Na minha leitura (atrasada como sempre…) da revista portuguesa Visão de 16 de janeiro passado, vi-me perante esta passagem do artigo de opinião de Luís Amado (página 16):
“A crise acentuou a função crucial do crescimento nas sociedades ocidentais, significativamente definidas como sociedades de consumo e de “bem estar”. É esse “bem estar” que garante a confiança, a paz social e a estabilidade política, fatores críticos do desenvolvimento.”
O “bem estar” de Luís Amado (ou da revista Visão?) provocou-me um verdadeiro mal-estar (nunca o muito comum “mau-estar”, analisado AQUI).
Estando o AO longe de ser uma obra imaculada, não deve ser
invocado como justificação para aplicações “à la carte” das novas regras:
tiram-se os “cês” e os “pês” (dando origem a “fatos” em vez de “factos” e a
“patos” em vez de “pactos”) e os hífenes a eito e está feito!
A consulta das fontes não deixa qualquer
dúvida:
FONTE
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REGRA
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GRAFIA
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FO1911
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De acordo com a Base XXXIV, b), o hífen “será utilizado também
nos seguintes caso: Os advérbios mal, bem,
formando o primeiro elemento de um composto, unem-se ao segundo elemento por
hífen, quando sem êle a soletração seria errada; ex.: bem-aventurança (…).
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bem-estar
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FO43
(BRAS)
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Segundo a Base XLVI, 5º g), há hífen a
seguir a “bem, quando a palavra
que lhe segue tem vida autônoma na língua ou quando a pronúncia o requer: bem-ditoso, bem-aventurança, etc.”
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bem-estar
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AO45
(PORT)
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A Base XXIX, 12.°), determina o uso de
hífen em “compostos formados com o prefixo bem, quando o segundo elemento começa por vogal ou h, ou então
quando começa por consoante, mas está em perfeita evidência de sentido: bem-aventurado, bem-aventurança, bem-humorado
(…)”
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bem-estar
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AO 90
(PORT
e
BRAS)
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Base XV, nº 4: “Emprega-se o hífen
nos compostos com os advérbios bem
e mal, quando estes formam com o elemento que se lhes segue uma unidade
sintagmática e semântica e tal elemento começa por vogal ou h (…): bem-aventurado, bem-estar, bem-humorado.
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bem-estar
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Vinda do latim bene, a palavra passou
pela forma arcaica bẽe. No entanto, já encontramos a grafia bem em textos dos séculos XVIII e XIV. Não consegui descobrir em
que altura foi introduzido o hífen em formas em que bem- é elemento de composição, mas encontrei bem-estar em textos do século XIX. Curiosamente, a palavra era
considerada galicismo por alguns puristas.
CONCLUSÃO:
Era e é: bem-estar!
Fontes
consultadas:
.Infopédia.
.Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa,
de José Pedro Machado.
.Formulários Ortográficos de 1911 e de 1943 (ainda em vigor no Brasil) e Acordos Ortográficos de 1945 (em vigor em Portugal) e de 1990.
.Formulários Ortográficos de 1911 e de 1943 (ainda em vigor no Brasil) e Acordos Ortográficos de 1945 (em vigor em Portugal) e de 1990.
Abraço e desejo a todos muitos momentos de
bem-estar!
AP
Imagem encontrada AQUI.
Nossa Antonio, ainda bem que é bem-estar, pois esta é uma palavra que uso muito nos meus artigos no blog e sempre coloquei o hífen!
ResponderExcluirRealmente o “bem estar” de Luís Amado provoca um verdadeiro mal-estar ...rsrs
Excelente trabalho de pesquisa amigo, fonte de vários e consagrados autores e gramáticos!
Obrigada e uma grande semana! :)))
Obrigado, Adriana, e excelente semana! ;)
ExcluirOlá António
ResponderExcluirEu tinha dúvidas.
Obrigada pela aula
Lúcia
Que ótimo!
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