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segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

.O AO90 deturpa a língua portuguesa?

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O artigo de hoje vem na sequência da mensagem que uma leitora brasileira me deixou na caixa de comentários:
Olá António,
Infelizente esse AO deturpou a língua de Camões. As palavras com derivativos não deveriam perder as consoantes. Exemplo: Egipto > egípcio , secção > seccional etc.

1. A língua portuguesa já sofreu inúmeras “deturpações” desde a época de Camões…

2. A questão de mantermos ou não as consoantes mudas conduz-nos ao confronto pronúncia-etimologia, que não é de agora.
2.1.      A reforma de 1911 em Portugal (adotada no Brasil cerca de 20 anos depois) seguiu a via da simplificação, levando à queda de um elevado número de consoantes não pronunciadas: sciencia > ciência (latim: scentia-); prompto > pronto (latim: promptu-);  dipthongo > ditongo (latim: dipthongu-).
2.2.      O Formulário Ortográfico de 1943 (apenas aplicado no Brasil) ainda foi mais longe: óptimo > ótimo  (latim: optimu-); excepto > exceto (latim: exceptu-);  director >  diretor (latim: directore); acção > ação (latim: actione), etc.

Quanto a haver palavras da mesma família com grafias diferentes, também não é uma situação nova na língua. Já escrevíamos, por exemplo, dicionário  (latim: dictionariu-) e dicção, chama (latim: flamma-) e flamejante, joelho (latim: genuc(u)lu ) e genuflexão, assunção (latim: assumptione-) e assumptivo, etc. 
As histórias da evolução da língua e das reformas ortográficas (por vezes forçadas e determinadas por razões políticas) são complexas .
Tínhamos uma língua perfeita, lógica e respeitadora da etimologia até há pouco tempo e foi o AO que veio deturpá-la? A história da língua portuguesa mostra que não é assim.
Como já referi, a oficialização da “deturpação” tem mais de 100 anos e se quisermos recuar ainda mais no tempo, quase podemos dizer que ela vem do século III A. C. quando os Romanos invadem a Península Ibérica e disseminam o seu latim vulgar, bem popular e “deturpado”…
Claro que os movimentos e opiniões anti ou pró-AO são legítimos. No entanto, a melhor legitimação está no rigor dos argumentos escolhidos. E há boas razões para se ser contra ou a favor do AO90! Lamentavelmente, encontramos, em ambos os lados, justificações pouco recomendáveis: robustas na emoção, mas bem fraquitas na consistência…

Seja contra ou a favor o AO, desejo-lhe uma entrada promissora em 2014!
António Pereira
P.s. Nada impede a Eliane de continuar a escrever secção e seccional, uma vez que há uma dupla grafia no Brasil (que já existia antes do AO).

Imagem encontrada AQUI.

2 comentários:

  1. Eu achei mais difícil a convivência com a retirada dos acentos, aprendemos de uma forma e agora eis que está tudo mudado.

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    1. Boa noite, Rita!
      As mudanças são sempre difíceis de encaixar. No caso da acentuação, houve uma efetiva simplificação. Por exemplo, o trema já tinha sido abolido em Portugal em 1945. De qualquer modo, as alterações globais são, no Brasil, muito reduzidas: apenas 0,4% das palavras são afetadas.
      Abraço e Bom Ano Novo!
      António

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