Encontrei este título
na versão online (AQUI) do Jornal de Notícias de hoje:
“Só em vinho é que somos autosuficientes”
No desenvolvimento do artigo era dito que “Portugal
apresenta um grau de autosuficiência alimentar de 81%”, o que me
deixa a convicção de que não se trata de uma gralha. Acrescento que este jornal
aplica o Novo Acordo Ortográfico.
Analisemos a questão
ponto por ponto.
1. Segundo o Acordo de 1945
(Formulário de 1943 para o Brasil), a regra dizia que, com o prefixo auto, havia hífen antes de vogal, h, r e s. Logo, o correto era escrever auto-suficiente.
2. Considerando que o JN adotou o AO90, vamos à nova
regra, na Base XVI, ponto 2. a): “Nas formações em que o prefixo ou falso
prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por r ou s, devendo estas
consoantes duplicar-se, prática aliás já generalizada em palavras deste tipo
pertencentes aos domínios científico e técnico. Assim: antirreligioso, antissemita,
contrarregra, contrassenha, cosseno, extrarregular,
infrassom, minissaia, tal como biorritmo, biossatélite, eletrossiderurgia,
microssistema, microrradiografia.”
Aplicando a regra, temos de passar a escrever autossuficiente! “Autosuficiente” é uma aplicação incorreta das
novas regras. Não se escreve nem se escrevia assim.
Conclusão:
A grafia atual é autossuficiente!
Comentário:
Há quem indique esta regra
como uma prova de que o AO desfigurou a língua portuguesa. Neste caso, não se
justifica a crítica. Este tipo de aglutinação não é novo (sobretudo no campo
científico). Já escrevíamos biorritmo,
biossatélite, fotossíntese, morfossintaxe, etc. Há uma grafia bem mais estranha que todos
conhecemos: girassol. Não são as comuns
as aglutinações verbo+nome. Com o AO, temos mais dois casos a juntar à lista: mandachuva e paraquedas (e respetivos derivados) No entanto, o Portal da Língua Portuguesa e Academia Brasileira de Letras leem de
forma diferente o texto do Acordo em relação a estas duas situações: por cá,
admitem-se também as variantes com hífen (manda-chuva
e para-quedas); no Brasil, o VOLP só
regista as grafias aglutinadas. Consultando as observações postas a seguir ao
ponto 1. da Base XV do AO, tenho de concordar com a aplicação feita pela
Academia Brasileira: “Obs.: Certos compostos, em relação aos quais se
perdeu, em certa medida, a noção de composição, grafam-se aglutinadamente:
girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista, etc.”
Esclarecedor!
Esclarecedor!
Como não somos autossuficientes nos afetos, segue, como sempre, o meu abraço.
AP
Excelente comentário. Muito corretamente exemplificado, especialmente com os vocábulos oirundos do meio científico.
ResponderExcluirmuito obrigado pelos esclarecimentos! abraços
ResponderExcluirOlá obrigada pelos esclarecimentos, achei estranho esta mudança, mas vou usar. Fiquei com uma dúvida em relação à palavra "actual" que está no texto, pois sempre aprendi que este C no meio da palavra é usado em Portugal mas não no Brasil. Por que foi usada desta forma no texto?
ResponderExcluirCara Juliana, obrigado pela visita e comentário.
ExcluirQuanto à palavra "actual", foi um lapso meu, já corrigido.
Abraço.