COMENTÁRIO:
Ou muito me engano ou as declarações de Marcelo Rebelo de Sousa sobre do AO90 são apenas o pretexto para uma bicada de Pedro Santana Lopes…
Os Presidentes também erram
Todos têm direito a errar, até o
Presidente, mas há umas matérias mais sensíveis.
É bastante curioso que as reações mais críticas às
declarações do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa sobre o acordo ortográfico
tenham vindo de responsáveis de outros países da CPLP ou mesmo do seu
secretário executivo. Declarações críticas ou de moderação, como até foi o caso
de responsáveis de Angola e de Moçambique. O que não se ouviu, certamente, foi
uma voz que fosse dos responsáveis dos outros países que compõem a CPLP de
apoio à linha política das declarações do novo Presidente português. Nem de
Moçambique, nem de Angola, os tais países que ainda não ratificaram. E assume
especial significado no caso de Moçambique, porque era o país que Marcelo
Rebelo de Sousa estava a visitar em clima de grande alegria e satisfação. Da
parte do Governo português já se sabe que houve completo distanciamento nas
palavras prudentes do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.
Quem lê estes textos sabe que tenho elogiado estes
primeiros tempos de presidência de Marcelo. Só que, neste caso, e
independentemente da posição que se tenha sobre o acordo, não parece muito
cordial que um chefe de Estado anuncie em território estrangeiro a sua
desvinculação ou o seu descomprometimento com um acordo internacional assinado
e ratificado pelo Estado do qual é a mais Alta Figura. Terá sido um deslize? É
mais um erro porque Marcelo não fez aquilo sem pensar antes. Não se tratou de
um improviso no momento. Marcelo quis, talvez embalado pelas manifestações de
simpatia que tem encontrado por todo o lado, concitar o apoio fácil e o aplauso
generalizado numa matéria onde para se ser politicamente correto se deve dizer
"eu escrevo de acordo com a grafia antiga". Curioso é que nunca ouvi
ninguém explicar porque é que considera o acordo de 1945, feito no tempo do
regime anterior, tão correto. Esse ou o anterior. É que antes do acordo de 1990
não vigorava a grafia do tempo da fundação da nacionalidade por D. Afonso
Henriques. Portanto, quem não gosta deste acordo, com certeza que apoia o
anterior e seria curioso explicar porquê. Mas não dou mais para esse peditório.
A questão é política e de responsabilidade institucional
e sendo-se Presidente da República os cuidados têm de ser maiores. Marcelo já
veio dizer que o acordo ortográfico é um não tema. Eu também estava convencido
de que não era, mas quem o tornou um tema foi o próprio. Todos têm direito a
errar, até o Presidente, mas há umas matérias mais sensíveis do que outras. E
esta tem sido especialmente delicada. Facto é que o Estado português tudo tem
feito para ver esse acordo aceite pelos países seus irmãos. Qualquer mudança de
posição nesta matéria mereceria uma ponderação, um cuidado e uma sabedoria
diplomática exemplares para Portugal não ficar mal na foto... grafia.
Data: 13/05/2016
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