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sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

.Sobre a prorrogação do AO no Brasil - Luíz C. Amorim (escritor)

Fonte da imagem: AQUI.
Quando vi a notícia de que a Presidente Dilma assinou o decreto 7875, de 27.12.12, alterando o decreto 6583, de 29.9.208, prorrogando para 2015 a obrigatoriedade da aplicação do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa no Brasil, pensei que fosse mais uma arbitrariedade daquela senhora, como fez quando decretou que se escrevesse “presidenta”, quando nos referíssemos a ela, modificando toda uma gama de palavras que tomariam, muitas delas, uma forma ridícula.
Porque as modificações que o Acordo Ortográfico fez no português do Brasil foi quase superficial, embora algumas questões, como o hífen, causassem um tanto de confusão, com regras evasivas, incoerências, exceções, omissões e redundâncias. E ele foi implantado, quase todo mundo já se adaptou às mudanças. No caso de Portugal o caso é mais grave, pois o acordo vai modificar a maneira de falar, pois entre outras coisas, retira o “c” de palavras como “acto” e o “p” de palavras como “óptico”, que são muitas, diga-se de passagem. E o povo português não parece muito entusiasmado com as mudanças, conforme verifiquei quando estive lá, duas vezes. Os impressos – livros, jornais – não estão adotando a reforma.
Mas voltando à reforma no Brasil, estudando o caso a fundo, descobri que a coisa é ainda mais complicada. No acordo original, de 1990, consta que “Os Estados signatários tomarão, através das instituições e órgãos competentes, as providências necessárias com vistas à elaboração, até 1º de janeiro de 1993, de um vocabulário comum da língua portuguesa.” Acontece que os anos foram passando, passou 93, começou o novo século e o tal “vocabulário comum da língua portuguesa” não foi estudado, aliás, nenhuma providência foi tomada nesse sentido.
Em 2008, sem nenhuma definição de como o “vocabulário comum da língua portuguesa” seria feito – e “comum” significa que todos os países envolvidos: Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe, deveriam se reunir para chegar a um vocabulário que seria usado, pois em todos esses lugares onde a língua portuguesa é a língua oficial - outro decreto foi assinado no Brasil, o de número 6586, que dizia no seu artigo primeiro: “Nos termos do artigo 2º do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, os Ministérios da Educação, da Cultura e das Relações Exteriores e de entidades afins e dos países signatários do Acordo, adotarão as providências necessárias para a elaboração do vocabulário ortográfico comum da língua portuguesa.”
E a verdade é que o vocabulário “comum” não foi providenciado até agora e o Brasil decidiu, em 2008, pelas alterações que estão sendo implantadas, com a previsão de se tornarem obrigatórias no final de 2013, ou melhor, no começo de 2014. Prazo que agora foi prorrogado para 2015. O que não vai ser suficiente, pois sem o vocabulário comum da língua portuguesa, não dá para implantar mudanças que possam unificar a língua em tantos países. As diferenças existem e a reforma, como está, pode até ser revogada, até que o vocabulário comum seja feito em colaboração entre todos os países que têm como língua oficial o português.
O que pode demorar muito, pois como disse Ubaldo, “ é uma tarefa impossível fazer com que todos falem o português da mesma maneira pelo mundo, com tantas diferenças que existem.” Palavras diferentes lá e cá, mesmas palavras com significados diferentes, palavras diferentes com mesmo significado – seriam muitas alterações sem contar nas diferenças de grafia, que implicam também em diferenças de pronúncias.
O fato é que a reforma ortográfica está mais para uma modificação no vocabulário português brasileiro. E mesmo assim, não seria a época para isso, uma vez que se pretende uma reforma ortográfica de âmbito geral, comum a todos os países envolvidos, ou seja: a temida unificação da língua portuguesa.
Na verdade, se prestarmos atenção o Brasil tem o seu “vocabulário ortográfico da língua portuguesa”. Perceberam que não consta o “comum”, que é o objetivo do Acordo?

Data: 8/01/2013                                                                                  Fonte:
http://luizcarlosamorim.blogspot.com.br/2013/01/a-prorrogacao-do-acordo-ortografico-no.html

Abraço.
AP

7 comentários:

  1. Oi antônio, estou retribuindo a visita e informando que já sou sua seguidora. Parabéns.

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  2. Na diversidade está a riqueza.
    Angola já recusou liminarmente o A.O.
    Em Portugal só os políticos querem o acordo...
    Conheço muitas pessoas do Brasil e a maior parte (esmagadora) não quer o acordo. A Guiné tem 90% de analfabetos, Moçambique outros tantos... acordo para quê?
    Que eu saiba os EUA, Austrália, Canadá e Grã-Bretanha nunca fizeram nenhum acordo ortográfico do inglês!

    Eu entendo os brasileiros, os brasileiros entendem-me... qual é o problema!?

    Isto é um projecto artificial, e não é assim que as Línguas evoluem... elas evoluem naturamente! Não porque os políticos querem!

    Abraço

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  3. Fica registada e divulgada a opinião.
    Concordo que em Portugal há um sentimento alargado contra o AO. Nos cerca de 30 seminários sobre o tema que orientei, em 2012, em vários pontos do país, pude confirmá-lo. Mas enquanto que por cá a generalidade dos opositores às novas regras entende que não se deve mexer no AO45, no Brasil, a situação é diferente. Uma boa parte dos que criticam o AO90 fazem-no porque acham que a reforma é tímida e deveria (deve) ir mais longe.
    Sendo verdade que as línguas, como organismos vivos que são, evoluem naturalmente, não há nenhuma reforma que tenha seguido fielmente essa evolução. As razões que estiveram, por exemplo, na base do Formulário de 1911 também foram políticas. Na época, houve, como sabe, um verdadeiro levantamento intelectual contra as alterações. O caso de Fernando Pessoa é paradigmático.
    Esperemos que o período de transição seja aproveitado para que a possível simplificação seja um facto, já que a unificação das normas luso-afro-asiático e brasileira é uma utopia.
    Retribuo o abraço.
    AP

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  4. Com esta reforma ortográfica perdeu-se uma enorme oportunidade de uniformizar a ortografia de todos os países lusófonos. Se até aqui havia duas normas ortográficas, agora passou a haver três:
    a) A norma brasileira (usada no Brasil);
    b) A norma portuguesa pós-acordo (usada em Portugal);
    c) A norma luso-africana pré-acordo (usada nos restantes países lusófonos. Angola e Moçambique não ratificaram o AO e os outros apesar de o ratificarem não o aplicam);

    Internacionalmente a língua sofreu um enorme abalo com este acordo ortográfico que veio afastar ainda mais a ortografia dos diversos países lusófonos. Lamentável. Se calhar mais valia ter deixado tudo como estava...

    Pedro Oliveira Reis

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  5. Boa noite, Pedro.
    1. Quando Portugal e Brasil concluírem os seus períodos de transição (entre maio de 2015 e janeiro de 2016) e aplicarem o AO em pleno, os restantes países terão de fazer o mesmo, sob pena de ficarem para trás. Acredito que vai haver ajustamentos no texto e que vão ser tidas em consideração as reivindicações de Angola em relação às suas línguas nacionais.
    2. A uniformização da ortografia será sempre o elo mais fraco da reforma. A aproximação possível será a alternativa mais viável, pois há aspetos das normas brasileira e luso-africana que não são uniformizáveis.
    3. "Internacionalmente a língua sofreu um enorme abalo"? Não me parece. Para já, tudo está (como estava) em banho-maria...
    4. Finalmente, insisto que se trata apenas de ortografia, uma convenção. O essencial da língua não está nem nunca estará em risco.
    Abraço.
    AP

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  6. Não estou de acordo consigo. Eu digo-lhe o que vai acontecer:
    a) Em Portugal nenhum político vai ter coragem de revogar o AO pelo que a filosofia do facto consumado vai imperar;

    b) O Brasil é uma incógnita. Tanto poderá revogar o AO, como mantê-lo ou até mesmo prorrogar o período de transição. De qualquer forma, o que quer que decidam é irrelevante porque irão manter sempre uma ortografia própria e que não será comum a mais nenhum país lusófono;

    c) Cabo Verde, Guiné, S.Tomé e Príncipe e Timor assinam qualquer coisa que lhes ponham à frente mas na prática nunca escreverão segundo o AO porque irão manter eternamente o período de transição;

    d) Angola e Moçambique que já pensam pela sua cabeça nunca irão ratificar o AO. Significa isto 'ficar para trás' ? Não vejo desta forma. Eu diria mais que é uma forma de adquirirem uma identidade própria ao terem uma ortografia diferente da que vigora em Portugal;

    Pedro Oliveira Reis

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    Respostas
    1. Se o Pedro sabe o que vai acontecer, assunto encerrado!
      "I rest my case."
      AP

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