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domingo, 30 de setembro de 2012

.contato ou contacto?

Ao entrar no sítio de uma empresa de Marco de Canaveses (onde nasceu Carmen Miranda) que produz sabonetes com água termal (Grupo Canevezes), deparei com a grafia “contatos” no menu de hiperligações. Pelos restantes títulos, concluí que as regras do Novo Acordo tinham sido adotadas.

A queda do c em “contatos” fundamentar-se-ia na regra mais importante da nova escrita (BASE IV: DAS SEQUÊNCIAS CONSONÂNTICAS). Esta Base tem três efeitos em relação ao c e p, no interior das palavras, que passo a apresentar de forma muito simplificada:
a) Conservam-se estas consoantes que são invariavelmente pronunciadas: adepto, pacto, rapto, sumptuoso (no Brasil dupla grafia: suntuoso e sumptuoso), ficção, apto, etc.;
b) Eliminam-se nos casos em que são invariavelmente mudas: ação, afetivo, letivo, ótimo, diretor, batizar, ator, etc. Nota: Já era assim no Brasil, desde 1943.
c) Conservam-se ou eliminam-se facultativamente quando há oscilação na pronúncia: antisséptico/antissético (no Brasil, apenas antisséptico), apocalíptico/apocalítico, carácter/caráter (no Brasil, apenas caráter), etc. Daqui resulta uma lista de algumas centenas de “duplas grafias” (cerca de 200 para Portugal e o triplo para o Brasil).
Parece complicado? Não é um assunto simples, mas um dicionário atualizado resolve o assunto. No http://portuguesemforma.blogspot.pt, na secção “DICIONÁRIOS PORTUGAL”, tem acesso a dicionários online gratuitos. Ir ao Portal da Língua Portuguesa também será uma boa opção. Clique em “Palavras alteradas em Portugal” (AQUI), na letra inicial da palavra que quer investigar e procure-a.
Por exemplo, ao clicar na letra s, querendo saber se a grafia “sector” foi alterada, encontrará a seguinte informação:
Ortografia Antiga
Ortografia Nova
Notas
sector
setor, sector
Conclusão: a palavra passou a ter dupla grafia, podendo os utentes da língua optar por sector ou setor. Esta situação corresponde à descrição apresentada na alínea c).

Vamos ao caso de hoje. Clicando na letra c das “Palavras alteradas em Portugal” (AQUI), não vai encontrar a palavra "contacto", o que significa que não foi alterada pelo AO.
Resposta ao dilema: contacto. No Brasil, há uma dupla grafia: contato (mais comum) e contacto. Para ter acesso à lista das “Palavras alteradas no Brasil”, é só clicar AQUI.

Concluindo a história apresentada no primeiro parágrafo, usando um formulário online, chamei a atenção da empresa para o lapso. Verifiquei que grafia incorreta já foi alterada para “contactos”, mas nunca fui contactado. Forma sui generis de simpatia e gratidão…
O “obrigados” não chegou, mas o objetivo foi atingido com a correção introduzida.

Abraço.
AP

P.s. A palavra contactar também não foi alterada pelo AO. O Brasil mantém a dupla grafia que já tinha: contatar/contactar.

sábado, 29 de setembro de 2012

Em bom português: mini-golfe, minigolfe ou mini golf?

Imagem encontrada na internet AQUI
 
Da análise das fontes consultadas, resultam as seguintes linhas de força:
1. Nem em Portugal nem no Brasil encontrei registos a validar a grafia mini golf.
2. Quanto a minigolfe:
a) Em Portugal, para além do Vocabulário do Portal da Língua Portuguesa, poucos dicionários apresentam a palavra;
b) No Brasil, é comum ver o termo nos media (“Para as que curtem natureza, cultivo de horta, equitação e ordenha. As esportistas têm futebol, vôlei, minigolfe.” Folha de São Paulo, 18/12/2011), mas, à exceção do Houaiss, nenhum dos dicionários consultados nem o Vocabulário da Academia Brasileira das Letras o registam.
3. Em relação a mini-golfe, segundo as regras, é uma grafia incorreta, pois o hífen é usado nas formações por prefixação quando:
a) A vogal (ou consoante) com que termina o prefixo é igual à vogal (ou consoante) inicial da palavra-base: mega-aversão, anti-ibérico, auto-observação, super-rico, hiper-resistente, sub-bibliotecário. Dica: efeito espelho;
u
b) A palavra-base começa pela letra h: super-heroína, auto-hipnose, infra-humano, bi-horário, mega-hertz. Regra sem exceções.
i
 Não se verificando nenhuma das duas hipóteses acima apresentadas, as probabilidades de não haver hífen são seguramente superiores a 98%.

CONCLUSÃO:
Em Portugal e no Brasil, escreva minigolfe.

Resta-me deixar a todos um abraço e o desejo de boas tacadas nas adversidades!
AP

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Em bom português: blog ou blogue?

Em Portugal, ambas as formas estão registadas em todas as fontes fidedignas, incluindo o Vocabulário do Portal da Língua Portuguesa. Podemos optar por blog,  estrangeirismo a colocar em itálico ou entre aspas (plural: blogs), ou pelo aportuguesamento blogue (plural: blogues).
No Brasil, a resposta não é tão simples. Se na blogosfera encontramos muitas vezes a grafia blog(s), nas fontes especializadas, não é bem assim.
Tanto o Vocabulário da Academia Brasileira das Letras como os dicionários Aurélio, Houaiss e Michaelis ignoram a grafia blog, não apresentando qualquer verbete. Contrariamente, o Aulete e o Dicionário Online de Português apresentam blog como sinónimo de blogue. Confirma-se assim a já aqui referida pouca abertura da norma brasileira em relação aos termos importados diretamente de outras línguas.

CONCLUSÕES:
Na norma luso-africana, blogue e blog podem ser usados, estando ao mesmo nível. Pessoalmente, prefiro sempre a adaptação.
Na norma brasileira, parece que a forma preferencial é blogue. No entanto, o facto de haver dicionários que registam as duas palavras acaba por legitimar, na minha opinião, a utilização tanto de blogue como de blog.

Abraço.
AP

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

Em bom português: micro ondas, micro-ondas ou microondas?

Imagem encontrada AQUI.

Antes da aplicação das regras do Novo Acordo, micro (como o mini) era um dos prefixos mais problemáticos da língua portuguesa. Não havia regras que nos permitissem, em todas as situações, optar com segurança pelo uso ou omissão do hífen.
Sendo em muitas áreas confuso o texto do Acordo, em relação à hifenização, é inegável que houve uma sistematização/simplificação das regras.
Considerando o caso de hoje, segundo a Base XVI, ponto 1. b), há hífen:
”Nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo termina na mesma vogal com que se inicia o segundo elemento: anti-ibérico, contra-almirante, (…) auto-observação, eletro-ótica, (…) semi-interno.
Obs.: Nas formações com o prefixo co-, este aglutina-se em geral com o segundo elemento mesmo quando iniciado por o: coobrigação, coocupante, coordenar, cooperação, cooperar, etc.”
Obs. minhas:
1. A regra também se aplica com consoantes iguais (inter-regional, sub-bibliotecário, circum-murar, etc.).


2. Em Portugal, o prefixo co- só leva hífen antes de h (co-herdeiro.), enquanto no Brasil aglutina sempre (coerdeiro).



CONCLUSÃO:
Embora antes se escrevesse microondas, com a aplicação da já referida Base XVI, a grafia correta passou  a ser, para todos os lusofalantes, micro-ondas (efeito espelho).
Esta é uma das escassas situações em que as novas regras determinam a introdução de um hífen e não a sua supressão. A vantagem é passarmos a ter uma norma mais abrangente, evitando termos a conviver "micro-ondas" com auto-observação.

Abraço.
AP

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Em bom português: aguarela ou aquarela?

Ambas as palavras provêm do italiano acquerella.
Em Portugal, o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea (Academia das Ciências) estabelece claramente fronteiras: aguarela (como aguarelista) para o português europeu e aquarela (como aquarelista) para o português do Brasil. No entanto, a generalidade dos dicionários (bem como o Portal da Língua Portuguesa) regista os dois termos, não restringindo a área geográfica do seu uso.
Encontramos aquarela em Eça de Queirós (Cartas de Inglaterra):
não podendo ao menos servir, como elas, nem para assunto de uma aquarela”.
No Brasil, todos os dicionários registam aquarela. Em relação a aguarela, a maior parte apresenta a palavra, tratando-o de formas diferentes. O Aulete diz que é “a forma corrente em Portugal”; para o Houaiss, aguarela é o mesmo que aquarela; o Vocabulário da Academia Brasileira das Letras vai no mesmo sentido, apresentando as duas palavras.
 CONCLUSÕES:
Na norma luso-africana, embora aguarela seja mais comum, é legítimo usar tanto aguarela como aquarela.
Na norma brasileira, sendo aquarela o termo mais usado, parece-me que é igualmente correta a utilização de aguarela.
Aqui fica a minha aguarela preferida, nas palavras do poeta português Cesário Verde (1855-1886):

          DE TARDE
Naquele pic-nic de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

 Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o Sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão-de-ló molhado em malvasia.

 Mas, todo púrpuro a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas!

                O Livro de Cesário Verde, Lisboa, 1887

Abraços!
AP
 

Transferência de conteúdos gerais para um novo blogue
Em breve, as mensagens deste blogue, bem como as informações e documentos disponibilizados, centrar-se-ão apenas no Novo Acordo Ortográfico, sempre numa perspetiva crítica. Será um espaço especializado.
As questões gerais, que vão muito para além do Acordo, serão apresentadas no http://portuguesemforma.blogspot.pt, com um desafio apresentado diariamente, seguido da solução e explicação técnica. Neste novo blogue, haverá também a preocupação de concentrar uma lista exaustiva de recursos online que nem sempre é fácil de encontrar: dicionários de várias naturezas, glossários, enciclopédias, vocabulários…
No período de transição, as mensagens do novo blogue também serão publicadas aqui.


terça-feira, 25 de setembro de 2012

Em bom português: encapuçado ou encapuzado?

Segundo uma notícia de 28/08/12 (“Voz Ribatejana”), “A Ourivesaria Rumor, situada junto ao mercado retalhista de Alverca, foi assaltada à hora de almoço de segunda-feira por dois indivíduos armados e encapuçados.
Não ponho em dúvida a veracidade da notícia. Ainda há pouco, nas notícias das 13h00, se falava de um assalto a uma caixa multibanco em Runa (Torres Vedras) por quatro indivíduos descritos como encapuzados na nota de rodapé e encapuçados nas palavras da locutora.

Em que ficamos? A resposta está na análise atenta da indumentária que os meliantes escolheram para a perpetração do crime:
1. Traziam um capucho? Eram encapuchados.
2. Optaram por uma carapuça? Sem espinhas: encarapuçados.
3. Enfiaram um capuz à pressa? Só podem ser encapuzados.
Nota: Se, num estilo requintado, se apresentaram dissimulados, com o rosto tapado até aos olhos por uma capa ou capote, eram embuçados, como no conhecido fado escrito por João Ferreira-Rosa.
E encapuçados? Talvez quando for inventado o “capuço” (ou a “capuça”)… Para já, o termo só existe na galeria dos pontapés na gramática! Com a minha professora da primeira classe (Maria Idalina Lopes Duarte), que ainda deve estar viva, pois tinha 17 anos na altura, daria direito a reguadas…

CONCLUSÃO:
Tanto no português europeu como na norma brasileira, a palavra certa é encapuzados (com as alternativas encapuchados e encarapuçados).

Comummente, os adjetivos referidos (incluindo o clandestino “encapuçado”) têm conotações negativas para a maior parte de nós. Mas as palavras são como as pessoas: as companhias são determinantes. Para descontrair, aqui deixo um extrato delicioso de Os Maias, de Eça de Queirós:
A mamã, ao ver, depois de tantos meses a chá preto, a garrafa de Clicquot encarapuçada de ouro – quase desmaiou, de enternecimento.

Sem capuz, capucho ou carapuça, deixo-vos na boa companhia da língua portuguesa.
Abraço.
AP

 

Em bom português: teste diagnóstico, teste-diagnóstico ou teste de diagnóstico?

A. Teste diagnóstico / Teste de diagnóstico
Como jovem estagiário (há 30 anos…), aprendi a dizer teste diagnóstico, na linha de teste formativo e teste sumativo.
No entanto, segundo uma resposta do Ciberdúvidas (2011), podemos utilizar as duas formas. O seu sentido é o mesmo. As diferenças são apenas ao nível das classes/funções das palavras. Citando o Ciberdúvidas: “Em «teste de diagnóstico», temos um substantivo que funciona sintaticamente como complemento determinativo de teste, indicando o tipo de teste em questão; em «teste diagnóstico», temos um adjetivo que funciona sintaticamente como modificador nominal restritivo, ou seja, limita o domínio de referência da expressão nominal teste a um género particular de teste.
Assim, visto que o termo diagnóstico não é aplicado somente na área da medicina e o seu uso já se estendeu a outros domínios, desde a didática até à informática, poderemos ter frases como «Vamos fazer um teste de diagnóstico ao sistema operativo do computador» e «Vamos fazer um teste diagnóstico ao sistema operativo do computador», ambas com o mesmo significado.
B. Teste-diagnóstico
Em Portugal, nada valida a utilização desta forma.
No Brasil, para além do Vocabulário da Academia Brasileira das Letras, vários dicionários a registam (Aulete, Houaiss, Michaelis).

CONCLUSÕES:
1. Em Portugal, podemos dizer teste diagnóstico e teste de diagnóstico.
2. No Brasil, para além de teste diagnóstico e teste de diagnóstico, podemos também dizer teste-diagnóstico (com dois plurais possíveis: testes-diagnóstico e testes-diagnósticos).

Um bom serão para todos! AP

Transferência dos conteúdos gerais para um novo blogue
Em breve, as mensagens deste blogue, bem como as informações e documentos disponibilizados, centrar-se-ão apenas no Novo Acordo Ortográfico, sempre numa perspetiva crítica. Será um espaço mais especializado.
As questões gerais, que vão muito para além do Acordo, serão apresentadas no http://portuguesemforma.blogspot.pt, com um desafio apresentado diariamente, seguido da solução e explicação técnica. Neste novo blogue, haverá também a preocupação de concentrar uma lista exaustiva de recursos online que nem sempre é fácil de encontrar: dicionários de várias naturezas, glossários, enciclopédias, vocabulários…

domingo, 23 de setembro de 2012

Em bom português: pró ou prò?

Ambos os termos estão corretos, mas devem ser utilizados em situações distintas.

A. PRÓ
1. Nome.
Usa-se no singular (Essa regra teria um único pró: seria igual para todos!) e no plural (Há que analisar os prós e os contras da situação.).
2. Preposição.
“Antes de grupos nominais, indica causa ou pessoa que se defende e apoia. As forças pró libertação. (Dicionário da Academia das Ciências).
3. Como elemento de formação de palavras, significando “a favor de”: pró-americano, pró-referendo, pró-vida. Nesta posição, como todos os outros prefixos acentuados, pró é sempre seguido de hífen (regra anterior ao Acordo Ortográfico).

B. PRÒ
Desde os ajustamentos ortográficos ocorridos em 1971 (Brasil) e 1973 (Portugal), um acento grave (`) indica sempre uma contração.
Prò = para (preposição) + o (artigo definido ou pronome demonstrativo). Exemplo: Vou de metro prò concerto. / Vai prò diabo que te carregue!

Agora, numa atitude pró-lazer, vou prò sofá!
Abraço.
AP

Prazeres e lazeres: Viva o “Vila Velha” em Alcoutim!

No âmbito de uma escapadinha a Alcoutim (vila magnífica a precipitar-se nos braços do Guadiana, sob o olhar atento da margem espanhola), descobri, mesmo no centro da localidade, o restaurante “Vila Velha”. Acolhedor e com um toque de originalidade, serve com generosidade pratos cuidadosamente confecionados, com uma excelente relação qualidade-preço. Passemos aos “factos” para duas pessoas:
A. Entradas:
Pão “a sério”, azeitonas e um queijinho seco alentejano.
B. Bebidas:
Um copo de vinho branco e uma água pequena sem gás.
C. Pratos:
1. Ensopado de galinha com batatas e fatias de pão frito: carne macia (mas consistente) e tempero no ponto.
2. Burras de porco preto grelhadas com legumes salteados e batatas fritas: carne bem grelhada (mas suculenta), legumes crocantes; quanto às batatas, loiras e estaladiças… uma tentação a que não foi possível resistir! Já me esquecia de dizer que as burras* são bochechas.
D. Sobremesas:
1. Tigelada de requeijão com um fiozinho de mel. Cremosa, enrola-se na língua e as papilas gustativas desfalecem de paixão…
2. Pudim de ovos (sem açúcar) com mel, aromatizado com erva-doce (já não tenho a certeza…). Mais um pedaço de mau caminho que vai ficar na memória…
E. Dois cafés. Com os cafés, veio uma gentileza da casa: um delicioso licor de salva e erva-príncipe.

Quanto à dolorosa… 22€20. Ou seja, 11€ por pessoa a refeição completa.

Antes de sair, tive oportunidade de trocar umas palavras com o Sr. Luís Costa, dono deste jardim de delícias gastronómicas. Fiquei a saber que já utiliza o Novo Acordo profissionalmente, mas pessoalmente continua a não o fazer. O conhecimento que tem do assunto e a consistência dos argumentos que esgrime para não adotar as novas regras merecem a minha admiração.

Abraço e bom resto de domingo!
AP

*No “Isaías”, em Estremoz (imperdível!), as burras assadas no forno são cabeças de borrego.

sábado, 22 de setembro de 2012

Em bom português: desinquieto… ou inquieto?

Desfeito é o contrário de feito, desmontado é o antónimo de montado e desencravado opõe-se a encravado. Então, desinquieto é o contrário de inquieto, ou seja, é equivalente a quieto… Certo?
Errado! Aqui, “a lógica é uma batata”! Há uma redundância em desinquieto. O prefixo  des- é neutro, perdendo o seu sentido habitual de negação.
Transcrevo, com a devida vénia, um excelente “post” do blogue http://linguamodadoisec.blogspot.pt, publicado em abril de 2011:
Afinal, o que é ser "desinquieto"?
Curioso, como escolhemos suprimir uns prefixos - como em (com)portar-se - e acrescentar outros a certas palavras que deles não precisam.
É com relativa frequência que ouvimos alguém dizer que determinada criança é "desinquieta", quando, na realidade, inquieta seria o termo adequado. Para quê o des-?
Para dar mais ênfase à ideia de que se trata do oposto de quieto? Talvez. Mas acontece que o segundo prefixo, logicamente, anula o significado do primeiro (in-), que já exprimia a ideia de contrariedade. Então as pessoas que escolhem a versão aparentemente "reforçada" do adjectivo, "desinquieto", estão afinal a dizer o contrário daquilo que pretendem, pois desinquieto seria, no fim de contas, o mesmo que quieto!
Todavia, resta dizer que esta aparente redundância, que afinal é um contra-senso, tem sido tão usada (pelo menos num registo de língua familiar/popular), que a palavra "desinquieto" até já foi consagrada pelos dicionaristas, que descrevem o seu significado como "o mesmo que inquieto".
Não é que o povo é mesmo quem mais ordena?!”

CONCLUSÃO:
Tanto em Portugal como no Brasil, inquieto e desinquieto são termos sinónimos!

Sem inquietudes, despeço-me com votos de bom fim de semana!
AP

 

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

Em bom português: mini-mercado, minimercado ou mini mercado?

Na sequência de uma escapadinha à Consolação (junto a Peniche), pude tirar estas duas fotos das fachadas de dois estabelecimentos, um quase frente ao outro. Qual deles respeita a ortografia da língua portuguesa?
mini mercado? Não!
 
mini-mercado? Também não!
 
 
Tive de pesquisar dezenas de imagens até encontrar a palavra escrita corretamente:
minimercado! Parabéns, Mavy!
 

O hífen é área mais “armadilhada”, verdadeira “maldição” da nossa língua, como diz uma linguista brasileira.
Ainda assim, não sendo o texto do Novo Acordo uma obra-prima de clareza, em relação ao hífen, conseguiu-se uma efetiva organização e simplificação das regras.
Antes, ninguém sabia dizer com segurança em que situações deveria haver hífen a seguir a “mini”. Atualmente, basta aplicar a dica a que já aludi noutras mensagens. Na maior partes das situações, só há hífen quando a letra final do prefixo é igual à que inicia o segundo elemento (efeito espelho, como em mini-investigação) e antes de h (como em mini-história).
Face ao que fica dito, a resposta é minimercado (aqui e no Brasil).
 
Nota: Antes do Novo Acordo, já devíamos escrever minimercado.
 
Abraço.
AP


terça-feira, 18 de setembro de 2012

Em bom português: ténis, tenis ou tenís?

Olha só!
 
Na loja da foto, no concelho de Torres Vedras, alguém está a precisar de rever as regras de acentuação…

De acordo com a Base IX, ponto 2. b), do Novo Acordo, acentuam-se as palavras paroxítonas (graves) “que apresentam na sílaba tónica as vogais abertas grafadas a, e, o e ainda i ou u e que terminam em -ã(s), -ão(s), -ei(s), -i(s), -um, -uns ou –us.”
Tendo como sílaba tónica um e aberto e terminando em –is, só podemos escrever, em todo o mundo lusófono, ténis. Pelas mesmas razões, acentuamos Vénus (Vênus no Brasil), bónus (bônus no Brasil), lápis e vírus.

Informação complementar:
Esta é uma regra com… 101 anos! Encontramo-la no Formulário Ortográfico aplicado em Portugal em 1911 (estendido ao Brasil cerca de 20 anos mais tarde), no Formulário Ortográfico de 1943 (no Brasil), na Norma de 1945 (em Portugal) e no Novo Acordo (em vigor desde 2009).

Abraço.
AP

sábado, 8 de setembro de 2012

Em bom português: glicémia ou glicemia?

Para Mimi Costa, “Este tipo de palavras terminadas em -emia é, na maioria das vezes, de origem grega. O étimo – aima – é grego, significa sangue e é componente destas e de outras palavras com terminação semelhante. (…)
Na língua de origem, aimía (aima +sufixo -ia) tem o acento tónico no i.
Ora, mandam as normas que, ao importar termos estrangeiros, a língua importadora seja fiel à etimologia, conservando a acentuação de origem.
Sendo assim, embora esteja cada mais generalizada a outra forma de pronunciar estas palavras, o correcto será ler e escrever: glicemia, leucemia, alcoolemia, acentuando o i. Como, aliás, acontece com anemia, que tem a mesma terminação e ninguém pronuncia “anémia”! In http://www.algodres.com/02/02.1.2.1.htm (acedido em 8/09/12)

Questão resolvida? De maneira nenhuma! O que é afirmado na extrato acima transcrito é válido a 100%... mas apenas para o Brasil!
Sendo verdade que a etimologia justificaria que palavras como glicemia fossem paroxítonas (graves), em Portugal a coexistência, nalguns casos, de duas pronúncias leva os dicionários e o Portal da Língua Portuguesa a validá-las.

CONCLUSÕES:
Em PORTUGAL, podemos escrever glicemia/glicémia, alcoolemia/alcoolémia e septicemia/septicémia. Mas leucemia e anemia só têm uma grafia.
No BRASIL, os dicionários consultados, a par da Academia Brasileira de Letras, são unânimes. Todas as palavras referidas são paroxítonas: glicemia, alcoolemia, septicemia, leucemia, anemia. Tudo muito mais simples!

Abraço.
AP