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segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

.O AO90 deturpa a língua portuguesa?

.

O artigo de hoje vem na sequência da mensagem que uma leitora brasileira me deixou na caixa de comentários:
Olá António,
Infelizente esse AO deturpou a língua de Camões. As palavras com derivativos não deveriam perder as consoantes. Exemplo: Egipto > egípcio , secção > seccional etc.

1. A língua portuguesa já sofreu inúmeras “deturpações” desde a época de Camões…

2. A questão de mantermos ou não as consoantes mudas conduz-nos ao confronto pronúncia-etimologia, que não é de agora.
2.1.      A reforma de 1911 em Portugal (adotada no Brasil cerca de 20 anos depois) seguiu a via da simplificação, levando à queda de um elevado número de consoantes não pronunciadas: sciencia > ciência (latim: scentia-); prompto > pronto (latim: promptu-);  dipthongo > ditongo (latim: dipthongu-).
2.2.      O Formulário Ortográfico de 1943 (apenas aplicado no Brasil) ainda foi mais longe: óptimo > ótimo  (latim: optimu-); excepto > exceto (latim: exceptu-);  director >  diretor (latim: directore); acção > ação (latim: actione), etc.

Quanto a haver palavras da mesma família com grafias diferentes, também não é uma situação nova na língua. Já escrevíamos, por exemplo, dicionário  (latim: dictionariu-) e dicção, chama (latim: flamma-) e flamejante, joelho (latim: genuc(u)lu ) e genuflexão, assunção (latim: assumptione-) e assumptivo, etc. 
As histórias da evolução da língua e das reformas ortográficas (por vezes forçadas e determinadas por razões políticas) são complexas .
Tínhamos uma língua perfeita, lógica e respeitadora da etimologia até há pouco tempo e foi o AO que veio deturpá-la? A história da língua portuguesa mostra que não é assim.
Como já referi, a oficialização da “deturpação” tem mais de 100 anos e se quisermos recuar ainda mais no tempo, quase podemos dizer que ela vem do século III A. C. quando os Romanos invadem a Península Ibérica e disseminam o seu latim vulgar, bem popular e “deturpado”…
Claro que os movimentos e opiniões anti ou pró-AO são legítimos. No entanto, a melhor legitimação está no rigor dos argumentos escolhidos. E há boas razões para se ser contra ou a favor do AO90! Lamentavelmente, encontramos, em ambos os lados, justificações pouco recomendáveis: robustas na emoção, mas bem fraquitas na consistência…

Seja contra ou a favor o AO, desejo-lhe uma entrada promissora em 2014!
António Pereira
P.s. Nada impede a Eliane de continuar a escrever secção e seccional, uma vez que há uma dupla grafia no Brasil (que já existia antes do AO).

Imagem encontrada AQUI.

domingo, 29 de dezembro de 2013

.Quem matou o DIPTHONGO?



Segundo os linguistas, a língua que falamos é um fator de unidade. Mas também pode ser uma fonte de mal-entendidos...
O AO90, criado para simplificar e unir, transformou-se na gasolina que tem alimentado a fogueira de paixões que nos tem dividido entre os “pró” os “contra” e os “assim-assim”, que é o meu caso.

A. Esta nova realidade linguística tem gerado opiniões e movimentos para todos os gostos.
Para alguns (no Brasil) ficou-se aquém do que era desejável; por cá, foi-se além do que era admissível.
Para uns, é tudo ilegal, o AO não está em vigor, não senhor! Para outros, está em vigor, mas não devia estar. E há ainda os que, discretamente, vão dizendo que está mesmo em vigor e muito bem!
 
B. 1. E surgiram, como cogumelos, os grupos dos amigos:
.Os amigos dos “cês” e dos “pês” que, mesmo mudos, coitadinhos, sempre fizeram parte da família e têm direito à vida. Foi-se o “p” de “Egito”, deixando estupefactos os que o que o pronunciam, mas ficou em “egípcio”...
.Os amigos do “cágado”, como o juiz Rui Teixeira, que sonhou que iam tirar o acento ao animal, coisa que qualquer pessoa minimamente asseada não pode admitir;
.Os amigos do Lince, como Vasco da Graça Moura, que mandou retirá-lo de todos os computadores do CCB. Que jeito tinha estar o animal ali fechado 24 sobre 24, como diria a Teresa Guilherme?
.Os amigos do trema (no Brasil). Sem aqueles olhinhos (¨) sobre o “u” da linguiça, o churrasquinho já não será a mesma coisa…
.Os amigos do “tecto”. Retirar o “c”, mesmo mudo, é inaceitável e conduzirá ao impensável: o “teto”, que, mais tarde ou mais cedo, será pronunciado à tia: “têto”, uma espécie de marido da “teta”…

B. 2. A lista dos amigos já vem de 1911:
.Os amigos do “ph”:
-Fernando Pessoa, contra tudo e contra todos, continuou a escrever “philosophia” e “phosphoro”; 
-o linguista Alexandre Fontes afligia-se com a ideia de escrever “fase” em vez de “phase” e dizia, incomodado: “parece-nos um esqueleto”.
.Entre os amigos do “y”, estiveram Fernando Pessoa (para quem o “y” de “cysne” fazia lembrar o longo pescoço do animal) e Teixeira de Pascoaes que achava que:
-substituir o “y” por “i” em “lagryma” quebrava a harmonia da palavra e era uma ofensa à estética;
-escrever “abysmo” com “i” latino era retirar-lhe profundidade e transformá-lo numa superfície banal.

E o” dipthongo“?
Perdeu-se para sempre, triste e sozinho, sem amigos nem defensores.
Não se compreende! De boas famílias (do grego díphthoggos, «que tem dois sons», pelo latim diphthongu-), estava ele, lindo e posto em sossego, em 1911, quando, de repente, veio o Formulário Ortográfico… e comeu-o! Mais exatamente, comeu-lhe um “p” e um “h”, transformando-o no ditongo que temos hoje. Desfigurado para sempre, continua a prestar bons serviços à fonética e à ortografia…

Poderia ainda falar-vos do tritongo, mas chega de histórias tristes e de mutilações...
Bom 2014 pra todos!
António Pereira
Imagem encontrada AQUI.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

.pé-de-galinha OU pé de galinha?


Estes são os únicos pés-de-galinha que mantiveram os hífenes...
(Imagem encontrada AQUI)
 
Surgindo ao caro leitor a dúvida que dá o título ao artigo de hoje, o mais natural é esclarecê-la consultando um dicionário. Se o fizer, o que vai encontrar? Isto:
Infopédia
  Priberam
Vocabulário do Portal da Língua Portuguesa Vocabulário da Academia Brasileira de Letras
  pé de galinha
  pé-de-galinha
pé-de-galinha e pé de galinha
pé-de-galinha e pé de galinha
 
 
Em vez de esclarecimento, obtemos um punhado de divergências aparentemente inconciliáveis. Como vamos ver no quadro seguinte, embora o AO90 tenha introduzido alterações, já existiam duas grafias.
SENTIDOS
AO45 (PORTUGAL) e FO43 (BRASIL)
AO90 (PORT e BR)
Designando a pata do animal
pé de galinha
pé de galinha
Ruga (mais usado no plural)
pé-de-galinha
pé de galinha
Estrutura de betão, com quatro pés, geralmente usada como quebra-mar
pé-de-galinha
pé de galinha
Erva daninha
pé-de-galinha
pé-de-galinha
 
 
CONCLUSÃO:
Com o AO90, na generalidade das situações, devemos escrever pé de galinha, só havendo hífen quando designamos a espécie botânica.
Nota: Enquanto a Infopédia ignora a espécie botânica e o dicionário Priberam faz uma aplicação inadequada do AO, os vocabulários do Portal da Língua Portuguesa e da Academia Brasileira de Letras dão-nos a informação correta.
 
Abraço.
AP


quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

.fôrma ou forma?

Importante mesmo é que a forma/fôrma não fique vazia...

Não é raro lermos que podemos escrever, em Portugal, com e sem acento a palavra de hoje. Dois exemplos:
Guia da Porto Editora “Descubra o Acordo Ortográfico com a Porto Editora” (disponibilizado nos “sites” de inúmeras escolas):
1.3 ACENTUAÇÃO GRÁFICA: facultatividade
(…) Nome feminino que significa ‘molde’ ou ‘recipiente’: forma ou fôrma

Dicionário Priberam:
forma (ô) ou fôrma (ô) (…)
• Grafia anterior ao Acordo Ortográfico de 1990: forma.

A observação de que a grafia anterior ao AO90 era “forma” mostra que esta interpretação do texto é inconsistente.
O Acordo de 1945 determinou a eliminação de um elevado número de acentos de palavras homógrafas heterofónicas. Assim, independentemente do seu significado, forma deixou de ser uma palavra acentuada em Portugal.
No Brasil, como o Formulário Ortográfico de 1943 manteve o acento desambiguador, até à entrada em vigor do Novo Acordo, a grafia obrigatória para os falantes brasileiros era fôrma.
A facultatividade (consagrada na Base IX, 6 b) do AO90) só pode ser para o Brasil e não para Portugal. É essa a perspetiva adotada no Portal da Língua Portuguesa: “singular: fôrma (Brasil)
Os instrumentos de consulta no Brasil (como do VOLP da Academia Brasileira de Letras e o dicionário Aulete) optam pela grafia sem acento como forma preferencial.
Sendo um dos objetivos centrais do AO90 a simplificação, fazia sentido, mesmo de forma facultativa, reintroduzir em Portugal um acento eliminado há quase 70 anos?
Ainda corríamos o risco de ressuscitar um acento que no Brasil está a ser eliminado… Para confusões e ambiguidades já nos chegam as que temos!

CONCLUSÕES:
PORTUGAL
BRASIL
ANTES (AO45): forma
ANTES (FO43): fôrma
ATUALMENTE: forma
ATUALMENTE: fôrma OU forma

Com ou sem acento, que todos encontrem a sua forma de serem felizes!
Abraço.
AP

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

.Que seja um bom NATAL para todos vóoooos!



A amizade é um barco;
                    a solidariedade, um remo;
                                        a família, um abrigo;
                                                            o próximo, um irmão.
Para todos,
                    sobretudo os que vivem momentos difíceis,
                                        a força do meu abraço
                                                                                 e carinho ;)

domingo, 22 de dezembro de 2013

.Deve escrever-se CO-OÓCITO ou COOÓCITO?

 
Esta é uma verdadeira iguaria linguística que encontrei no Ciberdúvidas. E tem tudo a ver com o Novo Acordo Ortográfico. No entanto, o prefixo co- já apresentava algumas particularidades no domínio da hifenização. São exemplos palavras com coordenar ou coabitação (em que o h se perdeu…).
Na estranha palavra de hoje, segundo as regras de 1945 (Portugal) e 1943 (Brasil), escrevia-se co-oócito. Como o Novo Acordo Ortográfico determina, na Base XVI, que “Nas formações com o prefixo co-, este aglutina-se em geral com o segundo elemento mesmo quando iniciado por o: coobrigação, coocupante, coordenar, cooperação, cooperar, etc.”, passámos a escrever cooócito.

CONCLUSÕES:
Em PORTUGAL e BRASIL
ANTES (AO45 e FO43)
ATUALMENTE (AO90)
co-oócito
cooócito
Notas:
1.   Oócito (do grego oón, «ovo» + kýtos, «cavidade; invólucro») é o mesmo que ovócito. Quando surgem aos pares, podemos usar a designação cooócitos.
2.   A única situação em que há hífen com co- é antes de h, como em co-herdeiro. Embora a regra esteja claramente enunciada no texto do AO90, a Academia Brasileira de Letras decidiu, de forma unilateral, em nome da simplificação, ignorá-la, aglutinando sempre este prefixo ao segundo elemento. Assim sendo, regista, no seu VOLP, a grafia… coerdeiro (à semelhança de coabitação…).

Abraço.
AP
Imagem encontrada AQUI.

Parlamento português protela petição anti-Acordo Ortográfico


Em Lisboa, a Assembleia da República adiou a discussão da petição pública  que reclama a desvinculação de Portugal do Acordo Ortográfico de 1990 (AO). Ao que se sabe, será marcada nova data em 2014, apreciando-se igualmente na altura um projeto de resolução subscrito pelos deputados Ribeiro e Castro, Michael Seufert (ambos do CDS) e Mota Amaral (PSD),  em que propõem «a criação urgente» de um novo grupo de trabalho – o anterior já foi extinto – sobre a aplicação do acordo de 1990, em Portugal, para reavaliar a situação e adotar, «eventualmente, as medidas de revisão ou de reajuste que consensualmente possam impor-se». 
Sobre este assunto, a rubrica Acordo Ortográfico disponibiliza a carta que Gilvan Muller, diretor executivo do Instituto Internacional da Língua Portuguesa (IILP), enviou aos deputados portugueses no sentido de negar certas notícias.
 
In Ciberdúvidas (21/12/2013)

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

AO90: Carta aos deputados portugueses!

Carta do diretor executivo do Instituto Internacional da Língua Portuguesa aos deputados portugueses, a propósito da discussão, na Assembleia da República, no dia 20/12/2013, da Petição pela Desvinculação de Portugal do Acordo Ortográfico de 1990.


Excelentíssimo Senhor Deputado,
Excelentíssima Senhora Deputada,

Será discutida dia 20 de dezembro [de 2013], na Assembleia da República, uma petição que pede a desvinculação de Portugal do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado por todos os países da CPLP e já aplicado em vários deles. Foram também recebidos recentemente, na Assembleia da República Portuguesa, por um Grupo de Trabalho da Comissão de Educação, Ciência e Cultura, dois professores brasileiros que haviam sido recebidos por comissão de natureza semelhante no Senado Brasileiro. Importa, acerca destes dois assuntos, esclarecer alguns pontos pela posição do Instituto Internacional da Língua Portuguesa, instituição da CPLP responsável pela articulação dos esforços de difusão da língua portuguesa no seio da Comunidade e no mundo.
• Os dois professores brasileiros que estiveram em Portugal não são «representantes do Senado», como se tem tentado fazer crer em alguma imprensa. São dois cidadãos individuais, ligados a iniciativas privadas (sobretudo do ensino), que foram ouvidos por uma comissão no Senado Brasileiro no âmbito de uma sua proposta de revisão radical da ortografia portuguesa e enviados a Portugal para conhecerem a situação no país quanto à aplicação do Acordo Ortográfico. De qualquer forma, nem o Senado Brasileiro se pronunciou, como um todo, contra ou a favor do Acordo Ortográfico, nem o Senado poderia vincular ou desvincular o Brasil de um tratado internacional como o Acordo Ortográfico.
• A chefe de Estado do Brasil, Dilma Rousseff, não adiou a aplicação do Acordo Ortográfico no Brasil, mas apenas a data-limite para a sua aplicação plena, declarando que tal iniciativa tem, de resto, como propósito fazer coincidir a data de plena aplicação do Acordo Ortográfico no Brasil com a de Portugal (2015). A clarificação dessa intenção foi feita diversas vezes por responsáveis brasileiros, nomeadamente pelo próprio Embaixador do Brasil em Portugal, ainda há dois meses (cf. ”O Brasil e o Acordo Ortográfico”), através da imprensa escrita. Em suma, contrariamente ao que tem vindo a ser afirmado por alguns opositores ao Acordo Ortográfico, o Brasil não suspendeu a aplicação do Acordo nem anunciou qualquer intenção de o vir a fazer; pelo contrário, tem-se demonstrado empenhado na sua plena aplicação no espaço da CPLP.
• No Brasil o Acordo Ortográfico foi aplicado em 2009, tal como em Portugal, sendo obrigatório o seu uso nas instituições e concursos públicos, incluindo em todos os níveis do sistema de ensino, e sendo essa aplicação acompanhada pela totalidade ou quase totalidade das editoras, dos meios de comunicação social e por um gradualmente alargado número de cidadãos individuais. Tal como em Portugal.
• Todos os Estados-membros da CPLP assinaram o Acordo Ortográfico. Apenas dois não o ratificaram ainda, afirmando reiteradamente, porém, a sua intenção de o fazer logo que disponham de meios técnicos para tal. Nesse sentido, têm sido conduzidos estudos e adotadas medidas para aplicação do Acordo Ortográfico nesses mesmos países, como os representantes de cada um deles puderam detalhar na recente "Conferência Internacional sobre o Futuro da Língua Portuguesa no Sistema Mundial”, realizada em Lisboa em outubro passado, com organização do Ministério dos Negócios Estrangeiros de Portugal, por via do Instituto Camões.
• O texto do Acordo Ortográfico não enferma de grande número de erros e menos ainda de erros que impossibilitem a sua aplicação. Prova disto é o facto de, pelo menos em Portugal e no Brasil, o Acordo Ortográfico ser usado pelas instituições oficiais e no ensino, incluindo pelas centenas de professores de Linguística do ensino superior que desde a aplicação não se têm manifestado contra esta alteração às regras.
• Os pouquíssimos erros e lacunas (que afetarão, no máximo, umas poucas dezenas de formas escritas num universo de centenas de milhares) e, sobretudo, as áreas lacunares do Acordo Ortográfico (nomeadamente as que dizem respeito à escrita de formas graficamente não adaptadas ao português) estão em fase de avançada discussão no âmbito da criação do Vocabulário Ortográfico Comum da Língua Portuguesa (VOC), instrumento previsto no Tratado e no Plano de Ação de Brasília para a Promoção, Difusão e Projeção da Língua Portuguesa (2010), em elaboração sob coordenação do Instituto Internacional da Língua Portuguesa. Este trabalho tem vindo a ser desenvolvido em sede da CPLP, por uma equipa técnica transnacional, como acordado oficialmente por todos os países, e a sua primeira versão será publicada dentro de meses, na primeira metade de 2014.
• A discussão dessas questões problemáticas da aplicação do Acordo Ortográfico (que, repita-se, são numericamente pouco representativas) está a ser realizada por comissões nacionais de peritos, nomeadas pelas instâncias oficiais de cada país, constituídas por linguistas do maior renome nos respetivos países e que representam as mais importantes instituições científicas de cada Estado. Os trabalhos já desenvolvidos neste âmbito, muito animadores a todos os títulos, apontam inequivocamente para soluções de clarificação dos poucos casos geradores de dúvida, de modo a facilitar a aprendizagem das novas regras, e não para uma revisão do tratado.
• Os instrumentos oficiais de aplicação do Acordo Ortográfico já existentes, contrariamente ao que se afirma na petição a ser discutida, não enfermam de grande número de discrepâncias entre si ou com o estabelecido no Acordo Ortográfico, pelo contrário. Tal já foi provado num estudo técnico elaborado pelo Instituto de Linguística Teórica e Computacional, de Lisboa, apresentado à Assembleia da República em abril do presente ano, no âmbito de um Grupo de Trabalho da Comissão de Educação e Ciência. A petição em discussão no dia 20, na AR, de resto, não foi elaborada por linguistas nem é em razões técnicas que a sua oposição ao Acordo Ortográfico se baseia; são falsos os argumentos técnicos apresentados, como foi fácil e cabalmente demonstrado pelo estudo técnico do ILTEC.
• O Acordo Ortográfico resulta de um processo desencadeado em Portugal e no Brasil nos anos 60 do século passado e traz consigo décadas de discussão, a nível técnico e sobretudo a nível político. Os seus objetivos foram plenamente atingidos: temos hoje para o português, num único documento legal, regras únicas de escrita, não extinguindo porém as variantes escritas representativas de formas diferentes que as palavras têm entre países ou em diferentes partes do país. Isto é, em português há quem escreva "ouro" e quem escreva "oiro", como já havia anteriormente: tal não releva de regras de escrita diferentes, mas antes da natural variação da forma como falamos, com que o Acordo Ortográfico não pretende acabar (ele é apenas isso mesmo, ortográfico).
• Nos últimos dez anos, a generalidade das línguas europeias faladas em mais do que um país como língua oficial empreenderam reformas à sua ortografia: o espanhol (em 1999 e em 2010), o francês (1990, aplicada gradualmente desde 2008), o alemão (1996), o holandês (1996 e 2006) e o romeno (1993, aplicada plenamente em 2010). Em todos os países em que ocorreram reformas houve polémica, mas as reformas acabaram por vingar, com ou sem alterações às propostas iniciais.

Do mesmo modo, sempre que a ortografia do português foi alterada anteriormente (1911, 1931, 1943, 1945, 1971-73, 1990) os vocabulários ortográficos oficiais aclararam questões menos bem conseguidas tecnicamente nos documentos legais que introduziram a reforma. Houve em todos os casos pessoas que se opuseram e muitos que nunca adotaram as mudanças durante a sua vida, como é natural. Tal não contraria o que são os factos: escrevemos hoje de forma diferente do que o faziam Eça de Queirós ou Machado de Assis há pouco mais de um século. Hoje, nove dos dez jornais portugueses mais vendidos usam hoje o Acordo Ortográfico, bem como todos os brasileiros. Todas as instituições governamentais e oficiais dos nossos países usam a nova grafia, bem como as organizações internacionais a que pertencem (como a UE ou o MERCOSUL) em que o português é língua de trabalho. No ensino a transição para a nova grafia está praticamente completa, tanto em Portugal como no Brasil, sem que em relação a isso haja notícia de particulares problemas.
Escrevemos hoje de forma diferente do que o faziam Eça de Queirós ou Machado de Assis há pouco mais de um século sem que tal tenha trazido inconvenientes ou nos impeça de continuar a comunicar como 250 milhões de pessoas que partilham uma mesma língua. O Acordo Ortográfico permite ultrapassar mais uma barreira para que tal aconteça, unificando do ponto de vista legal as regras que regem a escrita de todos quantos escrevemos em português sem contudo alterar as variantes que nos caracterizam individual e coletivamente ou a forma particular como falamos a nossa língua. O Acordo Ortográfico é, nesse sentido, uma afirmação de comunhão para o futuro que deve transcender a discussão de questões técnicas isolados que pertencem ao domínio técnico e no domínio técnico estão a ser resolvidas, como previsto no tratado firmado por todos os Estados que partilham o português como língua oficial.
Leia-se o artigo recente e esclarecedor do embaixador do Brasil em Portugal e o parecer que o ILTEC elaborou aquando no âmbito da sua participação no Grupo de Trabalho de Acompanhamento da Aplicação do Acordo Ortográfico, em março do corrente ano.
Grato pela atenção, com os melhores cumprimentos votos de um bom trabalho.

Prof. Dr. Gilvan Müller de Oliveira
Diretor Executivo do Instituto Internacional da Língua Portuguesa
Texto transcrito do Ciberdúvidas (http://ciberduvidas.pt/acordo.php?rid=2850)

domingo, 15 de dezembro de 2013

.Hífen: kit de sobrevivência!

 
Com este "kit de sobrevivência", resolva 99% das suas dúvidas ;)

A. DICAS GERAIS

1. Em caso de dúvida, não hifenize!
2. Nas formações por prefixação, há hífen sobretudo em dois casos:
Quando a letra com que termina o 1º elemento (vogal ou consoante) é igual à que inicia o 2º (efeito espelho): micro-ondas, auto-observação, inter-regional, sub-bibliotecário, etc.
A única exceção dá-se com o prefixo co: coopção, coorganização.
Sempre antes de h: anti-higiénico, super-homem, co-herdeiro, etc.
3. Nas palavras compostas por justaposição (sem elementos de ligação), continua a haver hífen: arco-íris, decreto-lei, segunda-feira, bolo-rei, azul-escuro, primeiro-ministro, guarda-chuva, etc.
4. Já nas locuções (de todos os tipos), não há hífen: canto do cisne, fim de semana, pôr do sol, pão de ló, cor de laranja, etc.
sete execeções consagradas no AO90: água-de-colónia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé-de-meia, ao deus-dará, à queima-roupa.
5. Nos caso das formas verbais, só há alterações no verbo haver: hei de, hás de, há de, hão de. Em todos os outros casos, mantêm-se as regras: levantar-se, dá-nos, cantá-lo-ei, confessar-lhe-ia, dei-to, etc.
PARA SABER USAR O HÍFEN JUNTO DOS VERBOS, O TESTE DA NEGATIVA NÃO ENGANA!
O suspeito move-se? Então, leva hífen!
1.-se mais do que antigamente? Negativa: Não se lê mais do que antigamente?
O se (a negrito) saltou para trás do verbo na negativa. É um pronome e tem de ser separado com o hífen, que funciona com uma fronteira entre as duas palavras.
2. Se eu lesse esse livro… Negativa: Se eu não lesse esse livro…
Não houve alteração, pois a terminação se faz parte do verbo. É uma única palavra, não devendo ser partida.

B. DICAS ESPECÍFICAS

1. Há hífen a seguir a prefixos acentuados (pré-pago, além-mar, recém-casado, pró-vida, pós-parto…), a ex-, quando significa cessamento (ex-marido, ex-presidente…), e a vice- (vice-presidente, vice-reitor…).
2. Há hífen a seguir a circum- e pan-, quando o 2º elemento começa por vogal, m ou n (além de h): circum-escolar, circum-murado, circum-navegação, pan-africano…
3. Não há hífen quando o 1º elemento termina em vogal e o segundo começa por r ou s, devendo estas consoantes duplicar-se: antirreligioso, autorretrato, contrassenha, infrassom, minissaia, biorritmo, biossatélite, microssistema…

Boa semana!
AP
Imagem encontrada AQUI.

domingo, 8 de dezembro de 2013

PARA OS FÃS DA BENNY!


Fotos tiradas há pouco.
 
Aqui fica mais um testemunho visual atual da Benny (o pinto nascido na Esc. Ferreira Dias, no Cacém) com a sua ninhada já espigadota. 12 pintos lindos e saudáveis. 7 chocados pela própria + 5 adotados. Nem todas as galinhas aceitam pintos alheios, mas a Benny é mesmo especial…
Na 1ª foto, assobiei e toda a família olhou para a objetiva. O sorriso ficou um pouco forçado, mas não se pode ter tudo, não é?
A pedido de várias famílias, vou prà cozinha pra confecionar mais um tacho (agora será mesmo o último!) do meu êxito deste verão/outono: compota de melão c/ canela e vinho do Porto!
 
Abraço e bom resto de domingo!
AP
P.s. Agradeço aos amigos e internautas que votaram no meu "hambúrguer de batata c/ repolho lombardo" na 2ª fase do passatempo da revista Visão. Foi uma das receitas vencedoras, o que me vai permitir frequentar um workshop com a cozinha Marta Bártolo. ;)
Pode ler a receita AQUI.