A justificação técnica está no nº 2 da Base X do Novo Acordo (“DA ACENTUAÇÃO DAS VOGAIS TÓNICAS/TÔNICAS
GRAFADAS I E U DAS PALAVRAS OXÍTONAS E PAROXÍTONAS: As
vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras oxítonas e paroxítonas não
levam acento agudo quando, antecedidas de vogal com que não formam ditongo,
constituem sílaba com a consoante seguinte, como é o caso de nh, l, m, n, r e z: bainha,
moinho, rainha; adail, paul, Raul; Aboim, Coimbra, ruim; ainda, constituinte,
oriundo, ruins, triunfo; atrair, demiurgo, influir, influirmos; juiz, raiz,
etc.”
Analisemos a palavra Ra-ul:
Há um u tónico antecedido da vogal a
(não formando ditongo com ela) que constitui sílaba com a consoante l (ul).
A regra não é nova, retomando o que estava em vigor em Portugal
desde 45 e no Brasil desde 43.
Lamentavelmente, na reformulação, ao pôr no mesmo saco nh, l, m, n, r
e z, o resultado foi "estragar" a
regra e induzir os falantes em erro. Em ba-i-nha, mo-i-nho e
ra-i-nha o i é antecedido de vogal com que não forma ditongo, mas não forma
sílaba com nh. Logo, seguindo a regra à letra, teríamos de escrever “baínha”, “moínho”
e “raínha”, quando nenhuma destas palavras é acentuada.
Comparemos com a redação anterior:
1. Norma de 1945 (espaço luso-africano): “Prescinde-se
do acento agudo nas vogais tónicas i e u de vocábulos oxítonos ou paroxítonos,
quando, precedidas de vogal
que com elas não formam ditongo, são seguidas de l, m, n, r ou z finais de sílaba, ou então de nh: adail,
hiulco, paul; Caim, Coimbra, ruim; constituinte, saindo, triunfo; demiurgo,
influir, sairdes; aboiz, juiz, raiz; fuinha, moinho, rainha.”
2. Formulário Ortográfico de 1943 (Brasil): “Põe-se
o acento agudo no i e no u tônicos que não formam ditongo com a vogal anterior: aí, balaústre, cafeína,
cais, contraí-la, distribuí-lo, egoísta, faísca, heroína, juízo, país, peúga,
saía, saúde, timboúva, viúvo, etc.
Observação 1ª - Não se
coloca o acento agudo no i e no u quando, precedidos de vogal que com eles não
forma ditongo, são seguidos de
l, m, n, r ou z que não iniciam silabas e, ainda, nh: adail, contribuinte, demiurgo, juiz,
paul, retribuirdes, ruim, tainha, ventoinha, etc.
Observação 2ª - Também
não se assinala com acento agudo a base dos ditongos tônicos iu e ui, quando
precedidos de vogal: atraiu, contribuiu, pauis, etc.”
A ânsia de simplificar a regra levou à sua deturpação.
CONCLUSÃO: Não se coloca o acento agudo no i e no u tónicos quando, precedidos de vogal que com eles não forma ditongo, são seguidos de l, m, n, r ou z com que constituem sílabas não iniciam silabas e, ainda, de nh: pa-ul, Co-im-bra, tri-un-fo, ca-ir, ju-iz, la-da-i-nha.
Bom resto de domingo!
AP
Olá António/Antônio
ResponderExcluirEstive há pouco a consultar o seu blogue, a partir do blogue do José Maria, mas não deixei qualquer comentário.
Sou Professora, licenciada em História, mas também lecciono Português.
Acho estas explicações muito interessantes. Quando entendemos o porquê das "coisas", tudo se torna mais fácil e atrativo.
Sou a favor do Novo Acordo Ortográfico, em muitos pontos, noutros, discordo. A Língua, como sabe, não é uma entidade morta, assim está em contínua evolução. Se assim não fosse, continuaríamos a escrever farmácia, com "ph".
Na Língua Francesa, tal como sabe, ainda não se "mexeu", mas os Franceses mais atuais já fazem mais elisões, que as normais, e colocam as frases de maneira mais simples, mas corretas, gramaticalmente, falando.
Eu, ainda tendo a escrever uma ou outra palavra, "à maneira antiga", mas uma grande parte delas, já escrevo, sem qualquer dificuldade, isto é, com as regras do Novo Acordo.
Colega, tenho dois blogues: "AFETOS E CUMPLICIDADES", que, ainda, talvez não conheça, e o "LUZES E LUARES", onde deixou comentário, o qual desde já agradeço.
Os meus espaços estão abertos a toda a gente, menos a anónimos. Será um prazer recebê-lo.
Gostei muito deste encontro e conversa.
Tenha uma excelente semana.
Abraços da Luz, que na realidade se chama Emília.
Olá, colega Emília!
ResponderExcluirObrigado pela visita e comentário.
Em relação ao Acordo, divulgo-o (a informação nunca é de mais!), mas ciente de que o texto está longe de ser perfeito e pode/deve ser melhorado. O meu olhar vai muito além do NAO e centra-se sempre, e com muita emoção, na língua portuguesa, "a minha pátria", como diria o Poeta Maior.
Vindo da Filologia Românica, também lecionei, com prazer, "la belle langue" durante cerca de 35 anos. Maintenant, c'est fini...
Retribuindo os abraços, fico ao dispor.
AP
Olá António,
ResponderExcluirIsto ao som de "J' aime, j' aime la vie" escreve-se melhor.
Obrigada pelo seu comentário no "Luzes" e também já coloquei a minha foto, no painel do seu blogue.
Então foi Professor de Francês e Português, segundo presumo.
Na altura, em que frequentava História, havia Línguas e Lieraturas Modernas, que julgo terem substituído a Filologia Românica.
Tenha uma boa semana, com brilho no olhar.
Abraço da Luz.
Efetivamente, fui professor de Português e Francês.
ResponderExcluirAgora, sou apenas formador em temáticas da Didática das Línguas, ultimamente sobretudo no Novo Acordo, com deslocações às escolas, colégios, autarquias, etc., no âmbito de uma colaboração que tenho com a editora ASA desde 2011. Isto é, em vez de me aposentar, mudei de vida! E também posso dizer... "j'aime la vie"!
Uma semana cheia de luz... para a Luz! ;)
Olá.
ResponderExcluirÓtima postagem,foi divulgada no Portal Teia.
Até mais
Obrigado!
ExcluirAP