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sábado, 12 de outubro de 2013

Consoantes mudas: SIM ou NÃO? O desacordo vem do séc. XVI…


Determinando a eliminação das consoantes mudas (c e p), a Base IV do Novo Acordo Ortográfico é lenha para a fogueira em que se transformou a troca de argumentos a favor e contra as novas regras.
 
Questão atual? Puro engano! A polémica vem de longe...
 
Transcrevo, com a devida vénia, um extrato do Relatório de Atividades da Comissão de Educação, Ciência e Cultura da Assembleia da República Portuguesa (páginas 9 e 10), elaborado em 30 de julho de 2013:

AS PRIMEIRAS TENTATIVAS DE REFORMA ORTOGRÁFICA
As reflexões sobre a ortografia portuguesa são muito antigas e sempre se digladiaram os defensores do critério etimológico com os do critério fonético. Como não havia uma ortografia oficial da língua portuguesa até ao século XIX, cada pessoa escrevia segundo a sua lógica e a moda dominante dependia, em grande medida, do prestígio do escritor em voga no momento.
Sem se pretender uma análise exaustiva desta matéria, referiremos apenas alguns exemplos para captarmos algumas das etapas que conduziram à elaboração do acordo ortográfico.
No português medieval não havia uma ortografia pré-definida, predominando o critério fonético, mas a partir do século XVI prevaleceu o critério etimológico. Todavia, houve quem não o aceitasse. Jerónimo Cardoso, considerado o primeiro dicionarista português, excluiu do alfabeto o h e o k. Na mesma linha, João de Barros, na sua Gramática da Língua Portuguesa, publicada em 1540, defendeu o critério fonético face ao etimológico, eliminando o que chamava de consoantes ociosas. Nenhum dos dois usa o c mudo em muitas palavras. Posição semelhante foi assumida por Joam Franco Barretto, em 1671, na Ortografia da Língua Portuguesa e por Bento Pereira, Regras Gerays, Breves, & Comprehensivas da Melhor Ortografia, em 1666.
Orientação diferente foi sustentada por Pedro de Magalhães Gandavo, Regras que Ensinam a Maneira de Escrever e a Orthographia da Língua Portuguesa, 1574, e por Alvaro Ferreira de Véra, em Ortografia ou modo de escrever certo na língua portuguesa, 1631, defensores do conhecimento do latim como suporte para uma escrita sem erros.
O século XVIII trouxe novas achegas a esta problemática com Luís António Verney, no Verdadeiro Método de Estudar, para Ser Util à República e à Igreja, 1746. Com ele, a simplificação da língua servia para acabar com o analfabetismo, para aprofundar o que podemos chamar de democratização cultural e possibilitar que Portugal acompanhasse o progresso científico e entrasse na modernidade. O critério etimológico devia ser substituído pelo fonético, com regras ortográficas mais realistas e criteriosas.
As letras mudas deviam ser eliminadas, como era é o caso da letra s inicial em scena (cena), ou do c em acto (ato) e do h de homem. Os critérios que ele elaborou não deixaram de ser contestados, tendo como grande opositor o jesuíta José de Araújo, sob o pseudônimo de Frei Arsenio da Piedade, que deu à estampa as Reflexoens Apologeticas, 1748, criticando todas as cartas de Verney. Este, por seu turno, replicou com Respostas as Reflexoens.
Na sequência deste debate, que envolveu vários sectores da sociedade, houve uma tentativa de estabilização da língua portuguesa através da publicação do primeiro volume do Dicionário da Academia da Língua Portuguesa relativo à letra a, no ano de 1793, mas sem qualquer desenvolvimento posterior.
Nota: Destaques a cor introduzidos por mim.
 
Abraços.
AP


Um comentário:

  1. Feliz Dia do professor!!!!
    Passe lá no blog http://sosprofessor-atividades.blogspot.com.br/
    e pegue o selinho.
    Bjos

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