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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Receita 15: massa de pimentão

Hoje, para variar, não há desafio linguístico. Trago-vos mais uma receita...

Para quem como eu tem pimentos no quintal ou quer fazer a sua própria massa de pimentão, aproveitando, por exemplo, uma promoção, deixo uma receita fácil de realizar.
Concluí há pouco a confeção deste personalizado tempero e ficou excelente! Em relação à receita que está no vídeo, introduzi duas alterações:
1. Não tirei a pele dos pimentos, pois dá um gostinho mais forte à massa.
2. Aos pimentos tromba-de-boi (os que costumamos ver à venda), bem vermelhinhos (confirmando que estão maduros), juntei alguns frutos (também maduros) de pimento-padrão por serem ligeiramente picantes.



Até amanhã!
AP

quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Em bom português: genuíno ou genuino?


A resposta é… genuíno!

A explicação para este acento agudo está no texto do Novo Acordo, mas já vem de 1943 (Brasil) e 1945 (Portugal).
A Base X sobre a acentuação das vogais tónicas i e u das palavras oxítonas (agudas) e paroxítonas (graves) determina que há acento quando o u e i tónicos são antecedidos de vogal com que não formem ditongo e seguidos de consoante com que não constituam sílaba.
Analisemos a palavra: ge-nu-í-no.*
a) O u está integrado numa sílaba diferente e não forma ditongo com o i tónico: nu-í;
b) O i tónico não constitui sílaba com a consoante que vem a seguir: í-no.

Abraço.
AP

*Se fosse uma translineação, a divisão das sílabas seria diferente.

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Em bom português: foto-reportagem, foto reportagem ou fotorreportagem?

Esta foi a pergunta que o Paulo Pereira me deixou ontem na caixa de comentários.
A grafia correta é fotorreportagem.
A justificação está na base XVI, ponto 2. a): “a) Nas formações em que o prefixo ou falso prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por r ou s, devendo estas consoantes duplicar-se, prática aliás já generalizada em palavras deste tipo pertencentes aos domínios científico e técnico. Assim: antirreligioso, antissemita, contrarregra, contrassenha, cosseno, extrarregular, infrassom, minissaia, tal como biorritmo, biossatélite, eletrossiderurgia, microssistema, microrradiografia.
Esta procedimento de formação de palavras por prefixação, que já era aplicado a algumas palavras (por exemplo, em fotossíntese, biorritmo e biossatélite), generalizou-se com a entrada em vigor do Novo Acordo.
Há uma única exceção a ter em conta: sempre que o segundo elemento é um estrangeirismo, sigla ou nome próprio, o hífen é obrigatório. Exemplos: anti-stress (antiestresse no Brasil, uma vez estresse já não é estrangeirismo), anti-Sócrates, anti-SNS*.

Até amanhã.
AP

*Serviço Nacional de Saúde.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Em bom português: “arbusto” e “árvore” são da mesma família?

Foto tirada no Hotel Convento de São Paulo (Aldeia da Serra-Redondo)

Numa conversa no café, um amigo fez-me esta pergunta. Após a pesquisa em várias fontes, encontrei uma resposta simples e completa no Ciberdúvidas, publicada em 2007:
“A palavra árvore teve origem no substantivo latino arbore(m). A palavra arbusto provém igualmente da língua latina: do substantivo arbustu(m) e do adjetivo arbustus.
Na língua portuguesa, arbore evoluiu para árvore por influência da linguagem popular. A palavra arbusto, por ser menos usada, manteve-se mais próxima da palavra original. Como é evidente, árvore e arbusto pertencem à mesma família.”

Voltarei amanhã com mais um dilema.
AP

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Em bom português: açoreano ou açoriano?


Deixaram-me há pouco esta dúvida na caixa de comentários.

A resposta é açoriano. A justificação está na Base V (vogais átonas) do texto do Acordo Ortográfico, c):
Escrevem-se com i, e não com e, antes da sílaba tónica/tônica, os adjetivos e substantivos derivados em que entram os sufixos mistos de formação vernácula -iano e -iense, os quais são o resultado da combinação dos sufixos -ano e -ense com um i de origem analógica (baseado em palavras onde -ano e -ense estão precedidos de i pertencente ao tema: horaciano, italiano, duriense, flaviense, etc.): açoriano, acriano (de Acre), camoniano, goisiano (relativo a Damião de Góis), siniense (de Sines), sofocliano, torriano, torriense [de Torre(s)].
Dito de uma forma mais simples, as terminações –iano e –iense (com pronúncias muito variadas) são sempre com i.

Observações:
1. Não há referências às regras a aplicar a estas terminações na Reforma de 1911 adotada em Portugal e estendida ao Brasil cerca de 20 anos depois.
2. No Formulário de 1943 (Brasil) preveem-se casos de dupla grafia com e e i (por exemplo, cardeal/cardial), mas nada se diz sobre as terminações –iano e –iense.
3. Na Norma de 1945 (Portugal) também são aceite grafias duplas com e ou i (como ameaça/amiaça), mas açoriano já só se escrevia com i como atualmente.
Abraço para todos, em especial para a internauta que enviou a pergunta.
AP

domingo, 26 de agosto de 2012

Em bom português: Gibraltar pronuncia-se "Gibráltar" ou "Gibraltár"?

Este caso parece “não ter espinhas”! A palavra, de origem árabe (corruptela de Jabal-al-Tariq «Monte de Tariq»), é oxítona (aguda), pelo que a pronúncia recai na última sílaba: Gibraltar. A conclusão é válida para as duas normas: a luso-africana e a brasileira.

Bom resto de domingo!
AP

sábado, 25 de agosto de 2012

Em bom português: peru ou perú?

Para resolver o dilema de hoje, basta uma curta viagem ao interior das regras de acentuação do Novo Acordo (que, neste caso, mantém as já estabelecidas em 1943 1945):
a) Diz a Base VIII, nº 1 a), que se acentuam com acento agudo as “palavras oxítonas terminadas nas vogais tónicas/tônicas abertas grafadas -a, -e ou -o, seguidas ou não de -s: está, estás, já, olá; até, é, és, olé, pontapé(s); avó(s), dominó(s), paletó(s), só(s).”;
b) Em relação às vogais i e u tónicas, diz a Base X: “As vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras oxítonas e paroxítonas levam acento agudo quando antecedidas de uma vogal com que não formam ditongo e desde de que não constituam sílaba com a eventual consoante seguinte, excetuando o caso de s: adaís (pl. de adail), aí, atraí (de atrair), baú (…)

CONCLUSÃO:
Não terminando em a, e ou o abertos e não sendo o seu u tónico antecedido de vogal, só podemos escrever, em todo o espaço da língua portuguesa, a palavra peru sem acento. Casos semelhantes: menu, nu, canguru, caju, lulu, tofu, tribufu, urubu.

Continuação de bom sábado!
AP

sexta-feira, 24 de agosto de 2012

Em bom português: item ou ítem?

1. A grafia correta é item, sem qualquer acento. Com a terminação “em”, apenas as palavras oxítonas (agudas), com mais de uma sílaba, levam acento: também, Belém, contém. Regra estabelecida na Base VIII do Novo Acordo, ponto 1. c), já vigente nos documentos de 1943 e 1945.
2. Quanto ao plural, aplica-se-lhe a mesma regra: itens.
3. Como se pronuncia? Não sendo aceitável a pronúncia “áitéme”, há duas formas de dizer consideradas válidas:
a) À maneira latina: “íteme”;
b) A forma aportuguesada, que prefiro: “ítem” (como idem).

Bom serão!
AP

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Em bom português: Nobel pronuncia-se “Nóbel” ou “Nobél”?


Para todo o mundo da lusofonia, neste caso, parece que não há dúvidas: Escreve-se Nobel e deve dizer-se “Nobél”.
Razões:
1. A palavra é oxítona (aguda), como papel, Babel ou batel. Se fosse paroxítona (grave), teria de ser acentuada, de acordo com a Base IX do Acordo Ortográfico, que retoma o que já estabelecido na Norma de 45 e Formulário Ortográfico de 43, no Brasil, como acontece, por exemplo, com agradável, automóvel ou telemóvel.
2. A pronúncia original do nome do criador do prémio é “Nobél”.
Nota: Existindo a palavra como nome comum, designando o “prémio que é atribuído anualmente às pessoas que se destacaram pelo seu contributo nos domínios da Física, Medicina, Literatura, Química, Economia e Paz”, o plural terá de ser grafado com acento: nobéis. Exemplo: “Os nobéis são um estímulo importante!” A razão está na Base VIII, ponto 1. b) do Acordo: “Acentuam-se com acento agudo: (…) d) As palavras oxítonas com os ditongos abertos grafados -éi, éu ou ói, podendo estes dois últimos ser seguidos ou não de -s: anéis, batéis, fiéis, papéis; céu(s), chapéu(s), ilhéu(s), véu(s); corrói (de correr), herói(s), remói (de remoer), sóis.”. Esta regra também já vem das reformas de 43/45.

Abração!
AP

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Quem acompanhou o pardal na Arca de Noé: a pardaloca, a pardoca, a pardaleja, a pardeja ou a pardala?


O pardal tem uma fêmea que vale por quatro! Pode, carinhosamente, chamá-la “doce pardaloca”, “excelsa pardoca”, “inigualável pardaleja”, “rara pardeja” ou simplesmente recorrer ao sempre eficaz: “meu bem”!
Pardala, só como metáfora, mas não fica bem. É nome de rua e de topónimo… Um cumprimento especial para o Lugar da Pardala, no concelho de Ovar – Aveiro.

No Brasil, os dicionários e a Academia Brasileira das Letras registam as mesmas quatro designações, pelo que a pardalada une o mundo da lusofonia!

Abraço para todos!
AP

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Em bom português: geladaria ou gelataria?

Para quem gosta mesmo de café, aconselho o Expresso.
(Há também Mocaccino e Capuccino, que ainda não provei.)


Em 2002, na resposta a um consulente, diz-se no Ciberdúvidas: “A palavra corretamente formada é mesmo geladaria: gelado+aria.
É como se encontra registada nos melhores e mais modernos dicionários de língua portuguesa. Por exemplo, no recentíssimo Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea da Academia das Ciências de Lisboa (Editorial Verbo, Lisboa) ou no Novo Aurélio, Século XXI (Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro). A última edição (a 8.ª) do Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora também o faz, ignorando, portanto, o barbarismo “gelataria”. Ainda bem (…).”

Passados dez anos, tudo se alterou. Tanto a Porto Editora como o Portal da Língua Portuguesa registam os dois termos, colocando-os ao mesmo nível. O Dicionário da Academia das Ciências que tenho (e que data de 2001) não regista gelataria. Creio que não há edições posteriores a essa data.


CONCLUSÕES:
Norma luso-africana: Parece-me que é possível usar, sem restrições, geladaria e gelataria. A diferença resulta apenas da formação de cada uma das palavras. Gelataria forma-se a partir de um italianismo (gelato+aria), mas não é um estrangeirismo. Geladaria resulta da soma gelado+aria.
Nas “Dúvidas Linguísticas do FLIP, numa resposta dada em 2007, diz-se que há “autores que consideram esta última forma como menos preferencial, visto ser derivada por sufixação de um estrangeirismo.”

No Brasil, nem os dicionários nem o Vocabulário da Academia Brasileira registam as entradas geladaria/gelataria, pois o termo usado é sorveteria!


E vou refrescar-me à antiga: um copo de água fresca com uma colher de sopa de xarope de groselha!
AP

segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Em bom português: nublado ou nebulado?


Segundo o Ciberdúvidas, nublado é a palavra adequada para designar “coberto de nuvens”.
Embora existam outros adjetivos equivalentes como enevoado (part. passado de enevoar), enublado (part. passado de enublar) e nubloso (do latim nubilōsu-), nebulado não é um deles. Para Eunice Marta (Ciberdúvidas), a confusão deve-se “à analogia com o adjetivo nebuloso (do latim nebulōsu-), ou, talvez, devido à existência do verbo nebular (pouco conhecido) que significa «tornar nebuloso; enevoar». 


CONCLUSÕES:

Em Portugal: O céu pode estar nublado, sim! E também enevoado (part. passado de enevoar), enublado (part. passado de enublar), nubloso (do latim nubilōsu-) e até nebuloso (do latim nebulōsu-), mas nebulado é que não!
No Brasil: Considerando que o dicionário Aurélio e a Vocabulário da Academia Brasileira das Letras regista nebulado como adjetivo, podemos considerar que, no lado de lá do Atlântico, o céu pode estar nublado  e também nebulado!

Boa semana!
AP

domingo, 19 de agosto de 2012

Em bom português: Raul ou Raúl?

A resposta é Raul, sem acento.
A justificação técnica está no nº 2 da Base X do Novo Acordo (“DA ACENTUAÇÃO DAS VOGAIS TÓNICAS/TÔNICAS GRAFADAS I E U DAS PALAVRAS OXÍTONAS E PAROXÍTONAS: As vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras oxítonas e paroxítonas não levam acento agudo quando, antecedidas de vogal com que não formam ditongo, constituem sílaba com a consoante seguinte, como é o caso de nh, l, m, n, r e z: bainha, moinho, rainha; adail, paul, Raul; Aboim, Coimbra, ruim; ainda, constituinte, oriundo, ruins, triunfo; atrair, demiurgo, influir, influirmos; juiz, raiz, etc.

Analisemos a palavra Ra-ul: Há um u tónico antecedido da vogal a (não formando ditongo com ela) que constitui sílaba com a consoante l (ul).
A regra não é nova, retomando o que estava em vigor em Portugal desde 45 e no Brasil desde 43.
Lamentavelmente, na reformulação, ao pôr no mesmo saco nh, l, m, n, r e z, o resultado foi "estragar" a regra e induzir os falantes em erro. Em ba-i-nha, mo-i-nho e ra-i-nha o i é antecedido de vogal com que não forma ditongo, mas não forma sílaba com nh. Logo, seguindo a regra à letra, teríamos de escrever “baínha”, “moínho” e “raínha”, quando nenhuma destas palavras é acentuada.


Comparemos com a redação anterior:
1. Norma de 1945 (espaço luso-africano): “Prescinde-se do acento agudo nas vogais tónicas i e u de vocábulos oxítonos ou paroxítonos, quando, precedidas de vogal que com elas não formam ditongo, são seguidas de l, m, n, r ou z finais de sílaba, ou então de nh: adail, hiulco, paul; Caim, Coimbra, ruim; constituinte, saindo, triunfo; demiurgo, influir, sairdes; aboiz, juiz, raiz; fuinha, moinho, rainha.
2. Formulário Ortográfico de 1943 (Brasil): “Põe-se o acento agudo no i e no u tônicos que não formam ditongo com a vogal anterior: aí, balaústre, cafeína, cais, contraí-la, distribuí-lo, egoísta, faísca, heroína, juízo, país, peúga, saía, saúde, timboúva, viúvo, etc.
Observação 1ª - Não se coloca o acento agudo no i e no u quando, precedidos de vogal que com eles não forma ditongo, são seguidos de l, m, n, r ou z que não iniciam silabas e, ainda, nh: adail, contribuinte, demiurgo, juiz, paul, retribuirdes, ruim, tainha, ventoinha, etc.
Observação 2ª - Também não se assinala com acento agudo a base dos ditongos tônicos iu e ui, quando precedidos de vogal: atraiu, contribuiu, pauis, etc.
A ânsia de simplificar a regra levou à sua deturpação.


CONCLUSÃO: Não se coloca o acento agudo no i e no u tónicos quando, precedidos de vogal que com eles não forma ditongo, são seguidos de l, m, n, r ou z com que constituem sílabas não iniciam silabas e, ainda, de nh: pa-ul, Co-im-bra, tri-un-fo, ca-ir, ju-iz, la-da-i-nha.

Bom resto de domingo!
AP

Em bom português: linguíça ou linguiça? (atualizado)

Como vimos ontem, devemos escrever linguiça (pelas razões apresentadas AQUI).
Volto ao assunto para vos trazer uma dica:
Nas palavras graves (paroxítonas), em geral, não há acento no i que venha a seguir aos grupos gu ou qu: linguiça, linguista.
Como não há bela sem senão, algumas formas verbais conjugadas não seguem a dica. É o caso de delinquíreis (pret. mais-que-perfeito) e de arguísseis (pret. imperfeito do conjuntivo).
Voltarei mais logo com mais dilema: Raul ou Raúl?



Abraço.
AP

sábado, 18 de agosto de 2012

Em bom português: linguíça ou linguiça?

O nº 1 da base X do Novo Acordo Ortográfico retoma o que estava estatuído pela Norma de 1945: As vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras oxítonas e paroxítonas levam acento agudo quando antecedidas de uma vogal com que não formam ditongo e desde de que não constituam sílaba com a eventual consoante seguinte, excetuando o caso de s: adaís (pl. de adail), aí, atraí (de atrair), baú (…), Luís, país, etc.; alaúde, amiúde, (…), baía, balaústre, cafeína, ciúme, egoísmo, faísca, faúlha, graúdo (…) juízes, Luísa, miúdo, paraíso, raízes, recaída, ruína, saída, sanduíche, etc.”

Seguindo a regra, teríamos “linguíça”, mas, mais uma vez se confirma que não há coisas simples na nossa língua.
Citando o Ciberdúvidas, Os dígrafos gu, qu têm normalmente o som da consoante (ex.: guizo, subs., guiso, forma verbal, quente, etc.). O grafema u, seguido de i ou de e, é um símbolo no grupo, sem som, não independente. Para que o u se pronuncie, é necessário impor essa condição no grupo.

Então, o que nos leva a pronunciar o u?
Até meados do século XX, escrevíamos “lingüiça”. A Norma de 45 suprimiu o trema no português europeu (no Brasil, essa abolição ocorreu em 1971 com hiatos como saudade, mantendo-se até janeiro de 2009, com a entrada em vigor do Novo Acordo, nos grupos gu e qu, quando o u era pronunciado, como em agüentar ou cinqüenta), mas manteve a pronúncia que as palavras alteradas já tinham. Ou seja, se linguiça nunca tivesse tido trema, escrever-se-ia, à luz do nº 1 da Base X do NÃO, com acento como fazemos, por exemplo, com Suíça.

Este é um daqueles casos em que só o conhecimento pormenorizado da história das reformas nos permite ter a certeza de que devemos escrever, em todo o espaço lusófono, linguiça!


Bom fim de semana!
AP


P.s. Pelas mesmas razões, escrevemos linguista.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Em bom português: socializar ou sociabilizar?

Mais um berbicacho…

1. O primeiro dicionário que consultei (Infopédia) não deu grande ajuda no estabelecer de diferenças de sentido entre os dois termos: “Socializar: ensinar a adotar um comportamento tido como socialmente correto; tornar social./Sociabilizar: tornar sociável; ensinar a adotar um comportamento tido como socialmente correto.”
2. O Ciberdúvidas, no entanto, é mais esclarecedor: “Socializar emprega-se mais, por exemplo, em relação à propriedade, aos bens que se socializam, isto é, que passam de propriedade privada a colectiva. Sociabilizar usa-se, de preferência, com as pessoas que, por acção de alguém, se tornam sociáveis, que se civilizam.”
3. No Brasil, o dicionário Aurélio vai no mesmo sentido: “Socializar: 1. Tornar propriedade coletiva ou governamental: Socializar a indústria. 2. Colocar sob o regime de associação: Socializar um hotel./ Sociabilizar: 1. Tornar(-se) sociável; reunir(-se) em sociedade. 2. Socializar(-se).”
4. Dicionário da Academia das Ciências de Lisboa: “Socializar: 1. Organizar ou organizar-se em sociedade; fazer aprender ou aprender regras sociais. 2. Pôr sob regime de associação./Sociabilizar: O mesmo que socializar.”


CONCLUSÃO:
Parece que socializar dá para nos referirmos à propriedade mas também às pessoas, enquanto sociabilizar aparece em geral aplicado apenas às pessoas.
Nada se comprometa e use sempre socializar!


Abraço!
AP

quinta-feira, 16 de agosto de 2012

.concerteza ou com certeza?

Será que o vini vai amá-la um dia... com certeza? (Fonte do interessante documento: AQUI.)
 
Esta é a uma dúvida que me apresentam de forma recorrente.
Para responder, passo a transcrever, com a devida vénia, duas fontes fidedignas.
A. Mensagem publicada, em 6 de junho de 2007, no blogue http://emportuguescorrecto.blogs.sapo.pt/6202.html (acedido em 16.08.2012):
 
Concerteza ou com certeza ?
A resposta é fácil: deve-se usar sempre duas palavras e
nunca uma única.
 
Ex. Com certeza que estarei presente na tua festa.

B. A provar que este assunto é fonte de muitas dúvidas (e asneiras!), em 1977, foi dada, no Ciberdúvidas, esta resposta a uma consulente que dizia, confusa, que a sua professora ensinara que se deveria escrever “concerteza”. Aqui ficam a pergunta e a resposta.
Com certeza
[Pergunta] “Antes da realização de uma prova escrita na minha universidade, a nossa professora alertou-nos para os erros de ortografia mais comuns, entre os quais apresentou, segundo ela, a forma correcta de escrever a expressão indicada no título. A professora indicou que a forma correcta de escrever era «concerteza» ao invés de «com certeza», que eu sempre julguei ser a correcta! O que venho aqui saber é qual das duas opções está correcta.” Carla :: :: Portugal
[Resposta] “Até custa acreditar mas, olhe, neste caso, quem tem de aprender é a professora. Qualquer dicionário ajudará a aluna a ministrar uma boa aula de português elementar: com certeza, locução adverbial, formada pela preposição de e o substantivo certeza. E se a prof. ainda persistir no erro (como acontece com muita outra gente com responsabilidades a escrever por aí…), sugira-lhe o seguinte exercício prático: substitua-se a prep. de pela prep. com. Com certeza que ficará sem certeza(s) dessas.” J.M.C. :: 01/03/1997
C. As DICAS são uma espécie de regras light, simplificadas e com caráter prático. Para este caso, deixo duas sugestões.
– Para além do exercício proposto no Ciberdúvidas com a preposição de, basta escrever o contrário para concluir que são duas palavras: com certeza vs. sem certeza.
– O corretor ortográfico do Office pode dar-lhe uma ajuda preciosa. Se escrever “concerteza”, ao deixar o espaço para escrever a palavra seguinte, ele corrigirá automaticamente para “com certeza”. É só estar com atenção e aproveitar este recurso inestimável. Se ficar com dúvidas em relação à correção feita pelo sistema, faça uma pesquisa tira-teimas para ver quem tem razão: você ou o corretor. E não esqueça: se errar é humano, corrigir-se é… divino!

Abraço a todos.
AP

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Em bom português: demais ou de mais?


Finalmente, ganhei coragem para vos trazer este dilema, verdadeiro bico de obra da nossa língua. Este, mais do que qualquer outro, terá de ser apresentado por pontos para evitar baralhar as ideias. As minhas e as vossas...

1. A maneira mais simples que sempre segui para ajudar os meus alunos a tomar, com um grau de certeza elevado, a decisão certa foi dar-lhes duas dicas:
A. De mais é equivalente a “demasiado”, a mais” e, ao contrário de demais, é substituível por “de menos”. Exemplo: “Ele come gelados de mais.”
B. Nos casos não abrangidos em A., a opção certa é, muito provavelmente, demais, que pode significar “além disso” (“Não, não te vou perdoar; demais, nem desculpa me pediste!”) ou “os restantes”/“os outros” (“Os alunos da fila junto à porta podem sair. Os demais aguardam mais um minuto.”).
2. Na rubrica “Pelourinho” do Ciberdúvidas (AQUI), Regina Rocha:
a) defende que se deve escrever de mais para exprimir a noção de quantidade (“Nenhuma vida é de mais.”);
b) para exprimir a intensidade (correspondente a “muitíssimo”, “em demasia”), propõe demais (advérbio de modo) como intensificador de formas verbais, advérbios ou adjetivos. Dá como exemplos: «Aquele rapaz dorme demais.» «A jarra é frágil demais; vai partir-se.» «Para aquele pasquim, ele escreve bem demais
3. O FLIP, nas “Dúvidas Linguísticas”, faz uma abordagem aprofundada do assunto, recorrendo a várias fontes. Para Rebelo Gonçalves, por exemplo, de mais pode ser associado a quantidade, mas também a intensidade, contrariando a posição de Regina Rocha (referida no ponto 2.). Transcrevo o parágrafo final da resposta:
Por este motivo, excluindo os dois contextos referidos inicialmente (ex.: entregou a certidão, mas os demais documentos serão enviados pelo correio; considerou o resultado insuficiente, demais nunca gostara daquele serviço), poderá ser opcional o uso de de mais ou de demais. Por outro lado, a expressão de mais pode ainda corresponder apenas à preposição de seguida do pronome indefinido mais, sem qualquer unidade sintáctica ou semântica (ex.: serviu-se de [mais] arroz; a entrada de [mais] pessoas pode criar problemas de sobrelotação; precisava de [mais] dinheiro) e nesse caso, obviamente, não poderá ser utilizada a forma demais.
4. O blogue http://linguamodadoisec.blogspot.pt apresenta uma explicação semelhante à referida em 1., mas acrescenta: “No entanto, tem havido uma tendência crescente para escrever a locução de mais como uma só palavra, a tal ponto, que alguns dicionários, como o Priberam (da Texto Editores), já atestam que demais significa o mesmo que demasiado, assim como algumas gramáticas, como a Saber Falar, Saber Escrever (Dom Quixote), incluem demais nos advérbios de quantidade.
Mais uma vez, conclui-se que os falantes é que vão moldando a língua de acordo com a sua vontade.
5. No Brasil, a tendência é optar, na generalidade dos casos, por demais. Veja esta explicação que encontrei em http://g1.globo.com/platb/portugues/2008/09:
Demais OU de mais?
1) DEMAIS significa “excesso, muito, demasiadamente ou o restante”: “Ela trabalha demais”; “Comeu demais”; “Os demais podem voltar para casa”.
2) DE MAIS equivale a “a mais”, opõe-se a “de menos”: “Recebeu dinheiro de mais (= a mais)”; “Não tem nada de mais (nada de menos)”.
Nota: Para uma explicação mais consistente, clique AQUI.
6. Para a explicação mais completa sobre o assunto que encontrei (no Ciberdúvidas), clique AQUI.


7. CONCLUSÕES (para toda a lusofonia):
1. Como dica orientadora, transcrevo um extrato do artigo referido no ponto anterior: “Regra prática para escolher a forma adequada: opor de mais a de menos. Se de menos for possível, é natural que de mais também seja possível.”
2. Se estiver em estado desesperado ou em dúvida (mesmo depois de aplicar o teste com o “de menos”), escreva demais!
3. Se for professor(a), seja tolerante, pois esta é uma matéria que não tem nada de simples e as fontes não são coincidentes. Pode aceitar opcionalmente demais ou de mais, exceto quando o sentido for “os outros” ou “além disso”. Aí, só pode ser demais.


Depois de tanto tempo à volta deste assunto, espero ter ajudado.

Bom resto de feriado!
AP

P.s. De mais é uma locução adverbial, enquanto demais pode ser um pronome ou um determinante demonstrativo (quando significa “os outros”), um advérbio (quando corresponde a “além disso”) ou um adjetivo (“Ela é demais!”).