos exemplos apresentados no texto do AO… co-herdeiro! Na observação, diz-se que, em geral, há aglutinação de co- com o elemento seguinte. No entanto, “em geral” não é sinónimo de sempre…

B. Um oceano a separar Portugal do Brasil...
1. Com interpretações estapafúrdias noutros casos (sobretudo com a hifenização das locuções), aqui, Portugal andou bem e aplicou de forma fiel o que diz o AO: co-herdeiro.
2. A Academia Brasileira de Letras, com base no princípio da “simplificação”, decidiu que com co- há sempre aglutinação. Assim sendo, no seu VOLP regista apenas coerdeiro (a par de coabilidade, por exemplo).
Andou mal a ABL nesta decisão unilateral. Sendo verdade que a simplificação era um dos objetivos do AO, o principal argumento usado na sua defesa era a promoção da língua portuguesa através da criação de uma única norma para a sua regulamentação. O que se conseguiu neste caso? Onde antes tínhamos uma única grafia, passámos a ter duas: uma para o Brasil e outra para a restante lusofonia.


Conclusões:
PORTUGAL
BRASIL
co-herdeiro (não houve alteração)
coerdeiro (nova grafia) 
Nota: Até 1/01/2016, os brasileiros podem continuar a escrever co-herdeiro, pois o período de transição foi prorrogado pelo governo brasileiro.

 
Abraço.
AP