Determinando a eliminação das consoantes
mudas (c e p), a Base IV do Novo Acordo Ortográfico é lenha para a fogueira em
que se transformou a troca de argumentos a favor e contra as novas regras.
Questão atual? Puro engano! A polémica vem de longe...
Transcrevo, com a devida vénia, um extrato do Relatório
de Atividades da Comissão de Educação, Ciência e Cultura da Assembleia da
República Portuguesa
(páginas 9 e 10), elaborado em 30 de julho de 2013:
“AS PRIMEIRAS TENTATIVAS DE REFORMA ORTOGRÁFICA
As
reflexões sobre a ortografia portuguesa são muito antigas e sempre se
digladiaram os defensores do critério etimológico com os do critério fonético.
Como não havia uma ortografia oficial da língua portuguesa até ao século XIX,
cada pessoa escrevia segundo a sua lógica e a moda dominante dependia, em
grande medida, do prestígio do escritor em voga no momento.
Sem
se pretender uma análise exaustiva desta matéria, referiremos apenas alguns
exemplos para captarmos algumas das etapas que conduziram à elaboração do
acordo ortográfico.
No
português medieval não havia uma ortografia pré-definida, predominando o
critério fonético, mas a partir do século XVI prevaleceu o critério
etimológico. Todavia, houve quem não o aceitasse. Jerónimo Cardoso, considerado o primeiro
dicionarista português, excluiu do alfabeto o h e o k. Na mesma linha, João de Barros, na sua
Gramática da Língua Portuguesa, publicada em 1540, defendeu o critério fonético
face ao etimológico, eliminando o que chamava de consoantes ociosas. Nenhum dos dois usa o c mudo em
muitas palavras. Posição semelhante foi assumida por Joam Franco
Barretto, em 1671, na Ortografia da Língua Portuguesa e por Bento Pereira,
Regras Gerays, Breves, & Comprehensivas da Melhor Ortografia, em 1666.
Orientação
diferente foi sustentada por Pedro
de Magalhães Gandavo, Regras que Ensinam a Maneira de Escrever e a
Orthographia da Língua Portuguesa, 1574, e por Alvaro Ferreira de Véra, em Ortografia ou modo de
escrever certo na língua portuguesa, 1631, defensores do conhecimento do latim como suporte para uma
escrita sem erros.
O
século XVIII trouxe novas achegas a esta problemática com Luís António Verney, no
Verdadeiro Método de Estudar, para Ser Util à República e à Igreja, 1746. Com
ele, a simplificação da língua servia para acabar com o analfabetismo, para
aprofundar o que podemos chamar de democratização cultural e possibilitar que
Portugal acompanhasse o progresso científico e entrasse na modernidade. O
critério etimológico devia ser substituído pelo fonético, com regras
ortográficas mais realistas e criteriosas.
As letras mudas deviam ser eliminadas,
como era é o caso da letra s inicial em scena (cena), ou do c em acto (ato) e
do h de homem. Os critérios que ele elaborou não deixaram de ser contestados,
tendo como grande opositor o jesuíta José de Araújo, sob o pseudônimo de Frei Arsenio da Piedade, que
deu à estampa as Reflexoens Apologeticas, 1748, criticando todas as cartas de Verney. Este, por
seu turno, replicou com Respostas as Reflexoens.
Na
sequência deste debate, que envolveu vários sectores da sociedade, houve uma
tentativa de estabilização da língua portuguesa através da publicação do
primeiro volume do Dicionário da Academia da Língua Portuguesa relativo à letra
a, no ano de 1793, mas sem qualquer desenvolvimento posterior.”
Abraços.
AP
Feliz Dia do professor!!!!
ResponderExcluirPasse lá no blog http://sosprofessor-atividades.blogspot.com.br/
e pegue o selinho.
Bjos