O novo Acordo Ortográfico da língua portuguesa entra na quinta-feira, oficialmente, em vigor em Cabo Verde, o segundo país a pô-lo em prática, após Portugal, numa mudança que será "faseada e irreversível", segundo o ministro da Cultura cabo-verdiano.
Em entrevista à agência Lusa, Mário Lúcio Sousa disse
que, agora, o acordo será obrigatório, mas estimou que a velha grafia da língua
portuguesa só desaparecerá definitivamente do país em 2020.
"Não é uma atitude que se possa exigir com ruturas.
Há também previsão de que a implementação seja faseada. Assim como se previu
uma fase de transição de seis anos (de 2009 a 2015), estamos a prever um
período até 2019/2020 para a implementação paulatina do acordo
ortográfico", sustentou Mário Lúcio Sousa.
O ministro esclareceu que o período de implementação
paulatina será para o país erradicar "de vez" a velha grafia. Será
adotado um Plano de Implementação Complementar, que será executado "de
forma concertada e articulada" entre os diferentes intervenientes (Estado,
Comunicação Social e estabelecimentos de ensino).
O AO (Acordo Ortográfico) foi aprovado no Conselho de
Ministros cabo-verdiano em 2009, mas o Governo aprovou um período de transição
de seis anos, altura em que as novas regras foram utilizadas dispersamente e
através de corretores, em alguns departamentos da administração pública e nalguns
jornais "online" do país.
O ministro garantiu à Lusa que estão criadas todas as
condições para o país começar a escrever apenas com base nas novas regras da
língua portuguesa, mas a partir de agora o Governo de Cabo Verde promoverá
sessões de esclarecimento para professores, estudantes, funcionários,
jornalistas, corpo diplomático, entre outros.
Irá também disponibilizar conversores ortográficos e
outros instrumentos que facilitem o uso do AO, bem como um guia de utilização
dirigido aos meios de comunicação social, que será fornecido pelo Instituto de
Linguística Teórica e Computacional de Lisboa, que tem um protocolo com o
Instituto da Investigação e do Património Culturais (IIPC) de Cabo Verde.
O executivo cabo-verdiano irá adotar a nova grafia em
toda a correspondência oficial do Estado, em todos os órgãos de comunicação
social, designadamente, jornais e televisões e Boletim Oficial.
Mário Lúcio Sousa reconheceu que o novo acordo terá
implicações nas gráficas, nos escritores, nas editoras, nas escolas, mas o país
está num "ponto de não retorno".
"É melhor nós avançarmos e depois trabalharmos as
outras questões, porque não vejo que o acordo venha a ser anulado, por exemplo.
Cabo Verde tem essa tradição de nós avançarmos e um país com poucos recursos
não pode vacilar nessas situações", salientou.
Em declarações à agência Lusa, dois diretores de escolas
secundárias na Cidade da Praia recordaram que há mais de um ano que estão a
fazer as diligências para avançar com as novas regras da escrita da língua
portuguesa, pelo que se espera que a sua implementação será normal e sem muita
resistência.
"Agora, o nosso dever, enquanto responsável da
escola, é esclarecer, sensibilizar e incentivar a implementação e, depois,
conforme as regras e orientações do Ministério da Educação, a escola terá que
avançar, engajar-se e colaborar nesse sentido", disse Fernando Pinto, diretor
da Escola Secundária Cesaltina Ramos, com cerca de 1300 alunos.
Dizendo que até agora há uma "mistura de
escrita" e que será feito um trabalho com os professores de Língua
Portuguesa para consciencializar os alunos com as novas formas de escrita do
português, Maria José Pires, diretora do liceu Pedro Gomes, explicou,
entretanto, que será uma "transição natural e sem resistências".
O ministro disse que Cabo Verde não encontrou
dificuldades para implementar o novo acordo e destacou o apoio de organizações,
como o Instituto Internacional de Língua Portuguesa (IILP), com sede na Praia,
a Comissão Nacional das Línguas, órgão consultivo do Governo no que toca à
política linguística, bem como o Ministério das Relações Exteriores (MIREX).
O acordo, firmado em 1990, já foi ratificado pela maioria
dos países lusófonos, sendo que em Angola ainda não foi aprovado pelo Governo,
em Portugal entrou em vigor em prática em maio último e no Brasil está previsto
para 01 de janeiro próximo.
Fonte: Notícias ao Minuto
(30-09-2015)
Sou completamente contra isto! Como é que um país como o nosso diz que preza tanto a nossa cultura e as nossas tradições se nem a sua própria língua defende!
ResponderExcluirwww.pensamentoseepalavras.blogspot.pt
Fica registada a sua opinião, caro Hélder.
ExcluirMas é contra o quê? É que entrei no seu "pensamentosepalavras" e constatei que aplica as regras do AO90...
Bom fim de semana!
ProfAP
Pois nós agora somos "obrigados" a escrever assim. Caso contrário estamos a dar erros ortográficos.
ExcluirA obrigatoriedade aplica-se a situações oficiais. No uso pessoal da língua (como um blogue), pode usar a norma que entender...
ExcluirQuando entrou em vigor o Formulário de 1911, Fernando Pessoa foi contra (e muito!), continuando a escrever "cysne", "sciencia", "abysmo", "phase", "psalmo", etc.
De qualquer modo, a defesa da língua extrapola a ortografia, que é apenas uma convenção. Se não, como poderíamos dizer que a língua de Camões (e de Pessoa) é a sua e a minha? E é!
Cptos.