Embora seja a minha área de formação, estou
afastado há algum tempo do mundo dos exames de Português. Sempre me pareceu
especulativa a informação veiculada nos meios de comunicação de que a não
aplicação das regras do A90 poderia custar aos alunos a perda de 5 valores. No
entanto, não tendo dados objetivos, não comentei o assunto. Quando ontem
consultava o Ciberdúvidas (AQUI), encontrei um artigo que contesta o que foi divulgado.
Erros ortográficos devido ao uso da antiga grafia
chegarão no máximo a 0,5 por cento na avaliação do 12.º ano
(…) nos critérios
específicos de avaliação da prova de exame em apreço estão previstos descontos
por aplicação de fatores de desvalorização no domínio da correção linguística
até um máximo de 40 pontos. Dependendo da natureza de cada erro (ortografia,
sintaxe, morfologia, impropriedade lexical), os descontos a aplicar podem
corresponder a uma desvalorização de 1 ou de 2 pontos por erro (em 200 pontos).
Por um lado, é de salientar que o erro de ortografia diz respeito a
apenas um dos diversos fatores de desvalorização previstos, dando origem ao
desconto de 1 ponto. Por outro lado, tomando como valor de referência 200 mil
entradas do Vocabulário Ortográfico do Português (VOP), a percentagem de
palavras alteradas pelo AO em Portugal é de 1,56%. Importa referir que, se
entre essas palavras existem algumas com elevado índice de frequência de uso
(e.g. "ato", "atual", "direto",
"exato", "objeto"), a maioria são palavras de uso restrito
a registos especializados (técnicos e científicos), de baixo índice de
frequência.
Considerando os dados apresentados, ainda que os alunos optem por
não respeitar o AO, situação para cujas consequências estão devidamente
alertados, em termos médios, a probabilidade de desvalorização por erros
ortográficos devido ao uso da antiga grafia é de 0,6 pontos, ou seja, 1 ponto
em 200, ou seja, ainda, 0,5% da cotação total da prova (o que contrasta de
forma gritante com os 25% referidos na notícia publicada pelo Diário de
Notícias). (…)
O Conselho Diretivo do IAVE, I.P.,
Lisboa, 12 de março de 2015
Fica partilhado o esclarecimento. Mas aquelas
contas ali mesmo no final estão um pouco atabalhoadas… E devo dizer que se as
notícias divulgadas me deixaram muitas dúvidas com o cenário de descontos até 5
valores (50 pontos), as contas do IAVE que concluem que a probabilidade de descontos
não vai além de 1 ponto também me parecem uma versão light. Mas é apenas uma
impressão. Onde está a verdade? Aí, não tenho dúvidas: no vinho!
Abraço.
ProfAP