O nº 1 da base X do Novo Acordo Ortográfico retoma o que estava
estatuído pela Norma de 1945: “As vogais tónicas/tônicas
grafadas i e u das palavras oxítonas e paroxítonas levam acento agudo quando
antecedidas de uma vogal com que não formam ditongo e desde de que não
constituam sílaba com a eventual consoante seguinte, excetuando o caso de s:
adaís (pl. de adail), aí, atraí (de atrair), baú (…), Luís, país, etc.; alaúde,
amiúde, (…), baía, balaústre, cafeína, ciúme, egoísmo, faísca, faúlha, graúdo (…)
juízes, Luísa, miúdo, paraíso, raízes, recaída, ruína, saída, sanduíche, etc.”
Seguindo a regra, teríamos “linguíça”, mas, mais uma vez se
confirma que não há coisas simples na nossa língua.
Citando o Ciberdúvidas,
“Os dígrafos gu, qu têm normalmente o som da consoante (ex.:
guizo, subs., guiso, forma verbal, quente, etc.). O grafema u, seguido de i ou
de e, é um símbolo no grupo, sem som, não independente. Para que o u se
pronuncie, é necessário impor essa condição no grupo.”
Então, o que nos leva a pronunciar o u?
Até meados do século XX, escrevíamos “lingüiça”. A Norma de 45
suprimiu o trema no português europeu (no Brasil, essa abolição ocorreu em 1971
com hiatos como saudade, mantendo-se
até janeiro de 2009, com a entrada em vigor do Novo Acordo, nos grupos gu e qu, quando o u era pronunciado, como em agüentar ou cinqüenta),
mas manteve a pronúncia que as palavras alteradas já tinham. Ou seja, se
linguiça nunca tivesse tido trema, escrever-se-ia, à luz do nº 1 da Base X do NÃO,
com acento como fazemos, por exemplo, com Suíça.
Este é um daqueles casos em que só o conhecimento pormenorizado da
história das reformas nos permite ter a certeza de que devemos escrever, em todo o espaço lusófono, linguiça!
Bom fim de semana!
AP
P.s. Pelas mesmas razões, escrevemos linguista.
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