Ontem à noite, quando me apareceu este título no canto inferior direito do ecrã, nem conseguia decifrar o título...
Esta é uma das confusões geradas pela forma como está redigido o Novo Acordo Ortográfico. Em nome da
sacrossanta uniformização, enfiaram tudo no mesmo saco e criaram esta a alínea c) da Base IV, uma verdadeira pérola… de cultura:
“Conservam-se ou eliminam-se
facultativamente, quando se proferem numa pronúncia culta, quer geral, quer
restritamente, ou então quando oscilam entre a prolação e o emudecimento:
aspecto e aspeto, cacto e cato, caracteres e carateres, dicção e dição; facto e fato, sector e
setor, ceptro e cetro, concepção e conceção, corrupto e corruto, recepção e
receção;”
À primeira vista, parecia claro que, em todo o universo
lusófono, coexistiria a dupla grafia facto/fato.
Só
a leitura da “Nota explicativa - Anexo II do Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa” permite
esclarecer o equívoco:
“O terceiro caso que se
verifica relativamente às consoantes c e p diz respeito à oscilação de pronúncia,
a qual ocorre umas vezes no interior da mesma norma culta (cf., por exemplo,
cacto ou cato, dicção ou dição, sector ou setor, etc.), outras vezes entre
normas cultas distintas (cf., por exemplo, facto receção em Portugal, mas fato, recepção no Brasil).”
O
que deveria estar bem claro no texto principal, surge, como exemplo, escondido no parênteses de um anexo...
Finalmente, no mesmo anexo, passa-se a bola
para que outros façam o trabalho que deveria ter sido feito logo à partida:
“Os dicionários da língua portuguesa, que
passarão a registar as duas formas em todos os casos de dupla grafia,
esclarecerão, tanto quanto
possível, sobre o alcance geográfico e social desta oscilação de
pronúncia.”
“tanto quanto possível”? Boa!
CONCLUSÃO:
Em Portugal, não houve alteração e o facto continua a
ser facto!
No Brasil, a Academia de Letras consagra uma dupla grafia fato/facto (também anterior ao AO90), mas, na prática, todos escrevem e dizem fato.
Mas nada desculpa este verdadeiro “lapsus horribilis” do Notícias ao Minuto. Logo, reguada neles!
Abraço.
ProfAP