O salsicha (teckel) é considerado num estudo “o cão mais feroz do mundo”. Leia
AQUI.
Numa pergunta publicada hoje no
Ciberdúvidas, um consulente queria saber os femininos de várias raças:
são-bernardo, rafeiro-alentejano, serra-da-estrela e cão-d’água. Extrato da
resposta: “Convém, no entanto, precisar o
seguinte: com exceção do
«são-bernardo», julgo que nenhuma das outras raças elencadas pelo estimado
consulente é comummente grafada com hífen, sendo que, no caso dos
«rafeiros alentejanos», será ainda de notar que a nomenclatura usada parece
frequentemente variar entre a já referida e «rafeiro do Alentejo». (…) Pedro
Mateus:: 29/10/2012”
Tenho por Pedro Mateus a maior das
considerações, mas não estou de acordo com o que diz. Passo a explicar
porquê.
A. O nº 3 da Base XV do Novo Acordo
Ortográfico estabelece: “Emprega-se o hífen nas palavras
compostas que designam espécies botânicas e zoológicas, estejam ou não ligadas
por preposição ou qualquer outro elemento: abóbora-menina, couve-flor,
erva-doce, feijão-verde; bênção-de-deus, erva-do-chá, ervilha-de-cheiro, fava-de-santo-inácio,
bem-me-quer (nome de planta que também se dá à margarida e ao malmequer);
andorinha-grande, cobra-capelo, formiga-branca; andorinha-do-mar, cobra-d'água,
lesma-de-conchinha; bem-te-vi (nome de um pássaro).”
Não
havendo a referência a qualquer exceção (ao contrário do que acontece, por exemplo,
no nº 6 da mesma Base XV, em relação às locuções), os compostos que designam
espécies botânicas e zoológicas devem ser todos hifenizados? Se os objetivos do NAO são
unificar e simplicar o uso da língua portuguesa, a resposta só pode ser sim.
Pergunta - “Gostaria de saber se,
segundo a norma culta, a raça canina se escreve
"perdigueiro-português" ou "perdigueiro português".”
Resposta – “A respeito do nome em
questão, não encontro registos lexicográficos, mas suponho que as tendências
atrás indicadas também eram aplicáveis: perdigueiro-português, em Portugal, e
perdigueiro português no Brasil.
O AO 1990 unifica estes casos, porque determina que em compostos que designam
espécies botânicas e zoológicas se use sempre o hífen (Base XV, 3.º): donde,
perdigueiro-português. Carlos Rocha:: 09/06/2010”
Esta
unificação a que alude Carlos Rocha confirma a ideia de que tem de haver sempre hífen neste tipo de compostos.
C. A aplicação desta regra é um dos elos
mais fracos do Novo Acordo Ortográfico. A regra é boa e ajuda os utentes da
língua, mas os dicionários e o Portal da Língua Portuguesa não a seguem com rigor.
Provas? Ei-las nesta amostra, muito reduzida, mas significativa:
Hifenizado?
|
|||
Raças de cães
|
Portal da Língua Portuguesa
|
Porto Editora
|
Priberam
|
São-bernardo
|
Sim
|
Sim
|
Sim
|
Rafeiro-alentejano*1
|
Não
|
Não
|
Não
|
Serra-da-estrela
|
Sim
|
Não
|
Não
|
Cão-d’água*1
|
Não
|
Sim
|
Não
|
Cão-salsicha
|
Não
|
Sim
|
Não
|
NOTA FINAL:
Em relação às entradas de espécies
botânicas e zoológicas, há um fosso imenso entre o Vocabulário Ortográfico do Português (VOP), em Portugal, e o Vocabulário
Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP),
no Brasil. Considerando o tal objetivo de unificação do Novo Acordo, é incompreensível esta disparidade. Alguns exemplos:
1. Quanto à pimenta,
enquanto no VOLP há 59 compostos, cá...
apenas 7. A branca, a de caiena, a rosa ou a verde não são espécies? Para o Portal da Língua
Portuguesa, não.
2. No feijão, outra
goleada. Lá: 194; cá: 12. Mas, na lista nacional, não há feijão-branco, feijão-preto,
feijão-ervilheiro ou feijão-encarnado, tudo espécies
cultivadas e consumidas em Portugal.
3. Finalmente, o interessantíssimo caso do badejo. No VOP, não há
escolha: apenas… badejo.
Já no VOLP, há muito por onde
escolher. Embora no Brasil haja apenas seis, é-nos apresentada uma lista com 17
espécies: badejo-alto, badejo-bicudo, badejo-branco, badejo-da-areia,
badejo-da-pedra, badejo-de-lista, badejo-ferro, badejo-fogo,
badejo-mira, badejo-padre, badejo-pintado,
badejo-preto, badejo-quadrado, badejo-sabão,
badejo-saltão, badejo-sangue e badejo-sapateiro.
Temos por cá, na Madeira, o badejo-amarelo, que o VOP desconhece… Imagem obtida AQUI.
CONCLUSÃO:
Portugal
(norma luso-afro-asiática) e Brasil (norma brasileira)
cão-salsicha
|
Abraço.
APNova mensagem no http://portuguesemforma.blogspot.pt:
Língua viva: ferryboat, ferribote ou tanto faz?
Muito legal o BLOG
ResponderExcluirJá estou seguindo
Um beijo,
suavemalicia.blogspot.com.br
Obrigado, Aline.
ExcluirBeijo para si também.
AP
Em primeiro lugar, gosto bastante deste blogue.
ResponderExcluirEstou neste momento a tentar encontrar alguma norma em relação à forma de escrever o nome das raças de cães em Português, mas está difícil. A dúvida não se coloca em relação ao hífen (que, muito sinceramente, ainda não vi ninguém utilizar em Medicina Veterinária), mas sim em relação às palavras propriamente ditas. Por exemplo, Bouledogue Francês vs. Buldogue Francês. A primeira forma é a que surge nos registos do Clube Português de Canicultura, que no entanto regista "Bulldog Inglês". "Bouledogue Francês" é também a forma utilizada no preenchimento do registo no Sistema de Identificação e Recuperação Animal (SIRA). Também não percebo o porquê de se escrever Retriever do Labrador (em vez de Labrador Retriever) e não se escrever Retriever da Baía de Chesapeake (em vez de Chesapeake Bay Retriever). A incoerência é flagrante. E são apenas dois exemplos. Gostava, realmente, de ver isto esclarecido.
Entretanto, em relação ao que li aqui no blogue a propósito de "espécies botânicas e zoológicas", sinto-me obrigada a fazer uma nota. É que "raça" é diferente de "espécie". A título de exemplo, globalmente os vários "badejos" que aí aparecem são nomes de uso comum para espécies distintas. Com o cão não é isso que se passa. Se calhar é só um pormenor.
Cara Joana:
ExcluirEm primeiro lugar, ainda bem que gosta do trabalho que vou partilhando aqui no blogue.;)
Começando pelo último parágrafo do seu comentário, tem razão na distinção que faz entre "raça" e "espécie". Neste aspeto, o AO90 é pouco rigoroso. No entanto, o entendimento dos especialistas é que, quando se diz "espécies", está tudo incluído: subespécies, raças, fungos, etc.
Quanto às incoerências que refere, o assunto é espinhoso, mas vou tentar ajudá-la com uma pesquisa nas principais fontes de referência. Entretanto, peça-me amizade no Facebook e falamos lá e dou-lhe o meu email em mensagem privada:
https://www.facebook.com/pelalinguaportuguesa
Abraço.