O entrevistado de hoje é a nosso amigo António
Pereira do blog “Acordo Ortográfico: O que muda?”
Lembramos que tem mais entrevistados no Educadores
Multiplicadores, confira!
Vamos à entrevista, aproveite!
Vivo perto de Lisboa, numa pequena
localidade, inserida numa reserva ecológica.
E.M. Seu blogue proporciona parcerias entre blogs, certo? Qual a forma de divulgação que mais gosta de usar para divulgar seu blogue?
Adoro o mar e gosto de ler, de
escrever, de cinema e de cozinhar.
Dedico-me à agricultura biológica
em pequena escala, confecionando compotas e conservas (para os colegas e
amigos) com os legumes e frutos bio que vou produzindo. Última criação: compota
de nabo com pinhões.
Dizem que tenho sentido de humor,
mas não suporto injustiças, sobretudo as que conduzem ao sofrimento humano.
E.M. Você atua como professor? Conte-nos um pouco do que faz como
profissional.
Sempre desenvolvi o meu trabalho de
professor com base em dois princípios.
1º O da AÇÃO, recorrendo a
estratégias de estímulo do trabalho dos alunos e a atividades favorecedoras de uma
progressiva autonomia. “Ouço, esqueço; vejo, lembro; faço, aprendo.” (provérbio
chinês)
2º O da EMOÇÃO, dado a relação
pedagógica ser determinante nas aprendizagens. Logo, sempre investi na criação
de laços facilitadores das interações com os alunos. “Diz-me e eu esquecerei; ensina-me e eu lembrar-me-ei; envolve-me e eu
aprenderei.” (provérbio de origem desconhecida)
E.M. Sabemos que a tecnologia é aliada da Educação.
Nos últimos anos, temos visto que alguns estados/cidades estão distribuindo
tabletes para alunos/professores e equipando as escolas com sala de informática
com acesso a internet. Você acha que os alunos e professores estão preparados
para tirar proveito destas ferramentas?
O essencial é a qualidade da
formação (inicial e contínua) que é proporcionada aos professores e a sua
motivação para o exercício da profissão. A tecnologia poderá ser um trunfo
interessante em vários domínios: pesquisa criteriosa de informação, aquisição
de sentido crítico, desenvolvimento da criatividade, aprofundamento da
autonomia. No entanto, as novas tecnologias devem ser um meio e não um fim em
si.
E.M. Se você não fosse Professor/Educador, que outra profissão você
exerceria?
Poderia ter seguido a carreira de
cozinheiro. Como o ensino, a culinária é uma forma de comunicação e uma fonte
de emoções. Vou cozinhando para a família…
E.M. No Brasil existe a Lei do Piso Salarial do
Magistério, já aprovado, e o “plano” do Senador Cristóvão Buarque de
federalizar a educação básica no Brasil. E, em Portugal, existe algum plano que
estabelece um valor mínimo de salário para os Professores?
Em Portugal, há um salário mínimo a
nível nacional (485€ =1243R$) e um salário-base para os professores em início
de carreira (809€ = 2074 R$). Estes são valores brutos a que serão ainda
deduzidos impostos e contribuições para a segurança social.
E.M. Você acha que os profissionais da educação são
bem vistos pela sociedade? A Sociedade sabe e reconhece o papel desses
profissionais?
Embora o governo anterior ao atual
tenha lançado em Portugal uma campanha contra os docentes (sobretudo os mais
velhos) com o intuito de justificar medidas que levaram à degradação
progressiva das condições de trabalho, inquéritos de opinião mostram que os
professores (com os bombeiros e os carteiros) continuam a ser, para a população
em geral, dos mais apreciados pelo seu trabalho (à frente de médicos, militares
e polícias).
E.M. Você acha que o Professor tem sua parcela de
culpa em deixar ou permitir que a sociedade não o valorize?
Atualmente, em Portugal, a
desmotivação é grande e a preocupação para os professores é o desemprego que
atingiu a classe em 2012 e vai agravar-se em 2013. Logo, para uma grande parte
dos meus colegas, o que está em jogo é a sobrevivência.
Para valorizar a sua imagem junto
da opinião pública, o professor não deve desistir de otimizar a qualidade do
seu trabalho e comunicar com as famílias dos alunos, envolvendo-as no processo
de ensino-aprendizagem. Dessa forma, pode dar visibilidade às suas estratégias
de ação na escola e na sala de aula. Mesmo com as dificuldades que
enfrentamos, é fundamental acreditar que podemos fazer a diferença na vida das
crianças e jovens. É sempre a fé que nos salva…
E.M. Os governos sabem o deve ser feito para melhor a
educação no País: Valorizar os profissionais da educação, oferecer os recursos
disponíveis e assistência pedagógica para um bom aprendizado. Em sua opinião, por
que eles não fazem?
Nalguns casos, pode ser por razões ideológicas, em que,
numa perspetiva mais conservadora, não há a noção de que os alunos de hoje são
muito diferentes dos de há 10, 15 e 20 anos. Logo, ignora-se que o trabalho do
professor é muito mais complexo e, consequentemente, os recursos teriam de ser
diversificados para fazer face a essa complexidade.
Noutras situações, as razões são meramente economicistas. A
ideia de que a educação é a base do desenvolvimento da sociedade é uma bandeira
dos discursos dos governantes, mas não sai do papel para o terreno. Seria
necessária coragem para fazer uma aposta na cultura em geral e na educação em
particular. Muitas vezes, não há vontade nem talento para o fazer.
E.M. “Comenta-se que, os professores não comungam das
mesmas opiniões, principalmente, quando é para fazer greve e paralisações, disseminando
a ideia de que a classe de professores é desunida”. O que você pensa a
respeito?
Não é fácil
unir os professores em ações reinvindicativas. Por um lado, há uma grande
heterogeneidade na classe; por outro, as hipóteses de sucesso de uma greve são
mais limitadas devido à natureza do trabalho do professor cuja falta não se faz
sentir como acontece, por exemplo, com os hospitais ou com os meios de
transporte.
Em Portugal,
também é isso que acontece. A exceção à regra foi uma memorável manifestação há
quatro anos que reuniu 100 000 professores (num universo de 150 000),
em Lisboa, para mostrar a indignação face à forma como estavam a ser
desconsiderados pelo Ministério da Educação. Tive a emoção de participar e
ainda me comovo quando me vem à memória esse momento único de união.
E.M. Como você gostaria que fosse o ambiente escolar,
especialmente, a sala de aula? O que ela, sala de aula, deveria ter para que o
trabalho (de educar) fosse melhor aproveitado?
Em primeiro
lugar, seria necessário que tanto os professores como os alunos estivessem na
sala de aula de corpo e alma, motivados.
Na minha
opinião, o que mais contribui para a degradação do ambiente escolar e para o
empobrecimento do ensino e das aprendizagens é a indisciplina dentro da sala de
aula. Se não forem criadas/impostas condições que permitam que todos possam
ouvir e falar nos momentos certos, fica ameaçado o direito de aprender e
limitado o trabalho do professor.
E.M. Em sua opinião, qual a razão para
tanta violência na escola? Qual o real motivo (sua opinião) para com o
desrespeito enfrentado pelos professores durante as aulas?
Concordo com aqueles que defendem
que as atitudes dentro da sala são influenciadas pelo que de bom e de mau
existe na casa de cada aluno. As disfuncionalidades no seio das famílias e a
demissão do seu papel educativo (por negligência ou impotência) são como uma
bola de neve que entra pela porta da sala de aula e se abate estrondosamente
sobre o professor.
E.M. Algumas escolas estão sem segurança e sem
liberdade de “punir” o aluno quando necessário, de maneira rígida, porém
educativa. O que você pensa sobre o projeto de lei que punir o aluno quando
agredir o professor/educador?
Já fui mais tolerante em relação ao assunto. Entendo que o direito que todos os alunos têm de aprender não pode ser posto em causa por aqueles que não respeitam as regras. Assim sendo, embora, por princípio, defenda uma escola inclusa, aceito que pode ser necessário excluir alguns (preferencialmente com medidas educativas) em nome do bem comum.
Já fui mais tolerante em relação ao assunto. Entendo que o direito que todos os alunos têm de aprender não pode ser posto em causa por aqueles que não respeitam as regras. Assim sendo, embora, por princípio, defenda uma escola inclusa, aceito que pode ser necessário excluir alguns (preferencialmente com medidas educativas) em nome do bem comum.
E.M. O que a motivou a criar um blogue?
Qual a finalidade dele?
Gosto de comunicar e o blogue é um
meio precioso para o fazer: é imediato e global.
O blogue “Acordo Ortográfico: O que
muda?” foi criado no âmbito de uma iniciativa de divulgação do Novo Acordo
Ortográfico junto dos alunos, professores, funcionários e famílias dos alunos
da minha escola. O sucesso da iniciativa superou rapidamente as fronteiras da
comunidade escolar e, atualmente, a maior percentagem de visitas vem do Brasil,
muito por influência da visibilidade que advém da inclusão no projeto
“Educadores Multiplicadores”.
A finalidade do blogue é divulgar
criticamente as regras do Acordo Ortográfico e informar os leitores sobre a
respetiva aplicação em Portugal e no Brasil.
E.M. O que você mais gosta na arte de blogar? Qual a parte
mais difícil?
Gosto de
comunicar e de poder ser útil. Receber cerca de 1000 visitas diárias é um
prazer e uma responsabilidade acrescida.
A parte mais
difícil é a publicação de mensagens com regularidade, pelo tempo que consome e
pelo esforço que invisto para que os textos fiquem apresentáveis, pois, por ser
disléxico, “como” letras, sílabas e palavras…
E.M. Seu blogue proporciona parcerias entre blogs, certo? Qual a forma de divulgação que mais gosta de usar para divulgar seu blogue?
Gosto do projeto “Educadores Multiplicadores”, pois centra-se na educação,
aproximando os seus membros. Outros espaços (como o Teia ou Dihitt), embora
sendo também uma forma interessante de divulgação, são mais generalistas.
E.M. O que você acha das boas parcerias entre blogues?
Quem vê os blogues como uma forma
de comunicação não pode ignorar as parcerias. São como uma montra que dá visibilidade
ao trabalho de cada um e uma oportunidade de conhecer outros blogues e de
aprender.
E.M. Onde você busca
inspiração para elaborar suas postagens? Que fontes você costuma pesquisar para
embasar suas postagens?
Inspiro-me no mundo que me rodeia: os
meios de comunicação, as conversas com amigos, leituras, outros blogues, etc.
Quanto às fontes, consulto gramáticas,
os dicionários de Portugal e Brasil, os vocabulários (o do Portal da Língua
Portuguesa, em Portugal, e o da Academia Brasileira de Letras), o Ciberdúvidas
e alguns blogues portugueses e brasileiros dedicados à língua portuguesa.
E.M. Se você puder nos contar, quais são seus projetos profissionais para
2013?
Dentro de alguns meses, poderei vir
a participar num projeto educativo de voluntariado num país africano de língua
portuguesa.
E.M. Quais são os projetos para
o seu blogue? Você tem outros blogues, quais?
No blogue sobre o Acordo
Ortográfico, estou a trabalhar num guia de bolso para o português do Brasil, como
já fiz para o português europeu.
Sim, tenho outros blogues. Destaco
dois: um dedicado à língua portuguesa
(http://portuguesemforma.blogspot.com) e outro centrado na escrita e na fotografia de (http://imagenscomtextos.blogspot.com).
Mais recentemente, viram a luz do
dia mais dois projetos: um dedicado à culinária (http://receitasedicasparasi.blogspot.com) e o último
chama-se As palavras têm alma! (http://poesiadita.blogspot.com) e partilha vídeos de
poemas em português. Destina-se a alunos, professores e ao público em geral.
E.M. Deixe dicas para os Multiplicadores de como um(a) blogueiro(a) deve
fazer e do que não deve fazer para ter um bom blogue.
1. Na vida como nos blogues, é essencial amar o que se faz.
2. Tratando-se de comunicação, é importante ser claro na apresentação das
ideias. Uma escrita cuidada será sempre apreciada!
3. Se o blogue quer assumir-se como um projeto a longo prazo, não tem sentido
copiar de outros blogues. A autenticidade será uma mais-valia. Citando Fernando
Pessoa (através do heterónimo Ricardo Reis): “Sê todo em cada coisa. Põe quanto és/No mínimo que fazes.”
4. Finalmente, há que aprender com os erros. Se “errar é humano”, corrigir-se
é… divino!
E.M. Deixe seus agradecimentos aos seus leitores e seguidores.
Em primeiro lugar, obrigado, Irivan,
pela confiança que o convite para esta entrevista representa. Aos colegas
educadores multiplicadores, agradeço o tempo que investiram na leitura da
entrevista, esperando que o meu português europeu não tenha sido um obstáculo
para a comunicação das ideias.
Um abraço muito grande e cheio de
carinho para todos!
Queremos agradecer a
você, Multiplicador António, pela entrevista. Dizer que a sua chegado ao E.M.,
trouxe ganhos de excelente qualidade através de seus comentários, sendo um dos
mais atuantes e com isso tem contribuído para o crescimento e divulgação do Educadores
Multiplicadores.
Deixo também convites
aos professores e profissionais da educação, que tenham blog com conteúdos
voltado para a educação, a fazerem parte da família Educadores Multiplicadores.
Muito obrigado a você
e aos seus leitores.
Adorei a entrevista! António parabéns pelo seu blog!
ResponderExcluirUm abraço,
Carina (English in Brazil)
teachercarinafragozo.blogspot.com
Parabéns pelo blog Antonio
ResponderExcluirSomos xará viu.
Um abraço e tb faço parte dos multiplicadores.
Obrigado, Toninha!
ExcluirGosto do seu "educar-oprimeiropasso" e sou um dos seguidores ;)
Abraço
AP
Nossa bem legal sua entrevista, parabéns.
ResponderExcluirObrigado, Denise.
ExcluirAbraço pra você desde Lisboa.
AP
nâo SEI SE CONSEGUI ME CADASTRAR NO BLOQUE .cLIQUEI ONDE TINHA QUE CLICAR ,MAs nada apareceu.Mas muito obrigada pelo convite.
ResponderExcluirOlá, Ailce!
ExcluirPenso que não conseguiu cadastrar-se. Terá de voltar a clicar em "Participar deste site".
Abraço.
António Pereira