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sábado, 18 de agosto de 2012

Em bom português: linguíça ou linguiça?

O nº 1 da base X do Novo Acordo Ortográfico retoma o que estava estatuído pela Norma de 1945: As vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras oxítonas e paroxítonas levam acento agudo quando antecedidas de uma vogal com que não formam ditongo e desde de que não constituam sílaba com a eventual consoante seguinte, excetuando o caso de s: adaís (pl. de adail), aí, atraí (de atrair), baú (…), Luís, país, etc.; alaúde, amiúde, (…), baía, balaústre, cafeína, ciúme, egoísmo, faísca, faúlha, graúdo (…) juízes, Luísa, miúdo, paraíso, raízes, recaída, ruína, saída, sanduíche, etc.”

Seguindo a regra, teríamos “linguíça”, mas, mais uma vez se confirma que não há coisas simples na nossa língua.
Citando o Ciberdúvidas, Os dígrafos gu, qu têm normalmente o som da consoante (ex.: guizo, subs., guiso, forma verbal, quente, etc.). O grafema u, seguido de i ou de e, é um símbolo no grupo, sem som, não independente. Para que o u se pronuncie, é necessário impor essa condição no grupo.

Então, o que nos leva a pronunciar o u?
Até meados do século XX, escrevíamos “lingüiça”. A Norma de 45 suprimiu o trema no português europeu (no Brasil, essa abolição ocorreu em 1971 com hiatos como saudade, mantendo-se até janeiro de 2009, com a entrada em vigor do Novo Acordo, nos grupos gu e qu, quando o u era pronunciado, como em agüentar ou cinqüenta), mas manteve a pronúncia que as palavras alteradas já tinham. Ou seja, se linguiça nunca tivesse tido trema, escrever-se-ia, à luz do nº 1 da Base X do NÃO, com acento como fazemos, por exemplo, com Suíça.

Este é um daqueles casos em que só o conhecimento pormenorizado da história das reformas nos permite ter a certeza de que devemos escrever, em todo o espaço lusófono, linguiça!


Bom fim de semana!
AP


P.s. Pelas mesmas razões, escrevemos linguista.

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