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quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Especialistas brasileiros defendem Acordo Ortográfico


A implantação do Acordo Ortográfico de Língua Portuguesa (AO) foi defendida hoje por um académico, um historiador e um linguista brasileiros, que rejeitaram o projeto de simplificação do idioma, analisado pelo Senado brasileiro, durante um debate em São Paulo.


O debate ocorreu na 23.ª Bienal Internacional do Livro e contou com a participação do gramaticista e membro da Academia Brasileira de Letras Evanildo Bechara, do linguista e coordenador da comissão brasileira no Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP) Carlos Alberto Faraco, e do historiador Jaime Pinsky.

Faraco criticou o adiamento do prazo para a obrigatoriedade de alicação do AO no Brasil, de janeiro de 2013 para janeiro de 2016, e defendeu a integridade do documento, ou seja, que o acordo não sofra alterações.
O projeto de simplificação do idioma tem sido defendido por linguistas brasileiros, liderados por Ernani Pimentel, e está em análise na Comissão de Educação do Senado brasileiro.
A proposta, que já foi apresentada em Portugal e em África, prevê a adoção de uma nova ortografia que suprima, por exemplo, a letra "H" não pronunciada e mude as atuais regras de uso do "g" e do "j".
"O que se propõe é vandalismo ortográfico", afirmou Faraco. "Não há fundamentação técnica ou razão social, cultural e económica para mexer numa ortografia estabilizada", afirmou Faraco, para quem a escrita fonética (aquela que segue o som das palavras) seria um "descalabro" e o "fim da ortografia".
O historiador Jaime Pinsky citou um artigo que escreveu para o jornal Correio Brasiliense, em maio. No texto, problematiza a questão dos sotaques regionais que, no caso de uma escrita fonética, causaria confusão na grafia das palavras - o mês de abril, por exemplo, é pronunciado "abriu" ou até "abrir" em diferentes localidades brasileiras.
"É ridícula a ideia de escrever como se fala. A língua tem fatores de caráter históricos, que não podem ser desconsiderados", disse.
O académico Evanildo Bechara lembrou que a opção por uma escrita fonética em português já foi rejeitada no século XIX, quando foi proposta, e realçou que a língua tem princípios culturais e sociais. "Há de se trabalhar para que a coletividade escreva [o português] de uma maneira única, mas quem deve propor [as regras] são os técnicos, as academias e as universidades", afirmou.
Bechara disse também que não concorda com todas as regras do AO, e que ele necessita de algumas adaptações, mas que serão feitas com o tempo.
Faraco usou como exemplo a falta de padronização para as palavras provenientes do idioma banto, em África, mas que essas questões poderão ser resolvidas localmente, como fez Moçambique ao incluir vocabulário dessa língua, nas normas ortográficas.
O Acordo Ortográfico começou a ser negociado em 1975, foi assinado em 1990 pelos oito países de língua oficial portuguesa (Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste) e ratificado por seis deles, com exceção de Angola e Moçambique.
Data: 27/08/2014
 
Comentário:
Como Bechara, não concordo com todas as regras do AO (como a que regula o uso de maiúsculas e minúscula nos pontos cardeais) e também acho que ele necessita de algumas adaptações (como em certos pormenores na hifenização que Portugal e Brasil estão a aplicar de forma divergente).
 

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Luís de Camões seria a favor ou contra o AO90?


Sendo Camões considerado um renovador da língua portuguesa, poderíamos esperar abertura às mudanças na língua portuguesa. No entanto, o poema que passo a transcrever indicia que o poeta teria sido contra todas as reformas: a de 1911, a de 1945 (1943 no Brasil) e o AO90.

Confira:

Sam taes os dões na Lingua Portugueza,
Tam forte, femenil, e tam fermosa,
Como erão na latina. Tal belleza,
Despois na nossa posta, é mais famosa.
Mas a patria christã da-me a certeza
D'hua sentença fea e desditosa:
Se eu vivera outra vez, morrera à míngua,
Pois ja ninguém entende a minha língua.

Forão sutis mudanças a mudalla,
A pouco e pouco sempre em crecimento,
Que ja eu nam consigo bem uzalla
Porque foi mui disforme tal augmento.
Mas inda assi nam deixarei de amalla
Que a lingua tão bem é um sintimento.
E por tanto da lingua estar ja morto,
Eu sinto, por ser morto, algum conforto.
                                                                Luís Vaz de Camões

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

super Lua, super-lua ou superlua?

Em Azeitão, a Lua assumiu a forma de queijo... amanteigado!

Nos últimos dias, houve grafias para todos os gostos:
1.
As imagens da Super Lua pelo mundo
 
Revista VISÃO
2.
Veja agora a 'Super-Lua' em 30 segundos
Jornal CORREIO DA MANHÃ
3.
Dicas para fotografar a superlua de domingo
Sítio da RÁDIO RENASCENÇA

Quem tem razão?
Consultemos a Infopédia:
a) Na única entrada com super-, diz-se que é um elemento de formação de palavras, ou seja, não é uma palavra com vida autónoma;
b) Na entrada súper, há três sentidos:
-como advérbio, na linguagem coloquial, a significar “muito, bastante”;
-como adjetivo, designando a gasolina súper (redução de supercarburante);
-como nome, na forma reduzida de supermercado.

Conclui-se que em “Super Lua”, temos um prefixo e não uma palavra com vida própria. Assim sendo, teremos de aplicar as regras de hifenização.
O Formulário de 1943 (Brasil) e o Acordo de 1945 (Portugal) determinam que nos compostos formados com os prefixos hiper, inter e super, só há hífen quando o segundo elemento começa por h ou r.

Estaria legitimada a grafia “superlua”, não fosse um pormenor que faz toda a diferença…
Consagrando o que já era prática corrente, o AO90 diz-nos que o hífen é usado após prefixos e radicais de composição quando a palavra a que se juntam é um estrangeirismo, um nome próprio ou uma sigla: anti-apartheid, anti-Europa, mini-GPS.
O Correio da Manhã acertou quando escreveu super-Lua, pois, neste contexto, Lua é um nome próprio!

CONCLUSÃO:
1943 (Brasil) e 1945 (Portugal)
AO 90 (Portugal e Brasil)
SUPER-LUA
SUPER-LUA

Abraço para todos.
AP
P.s.: Há mais uma super-Lua no próximo dia 9 de setembro.

Vocabulário Ortográfico Comum aprovado na Cimeira de Díli!



Comentário: Enfim, mais vale tarde que nunca. Não há qualquer referência ao VON (Vocabulário Ortográfico Nacional) de Angola. Estarão os angolanos a pôr-se definitivamente fora de jogo? O que nasce torto...

"Terminou neste dia, em Díli, a X Conferência dos Chefes de Estado e de Governo (CCEG) da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), cuja declaração final, no seu ponto 11, relativo à ação cultural, promoção e difusão da língua portuguesa, refere as seguintes ações:
– a adoção do Plano de Ação de Lisboa, «com enfoque no português como língua de inovação e de conhecimento científico e na importância da Língua Portuguesa nas economias criativas, que define, juntamente com o Plano de Ação de Brasília, as estratégias globais para a promoção e difusão da língua portuguesa» (alínea vii);
– o reconhecimento e a recomendação oficiais do Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa (VOC) e dos Vocabulários Ortográficos Nacionais (VON) que o integram, bem como ainda do Portal do Professor de Português Língua Estrangeira/Língua Não Materna (PPPLE), que constituem recursos representativos de cinco Estados-membros e que ficam disponíveis no sítio do IILP [Instituto Internacional da Língua Portuguesa] na internet (alínea viii);
– a eleição da nova directora executiva do IILP, Marisa Guião de Mendonça, proposta pela República de Moçambique, para o biénio de 2014-2016 (alínea xi).
Observe-se que que, na referida conferência, a República de Cabo Verde formalizou a entrega do seu próprio VON (com cerca de 35 000 entradas), que assim se soma aos VON já disponíveis, a saber, os do Brasil, Moçambique, Portugal e Timor-Leste. Aguarda-se também o VON de São Tomé e Príncipe, o qual não foi possível ultimar a tempo desta conferência. É de notar que estão agora criadas as condições para a apresentação até final de 2014 da primeira versão oficial do VOC, que, além do léxico comum, vai ainda incorporar um módulo com toda a toponímia relevante na maioria dos países da CPLP e o mais vasto conjunto de formas não adaptadas (estrangeirismos e palavras das línguas maternas locais).
Assinale-se a declaração de apreço dirigida a Gilvan Müller de Oliveira, diretor executivo do IILP de 2010 a 2014, cuja ação foi determinante para o arranque e desenvolvimento de todos os projetos em referência. Para compreender o que tem sido a atuação do IILP nos últimos anos, leia-se na rubrica O Nosso Idioma um artigo que o linguista brasileiro Carlos Faraco publicou na Folha de S. Paulo, em 14/07/2014.
Ainda no âmbito do ponto 11 (alínea ix) da declaração final dos chefes de Estado e de Governo da CPLP reunidos em Díli, foi assinalada a importância do projeto de promoção e difusão da língua portuguesa no espaço da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (mais conhecida pela sua denominação em inglês, Southern Africa Development Community, ou abreviadamente SADC), de iniciativa angolana – «o que levará à [sua] execução  em Gaborone, na sede do Secretariado Executivo desta organização regional, em Pretória, na África do Sul, e em Windhoek, na Namíbia.»
Por último, registe-se que esta cimeira ficou marcada, no plano político, pela aprovação (polémica) da adesão da Guiné Equatorial como Estado-membro da CPLP."
In Ciberdúvidas (23.07.2014)

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Seção?! A VISÃO mete os pés pelas mãos...

 
Desta vez, a título mais informal, o site de notícias Huffington Post, na sua versão norte-americana, sugere aos leitores, na seção de viagens, uma caminhada até à Lagoa do Fogo, na ilha de São Miguel.

A par de fato (em vez de facto), o uso de seção (por secção) é uma das aplicações mais "criativas" do Novo Acordo Ortográfico que vamos encontrando. No caso de hoje, o espécime foi recolhido na Visão online de ontem.
Trata-se de uma aplicação incorreta do ponto 1. c) da Base IV do NAO: “Conservam-se ou eliminam-se facultativamente, quando se proferem numa pronúncia culta, quer geral, quer restritamente, ou então quando oscilam entre a prolação e o emudecimento”. Em secção, o c é inequivocamente pronunciado. Consultando os dicionários portugueses e o Vocabulário do Portal da Língua Portuguesa, lá está, preto no branco: secçãoàPortugal e seçãoàBrasil. Na grafia desta palavra não houve nenhuma alteração, mantendo-se o que estava em vigor desde 1943 (Brasil) e 1945 (Portugal).
A mesma situação se passa, por exemplo, com as palavras aspeto e aspecto; dicção e dição; corrupto e corruto, em que há dupla grafia para o Brasil, mas apenas uma para Portugal (assinalada a azul).

CONCLUSÕES:
PORTUGAL
secção
BRASIL 
seção e secção
Nota: Embora seção pareça ser mais comum, segundo os dicionários e o Vocabulário da Academia Brasileira de Letras, é igualmente correta a escolha de secção.

Abraço.
AP
P.s.: Mais importante do que o "c" a mais ou a menos é (re)visitar a Lagoa de Fogo e aquecer a alma...

domingo, 3 de agosto de 2014

auto sugestão, auto-sugestão ou autossugestão?


1. “Auto sugestão
Grafia errada, pois, neste caso, “auto” não tem vida própria.
 
NÃO
2. “Auto-sugestão
Tanto o FO43 como o AO45 estabeleciam que se usava hífen quando a seguir a “auto” vinha uma palavra começado por vogal, h, r ou s.
SIM, enquanto se mantiver o período de transição para o Novo Acordo Ortográfico.
3. “Autossugestão
Determina o AO90 a supressão do hífen quando “o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por r ou s, devendo estas consoantes duplicar-se, prática aliás já generalizada em palavras deste tipo pertencentes aos domínios científico e técnico.
SIM
Nota: Segundo o A90, só há hífen com AUTO quando o segundo começa por h ou letra igual àquela com que termina o prefixo. Exemplos: auto-hipnose, auto-observação. Mas: autoestima, autoavaliação.
CONCLUSÃO
PORTUGAL e BRASIL
autossugestão

Abraço.
AP
Imagem encontrada AQUI.