Na linha seguida neste espaço de divulgar diferentes opiniões e posições sobre o AO e os acidentes de percurso que têm condicionado a sua aplicação plena, divulgo hoje um texto da Academia Brasileira de Letras sobre o prolongamento do período de transição até 31 de dezembro de 2015.
ABL
divulga nota lamentando o adiamento da definitiva entrada em vigor do Acordo
Ortográfico
A Diretoria da ABL, em sua primeira reunião deste ano,
divulgou no dia 23 de janeiro, nota lamentando a decisão e afirmando que, nos
primeiros dias de 2013, tão logo a obrigatoriedade da unificação ortográfica
passasse a vigorar plenamente, iria
desenvolver um amplo movimento para que o idioma fosse
adotado como língua de trabalho oficial na Organização das Nações Unidas
(ONU).
Ainda segundo a
nota, não haveria mais desculpas para que os fóruns oficiais de política
exterior continuassem a passar ao largo de um idioma de mais de 260 milhões de
falantes, a pretexto das discrepâncias de grafia entre os países que compõem
seu universo. “Consequência lógica da simplificação da escrita consagrada no
Acordo seria o reconhecimento da crescente importância da lusofonia no cenário
internacional e o coroamento natural de um longo processo, amadurecido sem
qualquer açodamento”, afirma o documento. E prossegue: “Houve bastante tempo e
oportunidade para que os descontentes se manifestassem. É uma pena que tenham
deixado para forçar um adiamento unilateral nas últimas horas do prazo”.
A nota na íntegra:
A ABL e o adiamento do Acordo Ortográfico
Nas últimas horas de dezembro, quando o ano de 2012 estava
terminando, o governo surpreendeu o
país com a decisão de adiar para 2016 a
entrada em vigor do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa. Só nos resta lamentar esse retrocesso – como
observou o acadêmico Arnaldo Niskier em recente artigo.
Nos primeiros dias de 2013, tão logo a obrigatoriedade da
unificação ortográfica passasse a vigorar plenamente, a Academia Brasileira de
Letras pretendia iniciar um amplo movimento para que o idioma fosse adotado
como língua de trabalho oficial na ONU e outros organismos internacionais. Não
haveria mais desculpas para que os fóruns oficiais de política exterior
continuassem a passar ao largo de um idioma
de mais de 260 milhões de falantes, a pretexto das discrepâncias de
grafia entre os países que compõem seu universo. Consequência lógica da simplificação
da escrita consagrada no Acordo seria um
reconhecimento da crescente importância
da lusofonia no cenário internacional e o coroamento natural de um longo
processo, amadurecido sem qualquer açodamento.
Convém recapitular suas principais etapas. O Acordo
Ortográfico da Língua Portuguesa foi assinado em 1990. Uma criança então
nascida já seria hoje um cidadão adulto. No decorrer do extenso
período de debates e discussões internas e externas sobre os problemas e as
diferentes propostas dessa unificação, tal Acordo foi dissecado por especialistas,
aprovado pelo Congresso de diferentes países, sancionado por chefes de estado.
Finalmente, o Presidente Lula firmou em 2008 um documento decretando que a
partir de 1º de janeiro de 2013 o Acordo entraria definitivamente em vigor no
Brasil.
O país a ele aderiu sem traumas e com entusiasmo,
desde esse momento em 2008, mesmo sem
ser obrigatório e sem que houvesse chegado o final do prazo. Imediatamente,
jornais, revistas e livros passaram a segui-lo. Há quatro anos nossas crianças
estão sendo alfabetizadas com o uso dessa grafia e lendo livros e revistinhas
que seguem essa orientação. Centenas de concursos públicos o adotaram,
inclusive o ENEM. Nossas 200.000 escolas
o aceitaram – incluindo as do interior – e
o fato pode ser atestado na Olimpíada de Língua Portuguesa.
A Academia Brasileira de Letras, por decreto presidencial
de 1972, como lembra Niskier, tem, entre nós, “as prerrogativas de ser a última
palavra em matéria de grafia”. Ao longo de todos esses anos, jamais negou sua
colaboração à sociedade, mas sempre procurou ouvi-la amplamente. O acadêmico
Antonio Houaiss, filólogo respeitado no mundo inteiro, dedicou intensos
esforços e grande parte de sua vida à
cuidadosa construção dessa obra delicada, até ela poder ser amplamente aceita. Seu trabalho foi
continuado pelo acadêmico Evanildo Bechara, com idêntica dedicação.
Ao longo desse processo, houve bastante tempo e
oportunidade para que os descontentes se manifestassem. É uma pena que tenham
deixado para forçar um adiamento unilateral nas últimas horas do prazo. Nem há
o que comentar, os fatos falam por si. Só resta mesmo lamentar.
Academia Brasileira de Letras
Janeiro de 2013
Se calhar a ABL até terá razão. Não é justo que a meia dúzia de dias de entrar em vigor o AO seja adiado por 3 anos.
ResponderExcluirNo entanto há duas situações que me fazem confusão:
- Eles falam como se com o AO, portugueses e brasileiros passassem a escrever da mesma forma o que não é verdade;
- Por outro lado, dizem que iniciariam um amplo movimento para que o idioma fosse adoptado como língua de trabalho oficial na ONU - então e durante este período de transição não podem iniciar esse movimento porquê ? Se portugueses e brasileiros continuarão a escrever de forma diferente, em que é que o AO interfere para que o português seja reconhecido como língua oficial da ONU ?
Pedro Oliveira Reis
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ExcluirBom resto de domingo.
AP