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sábado, 27 de abril de 2013

.destroyer, destróier ou destroier?

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Este é um caso cujo interesse advém da aplicação sui generis do texto do Novo Acordo Ortográfico.
Comecemos pelo sentido: “navio muito rápido, para destruir os barcos torpedeiros, equipado com aparelhagem especial para dar caça a submarinos”. (Infopédia)
 
Esclarecido o sentido, vamos às hipóteses apresentadas no título da mensagem.
A. Destroyer
Estrangeirismo do inglês, é uma grafia válida para Portugal, mas não é usada no Brasil.
B. Destróier
Era a forma utilizado utilizada no Brasil antes da aplicação do AO. Considerando a base IX, número 3, das novas regras (“Não se acentuam graficamente os ditongos representados por ei e oi da sílaba tónica das palavras paroxítonas”), esperar-se-ia a queda do acento. Foi isso que aconteceu? Veja a resposta no ponto seguinte.
C. Destroier
Forma claramente fora de jogo, é inválida tanto para Portugal como para o Brasil.
Embora o AO determine a queda do acento no ditongo oi das palavras graves (como em Troia, joia e jiboia), uma outra regra prevalece: a que determina que todas as palavras paroxítonas terminadas em r são acentuadas.
 
 
Conclusões:
Portugal
Brasil
destroyer (entre aspas ou em itálico)
Mas prefira a forma contratorpedeiro.
destroier (como antes do AO)
Nota: Contratorpedeiro está nos dicionários brasileiros e no VOLP da Academia Brasileira, mas não sei se é de uso corrente no Brasil.*
*- Entretanto, o leitor Charles confirmou-me, nos comentários, que contratorpedeiro é comum no Brasil.

Abraço.
AP


quinta-feira, 25 de abril de 2013

.“25 de abril” ou “25 de Abril”?


A. A aplicação do ponto 1 b) da Base XIX do Novo Acordo Ortográfico (“A letra minúscula inicial é usada (…) Nos nomes dos dias, meses, estações do ano”) parece não deixar dúvidas de que devemos escrever “25 de abril”. No Brasil, já se escrevia com minúscula na era pré-AO.
B. E se referirmos a 1974, data da queda da ditadura em Portugal?
Voltemos ao texto do Acordo, à mesma Base XIX, ponto 2 e): “A letra maiúscula inicial é usada (…) Nos nomes de festas e festividades: Natal, Páscoa, Ramadão, Todos os Santos”.
C. Podemos considerar que uma data histórica é uma festividade? Na opinião do Ciberdúvidas, sim.
D. Este é mais um caso, em que, na minha opinião, a redação o texto do AO podia ter sido mais rigorosa. Bastava ter escrito “festas, festividades e datas históricas” ou incluir uma data histórica nos exemplos.

Conclusões:
1. Os meses do ano escrevem-se com minúscula nas datas comuns, como é o caso de “25 de abril de 2013” ou “7 de setembro de 2012”.
2. No entanto, teremos de recorrer à maiúscula para nos referirmos a acontecimentos históricos: “25 de Abril de 1974” (para falarmos do fim da ditadura em Portugal) e “7 de Setembro de 1822” (para nos referirmos à independência do Brasil).

Revisão da matéria:
1.
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Certo com minúscula, pois anuncia-se a data (25 de abril de 2007) da comemoração do 33º aniversário do acontecimento histórico, ou seja, 25 de Abril de 1974.

2.
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Errado, uma vez que é referida a data histórica: 25 de Abril de 1974.

Abraço e, para quem é fã da data, boas comemorações!
AP

250 000 visitas!

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Sinto-me honrado com a vossa entrada frequente neste cibercantinho dedicado à divulgação crítica do Novo Acordo Ortográfico.
Dos 132 países que me visitaram, destaco: Brasil (51,4%), Portugal (39,4%), Estados Unidos (4,3%), Bélgica (0,8%) e Angola (0,6%).
Continuarei a partilhar informações, opiniões e reflexões com o mesmo empenho de sempre.
Segue o meu "Obrigado!" com um abraço tecido de afetos para todos, onde quer que estejam.
António Pereira


sábado, 20 de abril de 2013

.À semelhança de “microrganismo”, podemos escrever “microndas”?

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O caso de hoje prova, mais uma vez, que, apesar das simplificações introduzidas com o AO, a hifenização continua a ser um verdadeiro bico de obra na língua portuguesa!

ANTES DA APLICAÇÃO DO ACORDO ORTOGRÁFICO
A. Pela tradição lexicográfica, o prefixo micro sempre se aglutinou ao segundo elemento: microorganismo e microondas são exemplos disso. Tínhamos duas vogais juntas, não sendo correto colocar hífen elas. Ao mesmo tempo, tínhamos auto-observação, sendo erro retirar o hífen…
B. A par de microorganismo, tínhamos a variante resultante da crase das vogais: microrganismo. No entanto, não havia crase em microondas.

APÓS DA APLICAÇÃO DO ACORDO ORTOGRÁFICO
A. O ponto 1 da Base XVI determina que “Nas formações com prefixos (…) e em formações por recomposição (…) só se emprega o hífen nos seguintes casos: (…) b) Nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo termina na mesma vogal com que se inicia o segundo elemento: anti-ibérico, contra-almirante, infra-axilar, supra-auricular; arqui-irmandade, auto-observação, eletro-ótica, micro-onda, semi-interno.
A nova regra, embora mantenha, na maior parte dos casos, o que se fazia (como em auto-observação ou em contra-almirante), altera profundamente os procedimentos a adotar com o prefixo micro, introduzindo hífenes onde havia aglutinação: micro-ondas e micro-organismo.
B. No entanto, a par de micro-organismo, foi mantida a variante microrganismo, continuando a haver uma única grafia para micro-ondas (antes sem hífen, agora com ele).
 
 
Conclusão:
Podemos escrever microrganismo, mas não “microndas”.
Por que razão? - perguntará o leitor.
A única explicação que encontrei foi uma resposta dada no Ciberdúvidas, em 2007, segundo a qual não pode haver crase em microondas, devido ao facto de a primeira sílaba do segundo elemento ser a sílaba tónica (ondas), o que não acontece com organismo, em que a sílaba tónica é a penúltima (organismo).
Num primeiro momento, pareceu-me excelente a explicação. Quando comecei a aplicá-la com outras palavras, verifiquei que tal regra falha. Em casos como micro-organização e micro-ondulação, mantêm-se as duas vogais, não sendo tónica a primeira sílaba dos segundos elementos…
Explicação? Recorro a outra resposta do Ciberdúvidas (AQUI): “Trata-se de um caso de forma lexicalizada em que se deu a crase das vogais que ocorrem na periferia do elemento de formação e da base, forma essa já registada na tradição lexicográfica portuguesa e que importa manter.
Por outras palavras: Com microrganismo, a tradição continua a ser o que era!

Abraço.
AP

quarta-feira, 17 de abril de 2013

.Acordo ortográfico tem diferença de 6 meses entre Brasil e Portugal!

O chefe da diplomacia portuguesa disse esta quinta-feira que o prazo para a aplicação plena do acordo ortográfico "tem uma diferença de seis meses" entre Brasil e Portugal e sublinhou a importância da afirmação das culturas num mundo globalizado.
 

"O prazo de plena implementação para o acordo tem uma diferença de seis meses entre o Brasil e Portugal. Mas, refiro, plena aplicação. Nessa matéria seguimos muito o que foi feito no chamado acordo de Brasília, haverá um encontro internacional da língua portuguesa ainda este ano", referiu Paulo Portas durante uma conferência de imprensa conjunta no Palácio das Necessidades com o seu homólogo brasileiro, António Patriota, em visita oficial.
"Em globalização não são apenas as economias que competem, também são as culturas que na sua diversidade se afirmam", sustentou, ao responder às perguntas dos jornalistas.

domingo, 14 de abril de 2013

.Ontem, baixámos ou baixamos os preços?

Decathlon pode continuar a baixar os preços... com acento!
 
Clicando na entrada “Critérios de aplicação do AO” do Portal da Língua Portuguesa, podemos ler:
Passa a ser opcional o uso do acento gráfico para distinguir os seguintes casos:
•as formas do presente das do pretérito perfeito do indicativo em muitos verbos da 1ª conjugação: amamos (presente), mas amámos ou amamos (pretérito perfeito);
•as formas demos (pretérito perfeito do indicativo) e dêmos (presente do conjuntivo e imperativo) do verbo dar.
 
 
Embora numa fase inicial, houvesse quem defendesse (como a Doutora Margarita Correia do ILTEC) que em Portugal devíamos continuar a ensinar na escola a colocar acento na primeira pessoa do plural dos verbos da primeira conjugação, considerando o texto do AO e sobretudo os “Critérios de aplicação do AO”, não se justifica a valorização da grafia acentuada.
Para o Brasil, a questão é simples, pois já não usava o acento.
Justifica-se esta opcionalidade? Sim, uma vez que há realizações fonéticas diferentes. No Brasil (onde o a não é aberto), mas também em Portugal, onde o a é pronunciado aberto no Sul e fechado para um número elevado de falantes no Norte).
 
 
Conclusão:
PORTUGAL e BRASIL
Ontem, baixámos ou baixamos os preços. 
Nota:
Apesar de ser opcional, no Brasil a prática era e continua a ser não colocar acento.
Obs.: O AO também consagrou a dupla grafia fôrma/forma. Na prática, essa opcionalidade é efetiva apenas no Brasil, uma vez que, no português europeu, este acento desambiguador caiu com o Acordo de 1945 (aplicado apenas em Portugal), tendo sido mantido no Formulário de 1943 (seguido no Brasil).
Abraço.
AP


sexta-feira, 12 de abril de 2013

.Afinal, o que é a lusofonia?

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A. CONCEITO
Muito se fala de lusofonia, mas não há unanimidade sobre o que ela é (e o que deverá ser no futuro) e nem todos aceitam o conceito.
Decompondo a palavra (luso+fonia), poderíamos ser conduzidos a uma interpretação de âmbito restrito: “fala dos lusos” (=portugueses). No entanto, os sentidos dicionarizados do termo são bem mais amplos:
1. conjunto dos falantes de português.
2. conjunto de países que têm o português como língua materna ou como língua oficial.
O conceito terá partido “do sonho do pensador brasileiro, Sílvio Romero, que no início do século XX, constata que os países e colônias portuguesas, precisam se unir em prol de formar uma defensiva contra “concorrentes estranhos”, sendo composto por três círculos: 1º- as oito nações lusófonas; 2º- outras línguas e culturas de cada umas dessas oito nações; 3º- “indivíduos e instituições alheios aos países lusófonos, mas que mantêm uma relação, seja por empatia, erudição, ou outro interesse, com a nossa língua em comum.” Fonte: Fábio Lisboa (AQUI).

B. NÚMEROS
Consoante as fontes, assim são os números, que variam entre 190 e mais de 250 milhões.
Considerando que, segundo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, os números “Censo Demográfico 2010” apontam para uma população de quase 191 milhões de pessoas, o número total de lusofalantes ultrapassa seguramente os 200 milhões. Num artigo publicado no semanário Expresso (AQUI) Alexandra Carita atribui à língua portuguesa “mais de 250 milhões de falantes”, de acordo com as estatísticas do Banco Mundial, número bastante superior aos “cerca de 200 milhões” avançados pelo Instituto Camões.

C. RANKING
Também aqui, não há unanimidade: para uns, o português é a 5ª língua mais falada no mundo; para outros, ocupa a 6ª posição. Para o Instituto Camões, o português surge em 6ª lugar (3º nas línguas europeias faladas no mundo, depois do inglês e do espanhol).

D. PESO DE CADA PAÍS LUSÓFONO
As estatísticas do Banco Mundial dizem-nos que o Brasil é o motor da lusofonia com 77,6% dos lusofalantes. Seguem-se Moçambique (9,4%), Angola (7,7%) e… Portugal (4,2%).

Abraço.
AP

quarta-feira, 3 de abril de 2013

.auto-suficiente, autosuficiente ou autossuficiente?

Encontrei este título na versão online (AQUI) do Jornal de Notícias de hoje:

Só em vinho é que somos autosuficientes
No desenvolvimento do artigo era dito que “Portugal apresenta um grau de autosuficiência alimentar de 81%”, o que me deixa a convicção de que não se trata de uma gralha. Acrescento que este jornal aplica o Novo Acordo Ortográfico.

Analisemos a questão ponto por ponto.
1. Segundo o Acordo de 1945 (Formulário de 1943 para o Brasil), a regra dizia que, com o prefixo auto, havia hífen antes de vogal, h, r e s. Logo, o correto era escrever auto-suficiente.
2. Considerando que o JN adotou o AO90, vamos à nova regra, na Base XVI, ponto 2. a): Nas formações em que o prefixo ou falso prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por r ou s, devendo estas consoantes duplicar-se, prática aliás já generalizada em palavras deste tipo pertencentes aos domínios científico e técnico. Assim: antirreligioso, antissemita, contrarregra, contrassenha, cosseno, extrarregular, infrassom, minissaia, tal como  biorritmo, biossatélite, eletrossiderurgia, microssistema, microrradiografia.
Aplicando a regra, temos de passar a escrever autossuficiente! “Autosuficiente” é uma aplicação incorreta das novas regras. Não se escreve nem se escrevia assim.

Conclusão:
A grafia atual é autossuficiente!

Comentário:
Há quem indique esta regra como uma prova de que o AO desfigurou a língua portuguesa. Neste caso, não se justifica a crítica. Este tipo de aglutinação não é novo (sobretudo no campo científico). Já escrevíamos biorritmo, biossatélite, fotossíntese, morfossintaxe, etc. Há uma grafia bem mais estranha que todos conhecemos: girassol. Não são as comuns as aglutinações verbo+nome. Com o AO, temos mais dois casos a juntar à lista: mandachuva e paraquedas (e respetivos derivados) No entanto, o Portal da Língua Portuguesa e Academia Brasileira de Letras leem de forma diferente o texto do Acordo em relação a estas duas situações: por cá, admitem-se também as variantes com hífen (manda-chuva e para-quedas); no Brasil, o VOLP só regista as grafias aglutinadas. Consultando as observações postas a seguir ao ponto 1. da Base XV do AO, tenho de concordar com a aplicação feita pela Academia Brasileira: “Obs.: Certos compostos, em relação aos quais se perdeu, em certa medida, a noção de composição, grafam-se aglutinadamente: girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista, etc.
Esclarecedor!

Como não somos autossuficientes nos afetos, segue, como sempre, o meu abraço.
AP
 Imagem encontrada AQUI.

segunda-feira, 1 de abril de 2013

.Entrevista ao "Educadores Multiplicadores"!


O entrevistado de hoje é a nosso amigo António Pereira do blog “Acordo Ortográfico: O que muda?
Lembramos que tem mais entrevistados no Educadores Multiplicadores, confira!

Vamos à entrevista, aproveite!

 
E.M. Fale um pouco de você. Quem é António?
Vivo perto de Lisboa, numa pequena localidade, inserida numa reserva ecológica.
Adoro o mar e gosto de ler, de escrever, de cinema e de cozinhar.
Dedico-me à agricultura biológica em pequena escala, confecionando compotas e conservas (para os colegas e amigos) com os legumes e frutos bio que vou produzindo. Última criação: compota de nabo com pinhões.
Dizem que tenho sentido de humor, mas não suporto injustiças, sobretudo as que conduzem ao sofrimento humano.

E.M. Você atua como professor? Conte-nos um pouco do que faz como profissional.
Sempre desenvolvi o meu trabalho de professor com base em dois princípios.
O da AÇÃO, recorrendo a estratégias de estímulo do trabalho dos alunos e a atividades favorecedoras de uma progressiva autonomia. “Ouço, esqueço; vejo, lembro; faço, aprendo.” (provérbio chinês)
O da EMOÇÃO, dado a relação pedagógica ser determinante nas aprendizagens. Logo, sempre investi na criação de laços facilitadores das interações com os alunos. “Diz-me e eu esquecerei; ensina-me e eu lembrar-me-ei; envolve-me e eu aprenderei.” (provérbio de origem desconhecida)


E.M. Sabemos que a tecnologia é aliada da Educação. Nos últimos anos, temos visto que alguns estados/cidades estão distribuindo tabletes para alunos/professores e equipando as escolas com sala de informática com acesso a internet. Você acha que os alunos e professores estão preparados para tirar proveito destas ferramentas?
O essencial é a qualidade da formação (inicial e contínua) que é proporcionada aos professores e a sua motivação para o exercício da profissão. A tecnologia poderá ser um trunfo interessante em vários domínios: pesquisa criteriosa de informação, aquisição de sentido crítico, desenvolvimento da criatividade, aprofundamento da autonomia. No entanto, as novas tecnologias devem ser um meio e não um fim em si.

E.M. Se você não fosse Professor/Educador, que outra profissão você exerceria?
Poderia ter seguido a carreira de cozinheiro. Como o ensino, a culinária é uma forma de comunicação e uma fonte de emoções. Vou cozinhando para a família…

E.M. No Brasil existe a Lei do Piso Salarial do Magistério, já aprovado, e o “plano” do Senador Cristóvão Buarque de federalizar a educação básica no Brasil. E, em Portugal, existe algum plano que estabelece um valor mínimo de salário para os Professores?
Em Portugal, há um salário mínimo a nível nacional (485€ =1243R$) e um salário-base para os professores em início de carreira (809€ = 2074 R$). Estes são valores brutos a que serão ainda deduzidos impostos e contribuições para a segurança social.

E.M. Você acha que os profissionais da educação são bem vistos pela sociedade? A Sociedade sabe e reconhece o papel desses profissionais?
Embora o governo anterior ao atual tenha lançado em Portugal uma campanha contra os docentes (sobretudo os mais velhos) com o intuito de justificar medidas que levaram à degradação progressiva das condições de trabalho, inquéritos de opinião mostram que os professores (com os bombeiros e os carteiros) continuam a ser, para a população em geral, dos mais apreciados pelo seu trabalho (à frente de médicos, militares e polícias).

E.M. Você acha que o Professor tem sua parcela de culpa em deixar ou permitir que a sociedade não o valorize?
Atualmente, em Portugal, a desmotivação é grande e a preocupação para os professores é o desemprego que atingiu a classe em 2012 e vai agravar-se em 2013. Logo, para uma grande parte dos meus colegas, o que está em jogo é a sobrevivência.
Para valorizar a sua imagem junto da opinião pública, o professor não deve desistir de otimizar a qualidade do seu trabalho e comunicar com as famílias dos alunos, envolvendo-as no processo de ensino-aprendizagem. Dessa forma, pode dar visibilidade às suas estratégias de ação na escola e na sala de aula. Mesmo com as dificuldades que enfrentamos, é fundamental acreditar que podemos fazer a diferença na vida das crianças e jovens. É sempre a fé que nos salva…

E.M. Os governos sabem o deve ser feito para melhor a educação no País: Valorizar os profissionais da educação, oferecer os recursos disponíveis e assistência pedagógica para um bom aprendizado. Em sua opinião, por que eles não fazem?
Nalguns casos, pode ser por razões ideológicas, em que, numa perspetiva mais conservadora, não há a noção de que os alunos de hoje são muito diferentes dos de há 10, 15 e 20 anos. Logo, ignora-se que o trabalho do professor é muito mais complexo e, consequentemente, os recursos teriam de ser diversificados para fazer face a essa complexidade.
Noutras situações, as razões são meramente economicistas. A ideia de que a educação é a base do desenvolvimento da sociedade é uma bandeira dos discursos dos governantes, mas não sai do papel para o terreno. Seria necessária coragem para fazer uma aposta na cultura em geral e na educação em particular. Muitas vezes, não há vontade nem talento para o fazer.

E.M. “Comenta-se que, os professores não comungam das mesmas opiniões, principalmente, quando é para fazer greve e paralisações, disseminando a ideia de que a classe de professores é desunida”. O que você pensa a respeito?
Não é fácil unir os professores em ações reinvindicativas. Por um lado, há uma grande heterogeneidade na classe; por outro, as hipóteses de sucesso de uma greve são mais limitadas devido à natureza do trabalho do professor cuja falta não se faz sentir como acontece, por exemplo, com os hospitais ou com os meios de transporte.
Em Portugal, também é isso que acontece. A exceção à regra foi uma memorável manifestação há quatro anos que reuniu 100 000 professores (num universo de 150 000), em Lisboa, para mostrar a indignação face à forma como estavam a ser desconsiderados pelo Ministério da Educação. Tive a emoção de participar e ainda me comovo quando me vem à memória esse momento único de união.

E.M. Como você gostaria que fosse o ambiente escolar, especialmente, a sala de aula? O que ela, sala de aula, deveria ter para que o trabalho (de educar) fosse melhor aproveitado?
Em primeiro lugar, seria necessário que tanto os professores como os alunos estivessem na sala de aula de corpo e alma, motivados.
Na minha opinião, o que mais contribui para a degradação do ambiente escolar e para o empobrecimento do ensino e das aprendizagens é a indisciplina dentro da sala de aula. Se não forem criadas/impostas condições que permitam que todos possam ouvir e falar nos momentos certos, fica ameaçado o direito de aprender e limitado o trabalho do professor.

E.M. Em sua opinião, qual a razão para tanta violência na escola? Qual o real motivo (sua opinião) para com o desrespeito enfrentado pelos professores durante as aulas?
Concordo com aqueles que defendem que as atitudes dentro da sala são influenciadas pelo que de bom e de mau existe na casa de cada aluno. As disfuncionalidades no seio das famílias e a demissão do seu papel educativo (por negligência ou impotência) são como uma bola de neve que entra pela porta da sala de aula e se abate estrondosamente sobre o professor.
 

E.M. Algumas escolas estão sem segurança e sem liberdade de “punir” o aluno quando necessário, de maneira rígida, porém educativa. O que você pensa sobre o projeto de lei que punir o aluno quando agredir o professor/educador?
Já fui mais tolerante em relação ao assunto. Entendo que o direito que todos os alunos têm de aprender não pode ser posto em causa por aqueles que não respeitam as regras. Assim sendo, embora, por princípio, defenda uma escola inclusa, aceito que pode ser necessário excluir alguns (preferencialmente com medidas educativas) em nome do bem comum.


E.M. O que a motivou a criar um blogue? Qual a finalidade dele?
Gosto de comunicar e o blogue é um meio precioso para o fazer: é imediato e global.
O blogue “Acordo Ortográfico: O que muda?” foi criado no âmbito de uma iniciativa de divulgação do Novo Acordo Ortográfico junto dos alunos, professores, funcionários e famílias dos alunos da minha escola. O sucesso da iniciativa superou rapidamente as fronteiras da comunidade escolar e, atualmente, a maior percentagem de visitas vem do Brasil, muito por influência da visibilidade que advém da inclusão no projeto “Educadores Multiplicadores”.
A finalidade do blogue é divulgar criticamente as regras do Acordo Ortográfico e informar os leitores sobre a respetiva aplicação em Portugal e no Brasil.

E.M. O que você mais gosta na arte de blogar? Qual a parte mais difícil?
Gosto de comunicar e de poder ser útil. Receber cerca de 1000 visitas diárias é um prazer e uma responsabilidade acrescida.
A parte mais difícil é a publicação de mensagens com regularidade, pelo tempo que consome e pelo esforço que invisto para que os textos fiquem apresentáveis, pois, por ser disléxico, “como” letras, sílabas e palavras…

E.M. Seu blogue proporciona parcerias entre blogs, certo? Qual a forma de divulgação que mais gosta de usar para divulgar seu blogue?
Gosto do projeto “Educadores Multiplicadores”, pois centra-se na educação, aproximando os seus membros. Outros espaços (como o Teia ou Dihitt), embora sendo também uma forma interessante de divulgação, são mais generalistas.

E.M. O que você acha das boas parcerias entre blogues?
Quem vê os blogues como uma forma de comunicação não pode ignorar as parcerias. São como uma montra que dá visibilidade ao trabalho de cada um e uma oportunidade de conhecer outros blogues e de aprender.

E.M. Onde você busca inspiração para elaborar suas postagens? Que fontes você costuma pesquisar para embasar suas postagens?
Inspiro-me no mundo que me rodeia: os meios de comunicação, as conversas com amigos, leituras, outros blogues, etc.
Quanto às fontes, consulto gramáticas, os dicionários de Portugal e Brasil, os vocabulários (o do Portal da Língua Portuguesa, em Portugal, e o da Academia Brasileira de Letras), o Ciberdúvidas e alguns blogues portugueses e brasileiros dedicados à língua portuguesa.

E.M. Se você puder nos contar, quais são seus projetos profissionais para 2013?
Dentro de alguns meses, poderei vir a participar num projeto educativo de voluntariado num país africano de língua portuguesa.

E.M. Quais são os projetos para o seu blogue? Você tem outros blogues, quais?
No blogue sobre o Acordo Ortográfico, estou a trabalhar num guia de bolso para o português do Brasil, como já fiz para o português europeu.
Sim, tenho outros blogues. Destaco dois: um dedicado à língua portuguesa
(http://portuguesemforma.blogspot.com) e outro centrado na escrita e na fotografia de (http://imagenscomtextos.blogspot.com).
Mais recentemente, viram a luz do dia mais dois projetos: um dedicado à culinária (http://receitasedicasparasi.blogspot.com) e o último chama-se As palavras têm alma! (http://poesiadita.blogspot.com) e partilha vídeos de poemas em português. Destina-se a alunos, professores e ao público em geral.
 
E.M. Deixe dicas para os Multiplicadores de como um(a) blogueiro(a) deve fazer e do que não deve fazer para ter um bom blogue.
1. Na vida como nos blogues, é essencial amar o que se faz.
2. Tratando-se de comunicação, é importante ser claro na apresentação das ideias. Uma escrita cuidada será sempre apreciada!
3. Se o blogue quer assumir-se como um projeto a longo prazo, não tem sentido copiar de outros blogues. A autenticidade será uma mais-valia. Citando Fernando Pessoa (através do heterónimo Ricardo Reis): “Sê todo em cada coisa. Põe quanto és/No mínimo que fazes.
4. Finalmente, há que aprender com os erros. Se “errar é humano”, corrigir-se é… divino!
 
E.M. Deixe seus agradecimentos aos seus leitores e seguidores.
Em primeiro lugar, obrigado, Irivan, pela confiança que o convite para esta entrevista representa. Aos colegas educadores multiplicadores, agradeço o tempo que investiram na leitura da entrevista, esperando que o meu português europeu não tenha sido um obstáculo para a comunicação das ideias.
Um abraço muito grande e cheio de carinho para todos!

 


Queremos agradecer a você, Multiplicador António, pela entrevista. Dizer que a sua chegado ao E.M., trouxe ganhos de excelente qualidade através de seus comentários, sendo um dos mais atuantes e com isso tem contribuído para o crescimento e divulgação do Educadores Multiplicadores.
Deixo também convites aos professores e profissionais da educação, que tenham blog com conteúdos voltado para a educação, a fazerem parte da família Educadores Multiplicadores.

Muito obrigado a você e aos seus leitores.